quarta-feira, outubro 15

Jorge Simões, entrevista à GH


Gestão Hospitalar (GH)O SNS está moribundo? link
Jorge Simões (JS) – Não. Seguramente que não está!
GHDiz isso com muita certeza. Porquê?
JS – Podemos fazer diferentes tipos de medições para responder a esta quase certeza. Todas essas medições, no entanto, estão relacionadas com os ganhos em saúde. A saúde dos portugueses vai melhorando, de uma forma significativa, embora seja sempre difícil identificar a relação entre os ganhos em saúde e a intervenção do sistema de saúde – mais concretamente do SNS. Por outro lado, o crescimento da despesa dá-nos alguma tranquilidade…
GHComo analisa então o facto de as pessoas, em geral, estarem descontentes com o SNS?
JS – O grau de descontentamento das pessoas, tem de ser analisado com alguma atenção. Regra geral, nós temos uma percepção do sentir das pessoas a partir de aspectos negativos importantes. Mas temos também uma percepção muito positiva daquilo que pensam os cidadãos e os utilizadores. E podemos ir por aí.
Temos, sem dúvida, um problema de acessibilidade, devido à existência de listas de espera, que penaliza a forma como se vê o SNS…
GHNão há como mudar essa situação?
JS – A situação está a mudar. Não há lugar para pessimismos a esse nível. Eu, pelo menos, não tenho essa sensação. Pelo contrário sou muito optimista. Mas tenho optimismo baseado na evidência. Embora não sejam sintomas muito significativos de melhoria, a verdade é que são sinais que apontam para um caminho muito positivo. Repare que estou a falar na questão da acessibilidade, particularmente no que se refere às listas de espera. Se analisarmos os últimos cinco anos, vemos uma melhoria real.
GHSim, mas também tem um tempo demasiado longo para ter acesso a uma consulta externa, nos hospitais – particularmente – e tem uma coisa que até há três ou quatro anos não existia: lista de espera em oncologia….
JS – É verdade. Temos, de facto, espera com alguma importância, em oncologia, nos institutos (Lisboa, Porto e Coimbra). Não temos nos hospitais gerais. Mas seja como for esta situação é grave. É uma verdade que hoje temos patologia oncológica praticamente em todos os serviços e, neste contexto, este problema tem de ser equacionado com muita atenção. Se foi criado um programa especial para cataratas se calhar justifica-se a criação de um programa especial em oncologia…
GHSeja como for, e apesar desses problemas, está feliz com o rumo que o SNS
tem tido?
JS – Não diria feliz, mas optimista. E estou optimista tendo em consideração tudo aquilo que o SNS passou, ao longo da sua vida – com alguns períodos bastante difíceis – e, particularmente, com o rumo que o SNS tem tomado nos último tempos.
GHFalemos da sustentabilidade económica do SNS. Vivemos mais anos e com mais doenças e o Estado não consegue suportar os gastos derivados desta situação. Acha que é necessário mudar o percurso que estamos a seguir? No fundo, acha que cada um de nós deve também ser chamado para arcar com uma parte das responsabilidades financeiras da situação?
JS – Espero bem que não. Isso iria trazer certamente maiores iniquidades à sociedade portuguesa, particularmente à área da Saúde, que iriam penalizar, ainda por cima, as pessoas com baixos rendimentos. Em Portugal, quem tem a seu cargo preocupações sociais deve pensar bem antes de propor soluções desse género.
GHMas então como se resolve o problema? O dinheiro não chega para tudo! Todos gostaríamos de ter o hospital ao pé de casa; um acesso mais rápido às consultas; os medicamentos gratuitos….
JS – Isso pode ser resolvido de uma forma simples de dizer e difícil de aplicar. É simples de dizer porque temos de ser capazes de concretizar, de uma forma franca, o que se pode e o que não se pode disponibilizar. E sempre foi assim, veja o caso da Medicina Dentária e Saúde Oral, em que temos taxas de mais de 90 por cento de utilização dos cidadãos em ambiente privado, uma vez que o SNS a este nível não dá resposta. É preciso dizer de uma forma clara aquilo que o SNS pode dar e o que não pode dar.
Por outro lado, há que ter em atenção algo que nos últimos tempos foi tentado – e com êxito – a redução de gastos no sector, tendo em conta a capacidade financeira do SNS.
GHEm sua opinião, gastamos muito ou pouco com a Saúde?
JS – A resposta é “não sei”…
GHSendo o Professor a dizê-lo é preocupante…
JS – Nós, na verdade, já gastamos um pouco mais de 10 por cento do nosso PIB com a Saúde…
GH Mas o nosso PIB é pequenito…
JS – O nosso PIB é pequeno mas o do Luxemburgo também é pequeno e os luxemburgueses não chegam a este valor. Ou os dinamarqueses. Esse argumento não chega!
Mas nós podemos, enquanto comunidade – e embora a comunidade portuguesa, e outras, se manifestem de maneira débil – definir que a Saúde é a prioridade das prioridades e assumir que vamos canalizar mais recursos para esta área em detrimento de outras. Este é um primeiro comentário. O segundo, é que quando nos comparamos a outros países – quer em relação à despesa, em geral, quer em relação à despesa pública e dos privados – temos de ser conscientes e saber que gastamos mais do que a média da União Europeia (EU). É preciso dizer de uma forma clara aquilo que o SNS pode dar e o que não pode dar. Esse é um valor de referência e, portanto, desse ponto de vista gastamos muito. (...)

