quinta-feira, janeiro 27

Velhos amigos

Do site da RTP reproduzo extractos duma notícia relativa à detecção de oito pessoas por suspeita de burla de dois milhões com medicamentos:

“Oito pessoas foram detidas no âmbito da operação da Polícia Judiciária (PJ) junto de 11 farmácias, distribuidores e armazenistas de medicamentos em Lisboa e Loures, referiu fonte policial à Lusa. A fraude está relacionada com medicamentos antipsicóticos e terá lesado o Estado em dois milhões de euros.
O presidente da Associação Nacional de Farmácias acredita que a fraude será muito maior e relacionada com medicamentos mais caros. João Cordeiro sustenta que o atual sistema de emissão e controlo de receitas é arcaico e responsabiliza o antigo ministro da Saúde, Correia de Campos. Cordeiro classificou de “lamentável” a suspensão de um projeto-piloto de receita eletrónica, desenvolvido no distrito em Portalegre.

Eu responsabilizo em termos pessoais o professor Correia de Campos por tudo o que aconteça relativamente a fraudes dentro do setor do medicamento. Efetivamente, a permissividade de todo o sistema é de tal ordem, que só por milagre é que não haverá fraudes", acusou.”

Em declarações á Antena 1, a propósito da não generalização da experiência de Portalegre, o Dr. João Cordeiro chega a fazer esta afirmação espantosa: “Não digo que possa ter contribuído directamente para esta situação de fraude.”
Vontade não lhe faltaria para poder atribuir toda a culpa ao seu inimigo de estimação.
Mas não lhe ouvi uma palavra de repúdio sobre os autores da burla. Para João Cordeiro, pelos vistos, quando há um roubo a culpa é da Polícia.

Ao admitir que a alegada fraude possa ser de maiores dimensões e ao afirmar que só por milagre não haverá mais fraudes, João Cordeiro transmite ao País uma linda imagem do sector farmacêutico

Brites

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8 Comments:

Blogger e-pá! said...

A vultuosa burla [2 milhões de euros ?] que está neste momento sob investigação policial e deverá seguir os trâmites judiciais habituais - segundo relatos da comunicação social - envolve farmácias e centrais de distribuição de medicamentos. Todavia, existe a sensação de que [ainda] haverá muito por esclarecer. Aguardemos...

A reacção da ANF acerca desta burla é infame. De facto, só a Ordem dos Farmacêuticos se mostrou disponível para investigar as questões deontológicas dos farmacêuticos eventualmente envolvidos neste caso. A rábula de João Cordeiro acerca de eventuais responsabilidades de Correia de Campos na génese destes casos não passa de uma manobra de diversão e um atirar de areia para os olhos dos contribuintes, sustentáculo financeiro do SNS. Ninguém pode aceitar o grotesco princípio de que "é a ocasião que faz o ladrão"… Na verdade, o roubo é que faz o ladrão.

Mas há um outro lado da questão. A implementação por parte do MS do mecanismos que previnam e/ou detectem precocemente estas situações dolosas.
Na verdade, como aconselha o Tribunal de Contas, o MS tem de desenvolver rapidamente e com rigor a "conferência electrónica" das prescrições. link

O Centro de Conferência de Facturas da Maia, inaugurado com pompa e circunstância em Março de 2010, resulta numa mera fusão de serviços, não tendo sido acrescentada nenhuma eficácia e, ao que parece, nem sequer racionalizou custos. Uma medida de fachada do MS que não foi precedida por outras complementares [prescrição e facturação electrónica, rede nacional de entidades prescritoras, etc.] a serem estudadas, sistematizadas e testadas pelos diferentes actores que intervêm na extensa cadeia processual relacionada com a prescrição médica. Sem fazer - atempadamente e com critérios sequenciais das prioridades - o trabalho de casa, é óbvio que a eficiência desse Centro será um acidente ou, como com o decorrer do tempo constataremos, uma mera fantasia.

Mais um exemplo típico do velho aforismo: “andar com o carro à frente dos bois ...”

11:27 da manhã  
Blogger ochoa said...

Há uma série de cromos nacionais que deviam desaparecer da vez.
Pinto da Costa, Valentim Loureiro, Marques Mendes, Manuel Alegre, Giberto Madail, Cavaco Silva, Maria Cavaco Silva, Maria de Belém Roseira, Pacheco Pereira, António Barreto, Vasco Pulido Valente, Isaltino de Morais, Angelo Correia, Catarina Furtado, Fátima Campos Ferreira, Mário Crespo, Maria João Avillez, Ana Jorge, Francisco George, Manuela Moura Guedes, Belmiro de Azevedo, Teixeira dos Sandos, e naturalmente João Cordeiro e Correia de Campos... and so on ...

O ar ficaria certamente mais respirável.

9:35 da tarde  
Blogger tambemquero said...

O Serviço Nacional de Saúde poderá ter sido induzido a pagar dez milhões de euros, link através de uma fraude detectada pela Central de Conferências de Facturas há cerca de três meses, que está a ser investigada pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) da Polícia Judiciária, que deteve anteontem os quatro administradores de uma empresa distribuidora de medicamentos e os donos e directores técnicos de farmácias situadas em Lisboa. Os dados já apurados pelos investigadores atingem os três milhões de euros e a operação desencadeada esta semana visou pôr fim a uma hemorragia financeira de grandes proporções.

