SNS, melhorar o seu funcionamento
Ultimamente têm surgido algumas receitas para modificar o SNS que mais parecem pretender convertê-lo num sistema Bismarckiano. Talvez porque, durante um certo tempo, se entendeu que estes serviriam melhor as populações; maior flexibilidade e adaptação às necessidades dos consumidores e maior eficiência técnica.
No Nouvel Observateur, de 12-18 Maio, há um artigo sobre saúde que reflecte bem o que se passa em Fança. Vou resumi-lo de forma livre, mas pensando manter-me fiel ao conteúdo do mesmo.
Comecemos então por duas breves histórias:
História 1.
Com a sua diabetes, nenhuma inquietação: é uma doença grave. Tudo é reembolsado. É pelo resto que Josiane se esfalfa. As costas, a anca, os olhos, os dentes…Renunciou à mútua no dia em que a tarifa ultrapassou os cem euros por mês. Então, adia sem cessar as sessões de fisioterapia. Atrasa a altura de ir à radiologia. Sempre o dinheiro que tem de desembolsar, as franquias a pagar. 800 euros de reforma para esta senhora, antiga empregada de hotel, é demais para ter direito à CMU (cobertura de doença universal), insuficiente para tratar todas as misérias sem ligação com a sua diabetes. Aos 68 anos Josiane apoia-se numa canadiana para calcorrear as ruas do seu bairro parisiense, o 20º. A sua dentadura? Abandonada numa gaveta. Já não lhe serve. Ela sorri, boca fechada. Quanto aos óculos, na falta dos 300 euros necessários para as lentes prescritas renunciou a eles. Para ler o seu “France-Dimanche” , as lupas da farmácia a 10 euros são suficientes.
História 2
Mohamed El Haimer, farmacêutico em Bobinhy, conhece os doentes indecisos, receita numa mão, calculadora na outra. “64,80 euros de broncodilatador para um mês, reembolsado a 65%?Isso vai-me custar 23 euros? Tanto pior, não o levo”, diz aquele, prestes a arriscar uma crise de asma.
São apenas duas histórias que poderiam ter pouco significado. Acontece que 4,5 milhões de franceses vivem assim, sem uma rede de segurança complementar, alguns por escolha, mas três quartos porque ultrapassaram os 634 euros, mínimo abaixo do qual se tem direito à CMU.
Segundo o barómetro LH2-Ciss, 23% dos Franceses renunciaram já aos cuidados.
Não podemos estranhar, mesmo que isso tenha a ver com múltiplos outros factores, as diferenças nos resultados em saúde.
A esperança de vida de um quadro de 35 anos, é de 82 anos, enquanto para um operário baixa para 76 anos. O risco, para um homem de 35 anos, de morrer antes dos 65 anos é de um sobre dez, se for um quadro, de 1 sobre quatro se for um operário.
Pierre Lombrail, professor de saúde pública em Nantes deplora a “organização curativa do sistema”, “porque é a montante da patologia que se joga em parte a nossa saúde.”
Os regimes de seguro caracterizam-se pelo sobre consumo de cuidados e um custo acrescido para a sociedade. O artigo do Nouvel Observateur mostra-nos como, num país bem mais rico que Portugal, aquele sistema está rapidamente a criar uma saúde a duas velocidades.
A matriz organizacional portuguesa, assente em dois níveis de cuidados, o primeiro inserido na Comunidade, de acesso imediato e desburocratizado e o segundo de acesso referenciado, salvo nos casos de Urgência, está teoricamente correcta.
E, se os resultados não são os que pretendemos, a solução não está em mudar de modelo. Está, ao invés, em melhorar o seu funcionamento.
Brites
No Nouvel Observateur, de 12-18 Maio, há um artigo sobre saúde que reflecte bem o que se passa em Fança. Vou resumi-lo de forma livre, mas pensando manter-me fiel ao conteúdo do mesmo.
Comecemos então por duas breves histórias:
História 1.
Com a sua diabetes, nenhuma inquietação: é uma doença grave. Tudo é reembolsado. É pelo resto que Josiane se esfalfa. As costas, a anca, os olhos, os dentes…Renunciou à mútua no dia em que a tarifa ultrapassou os cem euros por mês. Então, adia sem cessar as sessões de fisioterapia. Atrasa a altura de ir à radiologia. Sempre o dinheiro que tem de desembolsar, as franquias a pagar. 800 euros de reforma para esta senhora, antiga empregada de hotel, é demais para ter direito à CMU (cobertura de doença universal), insuficiente para tratar todas as misérias sem ligação com a sua diabetes. Aos 68 anos Josiane apoia-se numa canadiana para calcorrear as ruas do seu bairro parisiense, o 20º. A sua dentadura? Abandonada numa gaveta. Já não lhe serve. Ela sorri, boca fechada. Quanto aos óculos, na falta dos 300 euros necessários para as lentes prescritas renunciou a eles. Para ler o seu “France-Dimanche” , as lupas da farmácia a 10 euros são suficientes.
História 2
Mohamed El Haimer, farmacêutico em Bobinhy, conhece os doentes indecisos, receita numa mão, calculadora na outra. “64,80 euros de broncodilatador para um mês, reembolsado a 65%?Isso vai-me custar 23 euros? Tanto pior, não o levo”, diz aquele, prestes a arriscar uma crise de asma.
São apenas duas histórias que poderiam ter pouco significado. Acontece que 4,5 milhões de franceses vivem assim, sem uma rede de segurança complementar, alguns por escolha, mas três quartos porque ultrapassaram os 634 euros, mínimo abaixo do qual se tem direito à CMU.
Segundo o barómetro LH2-Ciss, 23% dos Franceses renunciaram já aos cuidados.
Não podemos estranhar, mesmo que isso tenha a ver com múltiplos outros factores, as diferenças nos resultados em saúde.
A esperança de vida de um quadro de 35 anos, é de 82 anos, enquanto para um operário baixa para 76 anos. O risco, para um homem de 35 anos, de morrer antes dos 65 anos é de um sobre dez, se for um quadro, de 1 sobre quatro se for um operário.
Pierre Lombrail, professor de saúde pública em Nantes deplora a “organização curativa do sistema”, “porque é a montante da patologia que se joga em parte a nossa saúde.”
Os regimes de seguro caracterizam-se pelo sobre consumo de cuidados e um custo acrescido para a sociedade. O artigo do Nouvel Observateur mostra-nos como, num país bem mais rico que Portugal, aquele sistema está rapidamente a criar uma saúde a duas velocidades.
A matriz organizacional portuguesa, assente em dois níveis de cuidados, o primeiro inserido na Comunidade, de acesso imediato e desburocratizado e o segundo de acesso referenciado, salvo nos casos de Urgência, está teoricamente correcta.
E, se os resultados não são os que pretendemos, a solução não está em mudar de modelo. Está, ao invés, em melhorar o seu funcionamento.
Brites
Etiquetas: Brites, Crise e politica de saúde, s.n.s
2 Comments:
Excelente post.
Aqui está!
Os liberais de pacotilha querem atropelar o actual modelo unicamente para satisfazer as necessidades de negócio dos amigalhaços que desataram a investir sem senso na saúde.
Excelente post.
Lucidez, visão e objectividade qb. Nos dias que correm não são atributos que se têm visto muito cá pelo rectângulo...
Badde retro
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