Eu cá, por mim ...

acabava com os Hospitais Públicos

Tudo indica que os hospitais públicos se converteram numa espécie de bombo da festa do sistema expiando, deste modo, a incompetência dos agentes políticos, as frustrações de muitos actores transformados em “especialistas da observação, da falta de rigor na análise de alguns “jornalistas” de aviário e, claro, servindo a estratégia de erosão que os liberais de pacotilha gizaram para, mais cedo do que tarde, tomarem (finalmente) conta do sistema.

Perante tudo isto a ACSS e o MS permanecem inertes e incapazes de discutir factos, de ensaiar um qualquer tipo de pensamento, de clarificar, enfim, de fazerem algo para que supostamente terão sido designados.

A senhora Ministra persegue o caminho da fé percorrendo, no seu calvário, o martírio da incessante procura da articulação e da esperança apostada que está em fazer política em cima dos chamados activos intangíveis.

Entretanto prossegue a ladainha. O Correio da Manhã faz jus ao nível do seu “jornalismo” e proclama em manchete que os hospitais cortam na comida aos doentes. Já conhecíamos a sanha persecutória, de carácter psicopatológico, deste jornal mas nunca se pensou que fosse tão longe. Na verdade uma coisa é o CM ter como seu que os administradores hospitalares são uma imensa corja de malfeitores cujo único propósito é delapidar o dinheiro público, num estertor de redundante incompetência, outra coisa é acusá-los de querer martirizar (ainda mais) os doentes pela fome.

A este folclore junta-se a pletora de “opinadores” e “especialistas” que nunca tendo tido a responsabilidade de gerir um hospital (a não ser pelas convenientes e fugazes passagens de breves meses para convalidação curricular) aparecem em todo o lado emitindo douto juízo sobre as contas, a performance, o modelo e mais o que aprouver dizer sobre a matéria.

É claro que tudo isto se resolveria se, em vez de se fazer “política” baseada na crença ou na fé, fizéssemos o trabalho de casa, particularmente a ACSS e o MS e respondêssemos a algumas questões para os “observadores” e “opinadores” então se entreterem a dissertar sobre matéria de facto:

- Como compara o desempenho dos hospitais no período 2001-2005 com o período 2006-2009?
- Como são correlacionados os custos com a actividade nos diferentes períodos?
- Qual a componente que, efectivamente, tem maior impacto na evolução dos custos (quanto representa afinal a “inovação” descontrolada e não avaliada)?
- Se não houvesse transformação em EPE qual teria sido o impacto de aquisição de trabalho médico através de empresas?
- Se tivesse havido uma rigidez absoluta na contratação de trabalho médico quais teriam sido as consequências sobre a actividade e a manutenção de serviços no SNS?
- Se tivéssemos mantido o modelo SPS os médicos teriam deixado de se reformar e seriam menos seduzidos pelo sector privado?

Enquanto a ACSS e o MS não cumprirem a sua obrigação de explicação detalhada do que se passa na realidade continuaremos ao sabor dos impulsos opinativos. Entretanto ficamos à espera (de preferência sentados) pelos novos modelos de organização hospitalar, de avaliação dos profissionais e das instituições, pelos sistemas de remuneração indexados ao desempenho global e ao mérito individual, por um sistema de informação exigente, transparente, acessível e auditável, pela profissionalização da gestão, entre muitas outras coisas.

Na verdade chegará o dia em que os hospitais já não serão públicos. Será extinta essa cáfila de gestores públicos e com essa medida a sustentabilidade do sistema de saúde cairá do céu. Até porque, seguramente, a gestão privada fará em Portugal o milagre que nunca conseguiu em nenhuma parte do mundo (até nos Estados Unidos e em tantos outros paraísos do liberalismo e da liberdade de escolha).

O problema está no amadorismo político por um lado e na imensa vontade em gerir três mil milhões de euros por outro. Quanto ao resto não passa de imenso ruído qual vuvuzelas do sistema de saúde.

saloio