Os oito arguidos estão proibidos de contactar entre si, de se ausentar para o estrangeiro e têm de se apresentar semanalmente no posto policial mais próximo da sua residência. O despacho do juiz Carlos Alexandre de anteontem à noite, que procedeu ao primeiro interrogatório dos detidos pela UNCC, impôs ainda a dois dos arguidos a prestação de cauções patrimoniais: uma de 50 mil euros e outra de 20 mil euros. As investigações prosseguem visando apurar se o fenómeno tem ou não dimensão nacional e o papel dos médicos que prescreveram as receitas.

Numa operação de rotina, a Central de Conferências de Facturas do SNS verificou vendas anormais de vários fármacos, cujo preço oscila entre os 199 e os 299 euros, nomeadamente de uma injecção que é administrada quinzenalmente a doentes afectados pela esquizofrenia. A situação foi aprofundada e o Ministério da Saúde apresentou uma queixa no Departamento Central de Investigação e de Acção Penal, que delegou na UNCC as investigações.

Com base nos primeiros dados, os investigadores começaram a reconstituir o âmbito da fraude e a recolha dos indícios colocou duas farmácias e a empresa distribuidora do fármaco sob suspeita. O aviamento das receitas era feito através de estafetas de empresas de transportes e entrega de encomendas que iam às farmácias, levantavam os medicamentos e os entregavam para serem colocados num espaço refrigerado. Pouco depois, as embalagens dos quatro medicamentos regressavam às farmácias, de onde saíam quando ali chegava o estafeta contratado com a receita. Num caso, apurou o PÚBLICO, a mesma embalagem terá sido vendida e debitada ao SNS cerca de meia centena de vezes.

Através do tratamento de dados relativos ao pagamento dos medicamentos, os quatro com comparticipação de 100 por cento, os responsáveis da Central de Conferência das Facturas e os investigadores da UNCC detectaram os valores dos medicamentos naquelas duas farmácias. Verificaram ainda que o número de embalagens alegadamente vendidas era muito superior ao das que eram produzidas ou adquiridas pela empresa distribuidora dos fármacos.

As pesquisas prosseguem, tendo já sido detectados picos de venda daqueles fármacos em outros pontos do país, o que poderá indiciar que a fraude não se restringiu à Área Metropolitana de Lisboa.

O receituário aviado também está a ser analisado com detalhe, tendo já sido constatado que, na maior parte das situações, o nome colocado na receita era de um utente do Serviço Nacional de Saúde que não padecia de esquizofrenia. Uma explicação possível para este facto poderá ter sido evitar que o controlo do receituário detectasse dupla medicação de um medicamento com toma quinzenal, através de uma injecção intravenosa. Os investigadores estão também a verificar se os médicos que assinaram as receitas o fizeram de motu proprio ou se as respectivas assinaturas e vinhetas terão sido usadas por terceiros.

2:45 da tarde  
Blogger Azrael said...

"Mas não lhe ouvi uma palavra de repúdio sobre os autores da burla."

Ah, mas então já se sabe a sentença? Já se apuraram os culpados? Muito me conta...

"Para João Cordeiro, pelos vistos, quando há um roubo a culpa é da Polícia."

Julgo que a comparação que queria fazer era "quando há um roubo a culpa é de quem deixa as portas abertas para o ladrão" que, parece-me ter um fundo de verdade pois a maior parte das pessoas tende a não deixar as portas de suas casas abertas, digo eu que me tento reger pelas leis da lógica.

"A reacção da ANF acerca desta burla é infame. De facto, só a Ordem dos Farmacêuticos se mostrou disponível para investigar as questões deontológicas..."

Julgo que não compete à ANF investigar as questões deontológicas deste ou daquele cargo, mas se dúvidas houverem sobre para onde pende a ética da ANF, fiquem a saber que sempre que é detectada uma subida anormal de facturação ou fraude numa farmácia, o MS é imediatamente notificado.

3:11 da tarde  
Blogger Azrael said...

@ ochoa: só falta ai o pedro nunes

3:12 da tarde  
Blogger saudepe said...

O Correia de Campos, mais elegante em comparação com o seu comparsa da ANF parece um dançarino.
Talentoso, como se viu na recente campanha para a Presidência da República.

4:31 da tarde  
Blogger PhysiaTriste said...

“Mas não lhe ouvi uma palavra de repúdio sobre os autores da burla.”

Quando utilizei esta expressão fi-lo em termos abstractos. Quem quer que tenha praticado a burla merece tácito repúdio. Condenar os culpados é evidentemente tarefa dos tribunais.

“quando há um roubo a culpa é de quem deixa as portas abertas para o ladrão"

Este relativismo moral impressiona-me.
Como disse exemplarmente é-pá!

“Ninguém pode aceitar o grotesco princípio de que "é a ocasião que faz o ladrão"… Na verdade, o roubo é que faz o ladrão.

10:05 da tarde  
Blogger Azrael said...

"Este relativismo moral impressiona-me.
Como disse exemplarmente é-pá!"

Não descontextualize. Eu disse que a frase correcta, na analogia que fez, deveria ser "Para João Cordeiro, pelos vistos, quando há um roubo a culpa é de quem deixa as portas abertas para o ladrão" porque ele está a culpabilizar o Correia de Campos e este não é comparável à polícia (não está a investigar coisa nenhuma nem é regulador, pelo contrário é mais bem definido como desregulador) mas sim como a pessoa que abriu as portas ao ladrão.

Obviamente que a culpa é de quem rouba. O que não está correcto é a comparação de correia de campos à polícia na sua analogia.

"Quem quer que tenha praticado a burla merece tácito repúdio."

Concordo plenamente

10:49 da tarde  

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