A propósito de fio condutor
(...) A sustentabilidade do SNS é um problema a curto prazo. É sabido que entrará em ruptura por falta de verba dentro de alguns anos…
O problema do SNS não é dinheiro, é organização e boa gestão. Temos de ter capacidade de gerir bem e tratar os doentes com aquilo de que necessitam.
É preciso que existam orientações clínicas, que se prescreva apenas o que é necessário e não ir atrás da última moda nem do que “nos vendem” como o melhor. É preciso que haja um combate muito rigoroso ao desperdício e quem anda nos serviços sabe que ele existe. É preciso apagar a luz do serviço quando ela não é necessária, e isso não é feito.
Houve um estudo de sustentabilidade feito pela equipa anterior que apontou que mesmo os serviços melhor geridos ainda tinham condições para melhorar o desperdício.
O rigor nas contas da Saúde, a mudança da gestão dos hospitais para EPE tem vindo a melhorar a eficiência do SNS, o que permitiu que não tenhamos tido nos últimos anos orçamentos rectificativos, que era uma prática de sempre.
Dê-nos alguns exemplos de ineficiência nos serviços…
A prescrição de alguns medicamentos, nomeadamente antibióticos, tem de ser muito rigorosa. Não só porque se trata de medicamentos caros, mas porque se corre o risco de criar resistências aos antibióticos. O uso de alguns antibióticos de última geração, quando existem fármacos mais simples e baratos, é gravíssimo para o SNS.
A prescrição de determinadas substâncias de marca muito dispendiosas, quando existe genérico, é outro exemplo.
O financiamento do SNS deverá manter-se exclusivamente por via dos impostos?
Qual é a outra hipótese? Seguros de saúde? Quem quer ter um seguro de saúde é livre de o fazer, mas a população em geral deste país não tem capacidade para pagar um seguro de saúde que lhe permita ter serviços de saúde quando precisa.
Se se descapitalizar o SNS, corre-se o risco de ter um serviço nacional dos pobres e, portanto, não ter capacidade de desenvolvimento para tratar esses mesmos pobres, e também os ricos que tenham situações graves não contempladas pelos seguros.
O problema do SNS não é dinheiro, é organização e boa gestão. Temos de ter capacidade de gerir bem e tratar os doentes com aquilo de que necessitam.
É preciso que existam orientações clínicas, que se prescreva apenas o que é necessário e não ir atrás da última moda nem do que “nos vendem” como o melhor. É preciso que haja um combate muito rigoroso ao desperdício e quem anda nos serviços sabe que ele existe. É preciso apagar a luz do serviço quando ela não é necessária, e isso não é feito.
Houve um estudo de sustentabilidade feito pela equipa anterior que apontou que mesmo os serviços melhor geridos ainda tinham condições para melhorar o desperdício.
O rigor nas contas da Saúde, a mudança da gestão dos hospitais para EPE tem vindo a melhorar a eficiência do SNS, o que permitiu que não tenhamos tido nos últimos anos orçamentos rectificativos, que era uma prática de sempre.
Dê-nos alguns exemplos de ineficiência nos serviços…
A prescrição de alguns medicamentos, nomeadamente antibióticos, tem de ser muito rigorosa. Não só porque se trata de medicamentos caros, mas porque se corre o risco de criar resistências aos antibióticos. O uso de alguns antibióticos de última geração, quando existem fármacos mais simples e baratos, é gravíssimo para o SNS.
A prescrição de determinadas substâncias de marca muito dispendiosas, quando existe genérico, é outro exemplo.
O financiamento do SNS deverá manter-se exclusivamente por via dos impostos?
Qual é a outra hipótese? Seguros de saúde? Quem quer ter um seguro de saúde é livre de o fazer, mas a população em geral deste país não tem capacidade para pagar um seguro de saúde que lhe permita ter serviços de saúde quando precisa.
Se se descapitalizar o SNS, corre-se o risco de ter um serviço nacional dos pobres e, portanto, não ter capacidade de desenvolvimento para tratar esses mesmos pobres, e também os ricos que tenham situações graves não contempladas pelos seguros.
Entrevista de Ana Jorge, "O Ribatejo", ed. 1194, 19.09.08 link
Um marciano recém chegado à terra, com todo o foguetório lançado a pretexto do livro "Reformas da Saúde.O Fio Condutor", poderia ser levado a pensar que António Correia de Campos ainda é ministro da saúde. Ou antes, que se prepara para regressar à governação do MS, a todo o momento.
Um marciano recém chegado à terra, com todo o foguetório lançado a pretexto do livro "Reformas da Saúde.O Fio Condutor", poderia ser levado a pensar que António Correia de Campos ainda é ministro da saúde. Ou antes, que se prepara para regressar à governação do MS, a todo o momento.
