Morte lenta (2)
MFL no Expresso e o Tavisto no Saudesa "Morte lenta", interpretando partituras bem diferentes como este se encarregou de evidenciar, suscitam a questão das consequências esperáveis (até no desenvolvimento do SNS), da necessidade de reduzir o endividamento do país.
MFL prefere a morte súbita do SNS, diz o Tavisto; e diz também “esta política de meias tintas do PS levará ao mesmo resultado”, sob a forma de morte lenta. O Tavisto saberá, mas eu não sei, se são verdadeiros os pressupostos em que fundamenta qualquer das afirmações e parece, com elas, resumir a questão a simples opção entre PS e PSD. Ora, o que está em causa, e por isso é que volto ao tema, é muito mais e de muitos mais: é de todos nós, e traduz-se em saber se o objectivo incontornável de reduzir a dívida para parâmetros aceitáveis pode ignorar o SNS e, mais genericamente, os serviços e prestações públicas abrangidos pelo chamado sector social.
Sempre lúcido e atento, o Brites lembra-nos que “Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI, afirma que a via para a redução dos défices públicos vai ser extremamente dolorosa e que “sacrifícios sobre salários serão inevitáveis". link Acrescenta ainda Olivier Blanchard que “muitos países podem levar entre 10 a 20 anos para sarar todas as feridas.” Se fosse apenas ele, diríamos que é o tremendismo esperável do FMI; mas não é o caso. Nos últimos dias, para não irmos mais atrás, temos ouvido ou lido sucessivos comentadores, muitos deles insuspeitos (como Medina Carreira, Silva Lopes, Campos e Cunha, Daniel Bessa, Eduardo Catroga, João Duque, João Salgueiro e tantos outros) dizendo a mesma coisa, embora com ligeiras variações, a maior delas de estilo.
MFL prefere a morte súbita do SNS, diz o Tavisto; e diz também “esta política de meias tintas do PS levará ao mesmo resultado”, sob a forma de morte lenta. O Tavisto saberá, mas eu não sei, se são verdadeiros os pressupostos em que fundamenta qualquer das afirmações e parece, com elas, resumir a questão a simples opção entre PS e PSD. Ora, o que está em causa, e por isso é que volto ao tema, é muito mais e de muitos mais: é de todos nós, e traduz-se em saber se o objectivo incontornável de reduzir a dívida para parâmetros aceitáveis pode ignorar o SNS e, mais genericamente, os serviços e prestações públicas abrangidos pelo chamado sector social.
Sempre lúcido e atento, o Brites lembra-nos que “Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI, afirma que a via para a redução dos défices públicos vai ser extremamente dolorosa e que “sacrifícios sobre salários serão inevitáveis". link Acrescenta ainda Olivier Blanchard que “muitos países podem levar entre 10 a 20 anos para sarar todas as feridas.” Se fosse apenas ele, diríamos que é o tremendismo esperável do FMI; mas não é o caso. Nos últimos dias, para não irmos mais atrás, temos ouvido ou lido sucessivos comentadores, muitos deles insuspeitos (como Medina Carreira, Silva Lopes, Campos e Cunha, Daniel Bessa, Eduardo Catroga, João Duque, João Salgueiro e tantos outros) dizendo a mesma coisa, embora com ligeiras variações, a maior delas de estilo.
Pontos de convergência:
- a expressão da dívida, na sua relação com o PIB, e os custos crescentes que dela derivam são tais que reduzi-la é incontornável. O que nos resta para decidir será se guardamos a definição do processo de redução ou se preferimos fazer o que nos for imposto pelos credores;
- a estrutura da dívida pública, cuja maior componente são remunerações do pessoal e prestações sociais, (dívida pública=deficit orçamental e de outras administrações públicas) não deixa margem para que a redução se faça, em tempo útil, sem atingir aquelas componentes (remunerações e prestações sociais), embora não todas por igual; afectará também o sector social, e dentro dele o SNS;
- conclusão final: ou mudamos o entendimento do que chamamos direitos adquiridos ou ficamos sem qualquer direito porque protestos pouco adiantam e para nada servem os que não possam ser efectivados.
Isto o que ouvi ou li nos últimos dias e que, obviamente, está muito longe do que desejaria e me daria, ou nos daria, satisfação. Do que entendi, reforcei ou discordei?
- Que a consideração do tempo, de cada tempo, é mesmo muito importante não só para os políticos como também para os que com eles lidam. Nunca vi tantos, de uns e de outros, a exaltar o valor da sustentabilidade (do SNS e não só, muito longe disso); ou ainda alguém me dirá que é ilusão provocada pelo casting das imagens e das vozes que nos é dado ver e ouvir?
