Dá que pensar...
foto "the economist"
tavisto
"...Nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito.
Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá ...vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal".
Eça de Queirós em “As Farpas”
Dá que pensar! Pelos vistos não é só uma questão de regime. Serão as dificuldades que atravessamos resultado de uma questão estrutural? Não falo em razões ingénitas porque não acredito, nem a história o comprova, em povos inferiores.
No período em que Eça escreveu estas palavras o analfabetismo em Portugal era de 78% situando-se em apenas 3% em Inglaterra. A revolução industrial tinha já passado pela maioria dos países do Norte da Europa enquanto o sul mediterrâneo mantinha a ruralidade.
Após uns anos de euforia e de crença na superação dos nossos atavismos, que se seguiram à revolução de Abril, os fantasmas do atraso e subdesenvolvimento, parecem ter voltado. Hoje, em nome de um futuro mais promissor, são-nos pedidos mais sacrifícios como, tem vindo a acontecer de forma recorrente ao longo da nossa história.
Em boa verdade se nada de profundo mudar o actual cenário repetir-se-á. Seremos nós, enquanto Povo, capazes de perceber as nossas debilidades e atalhar o mal pela raiz, ao invés de nos refugiarmos em explicações de inimigos externos ou atirar as culpas todas para cima da classe política, esquecendo-nos que se a nata não é boa é porque o leite é de fraca qualidade?
Talvez que esta crise possa ter o mérito de uma vez por todas nos discutirmos:
Por que convivemos tão facilmente com o chico-espertismo e a corrupção (pequena ou grande), por que invejamos quem foge aos impostos e nos rimos de quem cumpre, por que desprezamos o que é público e apreciamos só o que é privado, por que privilegiamos a inveja ao sucesso, por que temos dificuldade em ouvir o outro, por que vemos a argueiro no vizinho e não vemos a trave no próprio olho, por que …….
Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá ...vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal".
Eça de Queirós em “As Farpas”
Dá que pensar! Pelos vistos não é só uma questão de regime. Serão as dificuldades que atravessamos resultado de uma questão estrutural? Não falo em razões ingénitas porque não acredito, nem a história o comprova, em povos inferiores.
No período em que Eça escreveu estas palavras o analfabetismo em Portugal era de 78% situando-se em apenas 3% em Inglaterra. A revolução industrial tinha já passado pela maioria dos países do Norte da Europa enquanto o sul mediterrâneo mantinha a ruralidade.
Após uns anos de euforia e de crença na superação dos nossos atavismos, que se seguiram à revolução de Abril, os fantasmas do atraso e subdesenvolvimento, parecem ter voltado. Hoje, em nome de um futuro mais promissor, são-nos pedidos mais sacrifícios como, tem vindo a acontecer de forma recorrente ao longo da nossa história.
Em boa verdade se nada de profundo mudar o actual cenário repetir-se-á. Seremos nós, enquanto Povo, capazes de perceber as nossas debilidades e atalhar o mal pela raiz, ao invés de nos refugiarmos em explicações de inimigos externos ou atirar as culpas todas para cima da classe política, esquecendo-nos que se a nata não é boa é porque o leite é de fraca qualidade?
Talvez que esta crise possa ter o mérito de uma vez por todas nos discutirmos:
Por que convivemos tão facilmente com o chico-espertismo e a corrupção (pequena ou grande), por que invejamos quem foge aos impostos e nos rimos de quem cumpre, por que desprezamos o que é público e apreciamos só o que é privado, por que privilegiamos a inveja ao sucesso, por que temos dificuldade em ouvir o outro, por que vemos a argueiro no vizinho e não vemos a trave no próprio olho, por que …….
tavisto
Etiquetas: crise euro, Tá visto
4 Comments:
Caro amigo:
Quem ler Uma Campanha Alegre ( contribuição do Eça para As Farpas , como eu ando actualmente a reler, e se tirar os nomes dos protagonistas da altura , verá que séculos depois os erros e as situações são rigorosamente as mesmas...
Dá que pensar...
A nota introdutória que o Eça escreve dá com a antecipação(?) de séculos o estado deste pequeno brando e asno país...
Pena que os nossos políticos não saibam ler o Eça ou talvez não queiram...
nada de novo, a desgraça já conhecida e esperada...! enfim..
Crise volta a colocar SNS no fio da navalha
por Rute Araújo, Jornal I, 17 de Maio de 2010
A ministra Ana Jorge, que tem governado seguindo o discurso da defesa do serviço público, garante que não haverá "cortes cegos" na saúde. Mas só por milagre a crise deixará tudo igual. São já várias as vozes que afirmam que os tempos obrigarão a uma mudança num sector responsável por uma boa fatia do Orçamento do Estado e que tem as contas a derrapar. O especialista em economia da saúde, Jorge Simões, é um deles. Em declarações ao i, defende medidas austeras ajustadas ao clima de contenção que vão do recuo nos medicamentos gratuitos, à revisão do pagamento de horas extraordinárias aos médicos, passando pelo fecho de serviços de saúde duplicados.
