Antes de nascer duas vezes, explique-se
Cavaco Silva diz que a sua relação com o BPN foi totalmente esclarecida. É falso. Se quer ver o assunto enterrado esclareça a quem comprou e vendeu as suas ações da SLN e porque as comprou e vendeu ao preço que foi estabelecido. Como justifica a enorme valorização em pouquíssimo tempo?
Pode Cavaco Silva atirar-se para o chão e bramar contra a "campanha suja" que lhe é movida. José Sócrates fez o mesmo número várias vezes. Pode atirar sobre a Caixa Geral de Depósitos para que as atenções deixem de estar centradas nos seus companheiros políticos. Pode limitar-se a dizer muitas vezes que é honesto - como se todos aqueles de quem já suspeitámos não merecessem a mesma presunção. As explicações continuam por dar.
Não vale a pena Cavaco Silva continuar a fingir que o que está a ser debatido são poupanças familiares depositadas num banco. Não é disso que se trata. O que está a ser discutido é o negócio da venda das suas ações da Sociedade Lusa de Negócios, detentora daquele banco, com contornos pouco claros e que deram a si e à sua filha um lucro de 147,5 mil euros e de 209,4 mil euros, respetivamente. Cavaco Silva vendeu 105.378 acções da SLN, que comprara a um euro cada, em 2001, por 2,4 euros, no final de 2003. O mais importante: esta inexplicável valorização foi determinada por contrato, já que a sociedade não estava cotada na bolsa. É esse contrato, elaborado por uma administração composta por pessoas que lhe são próximas (uma delas até foi, depois disto, nomeada por ele para o Conselho de Estado), que se quer conhecer. Não parece legítima esta exigência?
Por enquanto, ninguém pode afirmar que tal venda tenha correspondido a um favor. Mas ninguém pode esquecer a proximidade política de quem tratou deste negócio.
Todos os esclarecimentos que Cavaco Silva deu refugiaram-se na sua relação com o BPN, quando se está a falar de ações da SLN, detentora de um banco cujos resultados financeiros que então eram conhecidos (e na realidade eram bem piores) não podiam justificar esta valorização. No site que o Presidente nos mandou consultar nada é dito sobre este assunto. E tudo o que disse depois foi negar que tinha escondido aquilo que nunca revelou.
O assunto tem relevância política? Claro que tem. O BPN faliu por causa de muitos negócios ruinosos do banco e da SLN. Cavaco Silva participou na decisão de nacionalizar o BPN (que deixou de fora os ativos da SLN) e, depois disso, fez, como Presidente, a defesa pública de Dias Loureiro. Precisamos de saber se o cidadão Cavaco Silva lucrou com um desses negócios que estão a ser pagos com o nosso sacrifício. Se não, assunto encerrado. Se sim, teremos de saber se tinha consciência disso. Se, com o extraordinário retorno que conseguiu, não desconfiou de nada, temos de passar a duvidar do seu suposto conhecimento do mundo das finanças. Se sabia o que estava a acontecer e resolveu ignorar e lucrar com este contrato tão vantajoso, então a coisa é grave.
Cavaco Silva disse que era preciso nascer duas vezes para ser mais honesto do que ele. Presunção em água benta cada um toma a que quer. Mas, no fim de tudo, são os factos que contam. E, até agora, só tivemos evasivas .
Pode Cavaco Silva atirar-se para o chão e bramar contra a "campanha suja" que lhe é movida. José Sócrates fez o mesmo número várias vezes. Pode atirar sobre a Caixa Geral de Depósitos para que as atenções deixem de estar centradas nos seus companheiros políticos. Pode limitar-se a dizer muitas vezes que é honesto - como se todos aqueles de quem já suspeitámos não merecessem a mesma presunção. As explicações continuam por dar.