- Não sendo capaz de rebater, terei que aceitar a parte na herança que me vai caber. Sempre entendi que a sustentabilidade do SNS é mesmo um problema. Considero, portanto, que a definição política que deve orientar o SNS não pode ser a mesma em crise ou sem ela. Parece que é mais tempo de sobreviver do que de expandir e a escolha de prioridades ganha relevância, do mesmo modo que são relevantes os sinais transmitidos aos serviços prestadores e aos utentes;
- A este nível micro que é o dos serviços prestadores, as medidas voltadas para o aumento da produtividade (fazer mais e, na medida do possível, melhor sem maiores recursos) parece que fariam todo o sentido. Estou convencido de que essas medidas são conhecidas e nada vou repetir; mas sobre elas nada se ouviu, ou o que houve foram sinais dissonantes. Para dar só um exemplo, propositadamente colhido noutra área, ainda não consegui entender qual a contrapartida do adicional de 480 milhões/ano que custou o acordo com os professores. Não devia ser, mas o Brites concordará que este foi um bom pequeno-almoço grátis;
- Com isto não concordo; não posso concordar que continuem a ser servidos tantos pequenos-almoços grátis, com variadas e suculentas ementas. Nunca, mas muito menos quando a crise é tal como nos apresentam e terá de nos afectar a todos, mesmo aos que menos têm por onde cortar.
- a expressão da dívida, na sua relação com o PIB, e os custos crescentes que dela derivam são tais que reduzi-la é incontornável. O que nos resta para decidir será se guardamos a definição do processo de redução ou se preferimos fazer o que nos for imposto pelos credores;
- a estrutura da dívida pública, cuja maior componente são remunerações do pessoal e prestações sociais, (dívida pública=deficit orçamental e de outras administrações públicas) não deixa margem para que a redução se faça, em tempo útil, sem atingir aquelas componentes (remunerações e prestações sociais), embora não todas por igual; afectará também o sector social, e dentro dele o SNS;
- conclusão final: ou mudamos o entendimento do que chamamos direitos adquiridos ou ficamos sem qualquer direito porque protestos pouco adiantam e para nada servem os que não possam ser efectivados.
Isto o que ouvi ou li nos últimos dias e que, obviamente, está muito longe do que desejaria e me daria, ou nos daria, satisfação. Do que entendi, reforcei ou discordei?
- Que a consideração do tempo, de cada tempo, é mesmo muito importante não só para os políticos como também para os que com eles lidam. Nunca vi tantos, de uns e de outros, a exaltar o valor da sustentabilidade (do SNS e não só, muito longe disso); ou ainda alguém me dirá que é ilusão provocada pelo casting das imagens e das vozes que nos é dado ver e ouvir?
- Não sendo capaz de rebater, terei que aceitar a parte na herança que me vai caber. Sempre entendi que a sustentabilidade do SNS é mesmo um problema. Considero, portanto, que a definição política que deve orientar o SNS não pode ser a mesma em crise ou sem ela. Parece que é mais tempo de sobreviver do que de expandir e a escolha de prioridades ganha relevância, do mesmo modo que são relevantes os sinais transmitidos aos serviços prestadores e aos utentes;
- A este nível micro que é o dos serviços prestadores, as medidas voltadas para o aumento da produtividade (fazer mais e, na medida do possível, melhor sem maiores recursos) parece que fariam todo o sentido. Estou convencido de que essas medidas são conhecidas e nada vou repetir; mas sobre elas nada se ouviu, ou o que houve foram sinais dissonantes. Para dar só um exemplo, propositadamente colhido noutra área, ainda não consegui entender qual a contrapartida do adicional de 480 milhões/ano que custou o acordo com os professores. Não devia ser, mas o Brites concordará que este foi um bom pequeno-almoço grátis;
- Com isto não concordo; não posso concordar que continuem a ser servidos tantos pequenos-almoços grátis, com variadas e suculentas ementas. Nunca, mas muito menos quando a crise é tal como nos apresentam e terá de nos afectar a todos, mesmo aos que menos têm por onde cortar.
Aidenos
2 Comments:
Pequeno almoço, uma ova.
O acordo com os Professores foi mesmo "la grand bouffe".
Porque pode suscitar duvidas, esclareço que título e texto do artigo “Morte Lenta” são da autoria de MFL. Apenas os comentários ao mesmo são da minha responsabilidade.
Quanto ao fim dos pequenos-almoços grátis estamos de acordo, realizem-se eles em torno das mesas PPP, ANF, SUCH, política de convenções do SNS, Corporações Profissionais, ou outras não identificadas.
O que mais se deseja é que o SNS volta ser colocado “on the track”, a salvo de predadores externos e internos. Como me agradaria que António Arnault pudesse ter escolhido para título do seu último livro “SNS 30 anos de Progresso” ao invés de “SNS 30 anos de Resistência”, como veio a suceder.
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