Medicamentos. A nova legislação que altera as regras da comparticipação nos medicamentos foi anunciada em Março e acaba de ser publicada. Mas Jorge Simões defende que, mesmo antes de avançar, já devia ser revista. "Este pacote foi pensado no início de 2010, aconteceram muitas coisas desde então", refere [ver entrevista ao lado]. O exemplo vai para a decisão de fornecer gratuitamente medicamentos aos pensionistas com rendimentos ao nível do salário mínimo ou como incentivo ao consumo de genéricos. Para o professor da Universidade de Aveiro, aplicada a remédios, a palavra "gratuito" é sinónimo de desperdício. Opção melhor seria fazer com que o doente arcasse com uma parte, "mesmo que fosse simbólica", do preço, seguindo o princípio das taxas moderadoras no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Mas os cortes não devem ficar por aqui e podem ser mais estruturais. O especialista, que é um dos responsáveis pela actual elaboração do Plano Nacional de Saúde, refere que o próprio alargamento de serviços de saúde deve ser repensado. Em vez de medidas para reforçar a universalidade do acesso (como apoios à procriação medicamente assistida ou os cheques-dentista), a prioridade deverá ser voltar atrás e centrar os recursos nos cuidados mais precisos.
Pedro Pita Barros defende algo semelhante. O economista da saúde, também responsável pelo estudo sobre a sustentabilidade financeira, diz que "a diminuição do desperdício é sempre um objectivo e há aqui alguma margem ainda a ser ganha apesar de, infelizmente, as últimas notícias, nomeadamente sobre o sector hospitalar, não serem de grande descanso". Mas os problemas a longo prazo não ficam resolvidos. "O crescimento da procura de cuidados de saúde continuará a fazer-se sentir. A médio prazo é necessário actuar sobre o que faz crescer a procura, passando por uma definição clara das terapêuticas e produtos de saúde assegurados". O que, na prática, significa fazer escolhas e decidir que cuidados deve o SNS prestar. Deixando outros de fora.
Conter gastos. As críticas à falta de uma mão forte nas contas surgem dentro do próprio PS. No seu blogue causa-nossa.blogspot.com, com o título "Bomba de Relógio", Vital Moreira escreveu há dias que "só a distracção ou a imprudência política podem ignorar os sinais preocupantes de deterioração da situação financeira do SNS: crescimento excessivo da factura dos medicamentos, défices crescentes dos hospitais, aumento incomportável das despesas de pessoal." Para o eurodeputado socialista, "desde a saída de Correia de Campos que as noções de ganhos de eficiência e de rigor financeiro abandonaram o discurso político da saúde". Se nada mudar, é o próprio SNS que fica em risco. "Ou a situação se inverte, ou caminhamos para uma situação complicada, com efeitos bem nocivos sobre o saneamento das finanças públicas e, pior do que isso, sobre a sustentabilidade financeira do SNS."
OLHARES DA UC - Aprender a poupar com os ricos
Prof. Sérgio Simões
Num cenário instalado de crise económica e financeira, as palavras de ordem são a contenção e a poupança.
Como sempre acontece nestas circunstâncias, a redução dos custos em saúde constitui um dos principais alvos da atenção dos governos.
Neste sector, o peso da despesa com medicamentos tem uma representação significativa no orçamento global do Sistema Nacional de Saúde (SNS), sendo que cerca de 1600 milhões de euros são dispendidos em medicamentos administrados em ambulatório (vendas nas farmácias) enquanto cerca de 900 milhões de euros são gastos em medicamentos hospitalares. A agravar este cenário, todos os estudos apontam para um aumento crescente do consumo de medicamentos nos anos vindouros, muito em consequência do envelhecimento da população.
A redução dos encargos do Estado com os medicamentos representa por isso um objectivo estratégico e incontornável para a contenção da despesa pública, e logo, para a sustentabilidade do próprio SNS.
Promover a generalização da utilização de medicamentos genéricos constitui certamente a prática mais lógica e racional para alcançar tal objectivo.
Estes não são mais do que medicamentos similares (isto é “cópias” legalmente autorizadas) aos medicamentos de referência, assim chamados por terem sido os primeiros a chegar ao mercado e por terem sido aprovados com base em estudos farmacêuticos, pré-clínicos e clínicos. Acresce dizer que a introdução no mercado dos medicamentos genéricos obedece, tal como todos os outros medicamentos, ao rigoroso escrutínio das autoridades competentes, nomeadamente no que respeita à avaliação da sua qualidade.
Resulta, portanto, que os medicamentos genéricos têm a sua qualidade garantida e são equivalentes, do ponto de vista da sua “performance” no organismo humano, aos medicamentos de referência. E pasme-se! Têm um custo que por via de regra é 50% inferior aos ditos medicamentos de referência, ou seja, custam menos de metade do preço.
Perante estas evidências, não seria de admirar que o consumo de medicamentos genéricos constituísse uma prática generalizada, daí resultando uma maior acessibilidade aos medicamentos (em especial por parte de quem tem menores recursos económicos) e uma maior racionalização na comparticipação do Estado nas despesas com medicamentos. Com benefícios e poupanças óbvias para todos.
E, de facto, assim acontece em muitos Países. A título de exemplo, na Alemanha, Reino Unido, Holanda, Dinamarca e EUA, a taxa de penetração de mercado dos medicamentos genéricos é próxima ou mesmo superior aos 60%. Ou seja, em cada 10 medicamentos prescritos, seis são genéricos. Nos EUA, em 2008 uma taxa de substituição de genéricos de 69% possibilitou a poupança de 89,7 mil milhões de euros (IMS Health 2009).
Os países do Sul da Europa (Grécia, Portugal, Espanha, Itália) encontram-se entre aqueles que apresentam menores taxas de adesão aos medicamentos genéricos. Surpreendente! Por serem os que mais precisam deles.
Parece um paradoxo, mas aqui está um bom exemplo em como os pobres poderiam aprender com os ricos a racionalizar custos e a poupar.
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