Talvez seja, então, oportuno esclarecer o dito extraterrestre que Ana jorge tem demonstrado saber muito bem, desde início, qual deve ser o fio condutor da reforma da saúde. A firme defesa do SNS. Foi por isso que a ministra da saúde decidiu trazer para a gestão pública o hospital Amadora Sintra (dando cabo com um só golpe do "pipe line" da privatização, alimentado por CC com tanto carinho). E está a conseguir dar continuidade aos projectos de reforma dos quais depende a sobrevivência do Serviço Público.
2 Comments:
Um respeitoso reparo...
Dê-nos alguns exemplos de ineficiência nos serviços…
A prescrição de alguns medicamentos, nomeadamente antibióticos, tem de ser muito rigorosa.
(Drª. Ana Jorge, médica pediatra, Ministra da Saúde)
Quem trabalha nos Hospitais debate-se com, cada vez mais, complexos problemas no controlo de infecções que, há alguns anos, respondiam a antibióticos de espectro "estreito" e, neste momento, apresentam complicadas resistências à terapêutica (mesmo às associações de múltiplos fármacos).
Pondo de parte as infecções nosocomiais, a evolução natural dos antibióticos face às bactérias é esta - a aquisição, mais tarde ou mais cedo, de resistências.
Não se trata de nenhuma aberração, nem é obrigatoriamente consequência de erros de prescrição.
A era da penicilina ruiu.
Tomemos, como exemplo, uma infecção banal a celulite (erisipela). Classicamente, com uma boa resposta à penicilina, nos dias de hoje, resiste a associações de antibióticos (cefalosporinas de 2ª geração, ant. macrocíclicos (Clindamicina) e por vezes o metronidazol.), originando hospitalizações mais ou menos prolongadas e causando danos residuais, de difícil reparação, no tecido cutâneo.
Esta evolução deu-se por ineficiência dos serviços?
A resposta é NÃO !
Sabe-se que a resistência às beta-Lactamases é originada por mutantes das PBP’s.
Em 1946, nos Estados Unidos da América, cerca de 5% de estafilococos isolados de pacientes ou portadores, eram resistentes à penicilina. Nesta altura, há 62 anos, a penicilina era mais difícil de adquirir do que hoje o bom caviar (do Volga).
Mas, como a ministra sugeriu, e sabe, a resistência aos antibióticos pode ter origem em tomas indevidas e irregulares, modificações enzimáticas da bactérias (provocam inactivação dos antibióticos), alterações das vias metabólicas e as conhecidas mutações de virulência adquiridas. Hoje, acreditamos que a resistência aos antimicrobianos é, acima de tudo, um fenómeno genético, relacionado à existência de genes contidos no microrganismo que codificam diferentes mecanismos bioquímicos que impedem a acção dos fármacos…
Claro que erros de posologia, tratamentos de curta duração e indicações terapêuticas aberrantes, também contribuem, mas interessa saber como e onde ocorrem.
Nos serviços hospitalares existe um formulário de medicamentos (há muitos anos organizado pela DCI) e uma Comissão de Farmácia e Terapêutica. Para além disso, é frequente o médico ser inquirido se não quer substituir o fármaco X pelo Y, desde que as indicações sejam sobreponíveis.
As aquisições de fármacos “extra-formulário” têm de ser justificadas e vão a despacho à Direcção clínica.
Portanto, existe neste processo, neste circuito do medicamento hospitalar, um apertado mecanismo de controlo.
Na verdade, é difícil encontrar nos Serviços hospitalares, espaço para o proclamado desperdício na área da prescrição dos antimicrobianos.
Será talvez mais adequado e eficaz desviar a atenção para a auto-medicação ou, por exemplo, a sua aquisição pela Internet, já que originam tomas indevidas e inapropriadas, como dissemos, susceptíveis de causar resistências.
Mas isto passa-se em ambulatório, não nos Serviços como foi referido.
É óbvio que a ministra não é só responsável pela área hospitalar, mas por toda a política de Saúde, e a pedagogia tem sempre lugar. Só que deve poupar os inocentes.
É necessário que quando falamos em desperdícios, o façamos com rigor e pertinência, se não corremos o risco de descredibilizar o conceito e utilizá-lo como um bordão da gestão, despido de qualquer significado real.
É muito pouco! Será o essencial?
O que Ana Jorge responde a propósito da ineficiência dos serviços é muito pouco. É mesmo uma gota de água no oceano.
E talvez nem seja o essencial.
"A prescrição de alguns medicamentos, nomeadamente antibióticos, tem de ser muito rigorosa. Não só porque se trata de medicamentos caros, mas porque se corre o risco de criar resistências aos antibióticos. O uso de alguns antibióticos de última geração, quando existem fármacos mais simples e baratos, é gravíssimo para o SNS.
A prescrição de determinadas substâncias de marca muito dispendiosas, quando existe genérico, é outro exemplo."
Em todo o discurso acima o que sobressai é a preocupação com os custos dos medicamentos e volta-se, indirectamente, ao ataque aos médicos (que prescrevem indevidamente?).
O essencial para combater a ineficiência está na organização e no conhecimento.
E nestes domínios continua a fazer-se muito pouco.
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