entrevista de marina caldas, GH n.º38

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6 Comments:

Blogger tambemquero said...

O apogeu da crença no mercado omnisciente e omnipresente levou Krugman a escrever isto há dois anos: "O modo de vida dos americanos é agora vender casas uns aos outros, com dinheiro emprestado pelos chineses." Estava correcto e o veredicto soou nas últimas semanas: passámos à beira da catástrofe e para evitar o pior vamos gastar muito do dinheiro que antes nos diziam que não tínhamos para a educação, a saúde ou os transportes públicos.
Rui Tavares, jp 14.10.08

4:34 da tarde  
Blogger Joaopedro said...

«GH – Seja como for, e apesar desses problemas, está feliz com o rumo que o SNS
tem tido?
JS – Não diria feliz, mas optimista. E estou optimista tendo em consideração tudo aquilo que o SNS passou, ao longo da sua vida – com alguns períodos bastante difíceis – e, particularmente, com o rumo que o SNS tem tomado nos último tempos.»

Ainda bem que há alguém capaz de nos animar.
É caso para perguntar ao JS se o seu optimismo inclui também a experiência das PPP.

4:44 da tarde  
Blogger Hospitaisepe said...

OE/09 - UMA BOA NOTÍCIA para os DOENTES

O Orçamento que o primeiro-ministro reservou para a Saúde é uma boa notícia para os doentes. Sendo um dos quatro ministérios que viu a dotação aumentar, é expectável que haja folga para acomodar algumas melhorias no relacionamento nem sempre fácil entre os doentes e o seu Serviço Nacional de Saúde. O exemplo mais gritante é, para além da entrada de 80 mil crianças e jovens no plano de saúde oral, o aumento do limite para a despesa do SNS com medicamentos, seja nas farmácias, seja nos hospitais – em ambos os casos o Estado permite-se gastar mais, o que se traduz em mais medicamentos para os doentes.

Por outro lado, a redução de 7.100 camas para 7.000 integradas na rede de cuidados continuados em 2009 (um recuo feito desde domingo) não chega para apagar a nota positiva para o programa, sabendo-se que uma das grandes carências incide no tratamento aos idosos e dependentes.

Para as famílias, portanto, o Orçamento que contempla um aumento de 2,5% na dotação para o SNS (8.100 milhões) e um aumento de 2,4% na despesa total consolidada (8,8 mil milhões) não pode ser recebido como uma má notícia. Essas ficam reservadas para os profissionais do sector: a previsão de despesas com pessoal desce 200 milhões de euros e a margem de comercialização dos medicamentos vai ser revista, de forma a voltar à situação que havia antes das descidas dos preços dos medicamentos. Como o Executivo garante que a factura dos doentes não vai aumentar, isso implica uma consequência: entre a indústria, os distribuidores ou as farmácias, alguém terá a margem de comercialização diminuída.

DE 15.10.08

9:30 da manhã  
Blogger saudepe said...

O nosso PIB é pequenito...
O erotismo da pergunta não prejudicou a qualidade da resposta.
Há, certamente, PIB mais pequenitos...E quem gaste mais e quem gaste menos em Saúde com melhores e piores resultasdos.
Tudo está em saber quanto estamos dispostos gastar em Saúde.
E qual é a nossa capacidade de melhorar a eficiência dos cuidados.
E se neste caso se "small insn´t beautiful", tudo depende do nosso jeitinho em manejar o apertado orçamento da Saúde.

9:46 da manhã  
Blogger Unknown said...

è de bradar aos céus uma revista GH (gestão hospitalar??9 dizer que há tres ou 4 anos não existiam listas de espera oncológicas e o Prof. Jorge Simões a corroborar. é melhor opinarem só sobre o que sabem.?? economia?' gestão?'

7:20 da tarde  
Blogger ochoa said...

Então o plano de saúde da senhora Hillary Clinton não serviu para reforçar o actual plano de Barack Obama?

A senhora jornalista não conseguiu ou não soube dirigir mais perguntas pertinentes (não passou do fait divers) em relação ao relatório da Comissão para a Sustentabilidade do Financiamento do Serviço Nacional de Saúde.
Foi pena.

8:30 da manhã  

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