Não vale a pena Cavaco Silva continuar a fingir que o que está a ser debatido são poupanças familiares depositadas num banco. Não é disso que se trata. O que está a ser discutido é o negócio da venda das suas ações da Sociedade Lusa de Negócios, detentora daquele banco, com contornos pouco claros e que deram a si e à sua filha um lucro de 147,5 mil euros e de 209,4 mil euros, respetivamente. Cavaco Silva vendeu 105.378 acções da SLN, que comprara a um euro cada, em 2001, por 2,4 euros, no final de 2003. O mais importante: esta inexplicável valorização foi determinada por contrato, já que a sociedade não estava cotada na bolsa. É esse contrato, elaborado por uma administração composta por pessoas que lhe são próximas (uma delas até foi, depois disto, nomeada por ele para o Conselho de Estado), que se quer conhecer. Não parece legítima esta exigência?
Por enquanto, ninguém pode afirmar que tal venda tenha correspondido a um favor. Mas ninguém pode esquecer a proximidade política de quem tratou deste negócio.
Todos os esclarecimentos que Cavaco Silva deu refugiaram-se na sua relação com o BPN, quando se está a falar de ações da SLN, detentora de um banco cujos resultados financeiros que então eram conhecidos (e na realidade eram bem piores) não podiam justificar esta valorização. No site que o Presidente nos mandou consultar nada é dito sobre este assunto. E tudo o que disse depois foi negar que tinha escondido aquilo que nunca revelou.
O assunto tem relevância política? Claro que tem. O BPN faliu por causa de muitos negócios ruinosos do banco e da SLN. Cavaco Silva participou na decisão de nacionalizar o BPN (que deixou de fora os ativos da SLN) e, depois disso, fez, como Presidente, a defesa pública de Dias Loureiro. Precisamos de saber se o cidadão Cavaco Silva lucrou com um desses negócios que estão a ser pagos com o nosso sacrifício. Se não, assunto encerrado. Se sim, teremos de saber se tinha consciência disso. Se, com o extraordinário retorno que conseguiu, não desconfiou de nada, temos de passar a duvidar do seu suposto conhecimento do mundo das finanças. Se sabia o que estava a acontecer e resolveu ignorar e lucrar com este contrato tão vantajoso, então a coisa é grave.
Cavaco Silva disse que era preciso nascer duas vezes para ser mais honesto do que ele. Presunção em água benta cada um toma a que quer. Mas, no fim de tudo, são os factos que contam. E, até agora, só tivemos evasivas .
Daniel Oliveira, expresso on line
Etiquetas: Cavaco, Politica, Portugal de Cócoras
8 Comments:
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É fácil falar de má moeda, dos pobres e ganhar numa penada o equivalente a uma vida de trabalho de um português médio, sem mexer uma palha nem nada arriscar. Basta ter um amigo certo, no banco certo.
É esta hipocrisia que eu não consigo perceber. Como pode um povo aceitar este tipo de gente e dar-lhe um voto de confiança, um cheque em branco, para mais 5 anos de cinismo político?
Luiz Carvalho
E quem foi o benemérito comprador, quem foi?
Foi uma empresa chamada SLN Valor, o maior accionista da SLN.
Cito o Expresso online:
«Cavaco Silva e a filha deram ordem de venda das suas acções, em cartas separadas endereçadas ao então presidente da administração da SLN, José Oliveira Costa. Este determinou que as 255.018 acções detidas por ambos fossem vendidas à SLN Valor, a maior accionista da SLN, na qual participam os maiores accionistas individuais desta empresa, entre os quais o próprio Oliveira Costa.»
Ou seja, Oliveira e Costa praticamente ofereceu de mão beijada 72 mil contos de mais-valias à família Cavaco. E se foi Oliveira e Costa também a fixar o preço inicial de compra por Cavaco, então a coisa é perfeitamente clara.
Que terá acontecido entre 2001 e 2003 para as acções de uma empresa que andava a ser importunada pelo Banco de Portugal terem «valorizado» 140 %?
Falta, neste ponto, esclarecer várias coisas, a primeira das quais já vem de trás:
1. a quem comprou Cavaco e a filha as acções?
2. terá sido à própria SLN Valor, que depois as recomprou?
3. porque decidiu Cavaco vendê-las? Não tendo elas cotação no mercado, Cavaco não podia a priori esperar realizar mais-valias.
4. terá tido algum palpite, vindo do interior do universo SLN, só amigos e correligionários, para que vendesse, antes que a coisa fosse por água abaixo?
5. terá sido cheiro a esturro no nariz de Cavaco? Isso é que era bom saber!
6. porque quis a SLN Valor (re)comprar aquelas acções? Tinha poucas?
7. como fixou a SLN valor o preço de compra, com uma taxa de lucro bruto para o vendedor de 140% em dois anos, a lembrar as taxas praticadas pela banqueira do povo D. Branca?
Cavaco Silva sabe muito bem que ganhou milhares de euros à custa de um negócio com acções de um grupo falido cujos termos foram arbitrariamente fixados pelo generoso amigo Oliveira e Costa, sabe muito bem que entre a compra e a venda das acções da SLN este grupo não valorizou os 140% que ganhou com a compra e venda das acções e que na data da sua venda essas acções provavelmente valiam tanto quanto as acções a que se referiu quando era primeiro-ministro, sabe muito bem que o dinheiro que ganhou com as acções da SLN estão agora a ser pagos pelos contribuintes, incluindo os pobres com que tanto se tem preocupado.
Fernando rocha
O futuro é sombrio ´
Tudo se conjuga para gramarmos CS por mais cinco anos.
Personalidade cinzentona, averso à cultura, carreirista, campeão da hipocrisia, incapaz de motivar o mais otptimista dos cidadãos. Um verdadeiro Forrest Gump nacional.
Perante as exigências em tornar público o contrato que valorizou as suas ações da SLN para as revender à mesma sociedade, com lucors extraordinários numa empresa que não os tinha, Cavaco Silva mandou uma pessoa da sua candidatura falar. E falou de quê? De novo das suas poupanças depositadas no BPN, que não são nem nunca foram problema. E dos impostos que pagou, coisa que ninguém pôs em causa.
Das duas uma: ou Cavaco Silva foi repentinamente atacado por dificuldades cognitivas ou julga que as pessoas são idiotas. E está nisto desde que se fala deste estranho negócio: fala-se em alhos e ele responde com bugalhos. E esta teimosia em fingir que não percebe do que se está a falar só faz aumentar as suspeitas. Se se tratam de calúnias e de uma "campanha suja" há-de ser fácil desmontar a coisa. As suas permanentes manobras de diversão é que começam a parecer-se demasiado com um gato escondido com rabo de fora.
Vou voltar a repetir o que está em causa: Cavaco Silva e a filha compraram ações da SLN, empresa detentora do BPN e sem cotação na bolsa. Nem poupanças no BPN, nem impostos. Ações da SLN. Estamos então entendidos? Foi definido, sabe-se lá com que critérios, que o preço dessas ações era de um euro por unidade. Dois anos depois vendeu as mesmas ações por 2,4 euros e teve um lucro de 147,5 mil euros (e 209,4 para a filha). E, ao que se sabe, vendeu-as às SLN Valor. Ou seja, na prática, a quem as tinha comprado. Ações de uma empresa que, mesmo com as contas aldrabadas, dava um lucro insignificante. Quem definiu os preços foram administradores da SLN, pessoas que lhe são próximas e que, graças a negócios deste género, enterraram um banco.
O que disse Alexandre Relvas sobre isto? Rigorosamente nada. Falou de outro assunto, apesar de toda a gente já ter percebido que o assunto de que falou não é o assunto de que se fala. E, claro, não respondeu a perguntas. A única que se fez: vai mostrar o contrato de Cavaco Silva com a SLN? Foi-se embora. Ou seja, ficou tudo na mesma. Apenas com mais um episódio a dar força ao tema que desgasta o Presidente. E com o Presidente a alimentar a esperança que, lançando a confusão, toda a gente se perca.
Como ainda não me perdi na confusão que vai na cabeça de Cavaco Silva, insisto. Porque o assunto não é um pormenor: terá o Presidente emprestado o seu nome, para dar credibilidade à SLN entre os investidores, em troca de uma valorização forçada das suas ações? Assim fica mais claro o que está em causa? Posso estar enganado? Posso. Mas para ter a certeza é preciso que Cavaco Silva se decida a deixar de nos esclarecer sobre aquilo que ninguém lhe perguntou.
Daniel Oliveira, Publicado no Expresso Online
Cavaco Silva bem pode ganhar a releição para Belém "com uma perna às costas". Mas a sua campanha eleitoral está a ficar negativamente marcada pela sua comprometedora recusa em esclarecer as suas alegadas ligações ao BPN, que são de indicustível relevância política e interesse público, e pela sua feia tentativa, no debate com Manuel Alegre, de responsabilizar a administração do banco pós-nacionalização pela sua degradação, esquecendo as verdadeiras responsabilidades de quem anteriormente o instrumentalizou em proveito pessoal e o levou à ruína, onde avultavam conspícuas figuras do cavaquismo governante (anos 80-90).
Caso a estória dissesse respeito a outro candidato com anteriores responsabilidades políticas, será que Cavaco Silva prescindiria de exigir o devido esclarecimento do assunto?
Vital Moreira, causa nossa
A eleição presidencial está transformada numa nova comissão de inquérito ao Banco Português de Negócios. Era previsível que os adversários de Cavaco Silva retomassem o tema e era expectável que o Presidente tivesse uma resposta clara preparada. link
Não tinha. E o que é surpreendente é o facto de continuar a não ter. Optou por justificar-se em suaves mas confusas prestações: primeiro remeteu a resposta para o ‘site' da Presidência, a seguir comparou o BPN com os bancos intervencionados em Inglaterra e na Irlanda, depois saltou para o "problema do modelo" e acabou a criticar os "administradores em part-time". Foi Cavaco, e não os seus adversários, quem colou o BPN na agenda da eleição presidencial. Por tudo isto, Cavaco Silva é o mais duro obstáculo à reeleição de Cavaco Silva. E o caso BPN é como a pasta de dentes: uma vez fora do tubo, não volta a entrar.
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Miguel Coutinho, DE 05.01.11
A estação de Carnaxide garante ter tido acesso à carta que o presidente da República, Cavaco Silva, enviou a Oliveira Costa, então presidente do BPN e da SLN, em Novembro de 2003, com uma ordem de venda das 105.378 acções da SLN que o PR detinha na altura. link
O despacho com o valor de venda das acções, diz a SIC, está assinado pelo próprio José Oliveira Costa, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de Cavaco Silva.
Os títulos, comprados pelo valor unitário de 1 euro, foram vendidas por 2,40 euros, o que significa que Cavaco terá tido uma mais valia superior a 140%.
Qustionado pelos jornalistas que acompanham a sua campanha presidencial, hoje, em Faro, o Presidente da República recusou-se a comentar esta informação
DE 06.01.11
Cavaco borrado de medo com o destaque que o caso BPN estava a ter na campanha terá decidido soltar a informação à SIC com o objectivo de desarmadilhar esta verdadeira bomba.
Vai ficar no entanto provado o envolvimento profundo do PR no caso do BPN.
Temos caso para durar.
Um euro
O grande argumento em favor de Cavaco Silva é o de que outras ações foram vendidas pelo mesmo preço. Como o que interessa é a valorização artificial das suas ações, falta saber se muitos as compraram, na altura que ele as comprou, a um euro. Em defesa de Cavaco, um senhor da SLN disse hoje na TSF que a prova de que as ações valiam o preço a que Cavaco as vendeu é que já eram compradas a preços semelhantes uns anos antes. Ou seja, Cavaco Silva recebeu como presente ações a um preço de saldo. Se assim foi, A SLN garantiu a Cavaco uma enorme valorização à partida, só tendo o felizardo de esperar um ano (prazo para não pagar pelas mais valias) para ter lucro garantido. A pergunta é esta: há almoços grátis e o Pai Natal sempre existe?
Daniel Oliveira
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