Tiros no Pé
Numa altura em que os liberais de pacotilha preparam o assalto ao SNS o Relatório da Primavera 2011 do OPSS link representa um autêntico tiro no pé do serviço público de saúde.
Foi ver, nestes últimos dias, comentadores e comentaristas de serviço numa excitação exaltante a cavalgar a “desgraça” relatada pelo relatório.
Não tendo tido ainda ocasião de o ler confesso que desconheço se existirá alguma análise sobre o “admirável mundo novo” do sector privado. Presumo que não. Até porque nesse sector tal como nas misericórdias prevalece única e exclusivamente o esplendor da eficiência, da eficácia e da excelência.
Voltando às réplicas do tsunami RP 2011, análises precipitadas podem, por vezes, conduzir a conclusões erradas. A reacção violenta da ARS do Norte e do presidente do S. João que, inclusivamente, ameaçou pôr tudo em tribunal não dignificam o SNS e desvalorizam o próprio RP 2011.
À beira da tomada de posse do governo mais liberal da nossa história vemos entregar de bandeja, por parte de quem teria obrigação de prudência e de defesa do serviço público, um naipe de argumentos saborosos para repasto do jornalismo pós-yuppie e dos comerciantes do sector.
Lá iremos ter a provável futura SE da Saúde, Dra. Isabel Galriça Neto, a evocar os apocalípticos pareceres e opiniões inscritos no RP 2011 como argumentário para destruir o SNS.
Faz tanta falta a experiência do terreno a certos “treinadores de bancada”…
Pobre SNS com amigos assim…
Foi ver, nestes últimos dias, comentadores e comentaristas de serviço numa excitação exaltante a cavalgar a “desgraça” relatada pelo relatório.
Não tendo tido ainda ocasião de o ler confesso que desconheço se existirá alguma análise sobre o “admirável mundo novo” do sector privado. Presumo que não. Até porque nesse sector tal como nas misericórdias prevalece única e exclusivamente o esplendor da eficiência, da eficácia e da excelência.
Voltando às réplicas do tsunami RP 2011, análises precipitadas podem, por vezes, conduzir a conclusões erradas. A reacção violenta da ARS do Norte e do presidente do S. João que, inclusivamente, ameaçou pôr tudo em tribunal não dignificam o SNS e desvalorizam o próprio RP 2011.
À beira da tomada de posse do governo mais liberal da nossa história vemos entregar de bandeja, por parte de quem teria obrigação de prudência e de defesa do serviço público, um naipe de argumentos saborosos para repasto do jornalismo pós-yuppie e dos comerciantes do sector.
Lá iremos ter a provável futura SE da Saúde, Dra. Isabel Galriça Neto, a evocar os apocalípticos pareceres e opiniões inscritos no RP 2011 como argumentário para destruir o SNS.
Faz tanta falta a experiência do terreno a certos “treinadores de bancada”…
Pobre SNS com amigos assim…
Olinda
Etiquetas: liberais pacotilha, The day after
11 Comments:
Somos assim. Criticar é fácil
Desde a sua criação o OPSS tem produzido análise e informação sobre o Sistema (ou sistemas) de Saúde, de inegável interesse. Como em tudo na vida, o seu trabalho estará longe da perfeição.
E não se ignora que o OPSS para além do trabalho científico que se propôs desenvolver desde a sua criação, não está imune a esta ou aquela influência ou pressão, de origens diversas.
No entanto, é genericamente reconhecido que os seus principais responsáveis são pessoas com provas dadas e de reconhecido mérito, técnico e científico, no desempenho das mais variadas tarefas no âmbito da Saúde. Conhecem o Sistema de Saúde por dentro e desempenham funções académicas nas mais presigiadas escolas do País.
Por outro lado a rede de instituições associadas e patrocinadoras do OPSS são, em si mesmas, merecedoras de crédito.
Os relatórios do OPSS, como sabemos (e é bom termos memória) umas vezes são aplaudidos pelo poder político (titulares da pasta da saúde) outras vezes criticados. Umas vezes com razão, outras provavelmente sem ela.
Nunca porém se assistiu a algo como o que hoje foi notícia; ao ponto de se colocar em causa a boa-fé e a competência dos responsáveis/ autores/colaboradores do Relatório, ameaçando mesmo com o recurso aos tribunais.
Os próximos dias poderão trazer algum esclareciemnto sobre esta polémica. Mas uma coisa é certa: os portugueses continuam a esperar demasiado tempo para serem atendidos em consultas de especialidade e determinados tipos de cirurgias. Não iludamos pois os problemas e não acusemos de desonestidade, por mero oportunismo político e/ou defesa de interesses pessoais, aqueles que noutras ocasiões (outros relatórios) nos mereceram rasgados elogios e fartos aplausos.
Somos assim: invejosos e exímios a criticar; porque criticar é fácil...
Ana Escoval esclareceu que, durante o trabalho, o observatório chamou a atenção para inconsistências que foram corrigidas. "Não inventámos dados, são dados fornecidos pela tutela. Tem de haver uma cultura de maior transparência e monitorização dos dados. Se há incorrecções devem ser corrigidas, mas as bases de dados têm de estar a funcionar."
...
Apesar de todas as incongruências encontradas como diz AE, não se coibiram de publicar os trabalhos com semelhantes disparates.
Uma decisão infeliz, impossível de suceder no tempo em que Sakellarides era responsável pela elaboração do relatório do OPSS.
A qualidade do relatório tem vindo a decair de ano para ano.
Faltava acontecer uma escandaleira destas.
Sakellarides deve sentir-se triste e chocado com o destino que foi dado à sua obra.
Os dirigentes da Administração Regional de Saúde (ARS) e de 12 dos 15 hospitais do Norte contestaram ontem com veemência os números sobre tempos de espera para consultas e cirurgias divulgados pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde. Os dados estão “errados e constituem uma distorção grosseira da realidade”, defendeu em conferência de imprensa o presidente da ARS-Norte, Fernando Araújo, para quem o facto de o Observatório não se ter dado ao trabalho de validar os números pode traduzir “incompetência ou má-fé”.
O presidente do Hospital de São João (Porto) admitiu mesmo a hipótese de avançar com uma acção judicial contra o Observatório. É que, ao contrário do que vinha noticiado na comunicação social – que aludia a tempos de espera média de 1030 dias por uma consulta de Gastrenterologia no ano passado nesta unidade de saúde –, a mediana de espera (casos mais frequentes) é de 90 dias e nenhum doente aguarda mais de um ano por uma consulta nesta especialidade, garante a ARS. Também no Hospital de Santo António, a demora média por uma cirurgia de Urologia é de 2,2 meses, bem longe dos 1218 dias referidos. A disparidade com a realidade “é confrangedora”, sublinhou Fernando Araújo, que lembra que, no relatório apresentado em Março deste ano pelo Ministério da Saúde, a Região Norte até era a que apresentava menores tempos de espera para cirurgia no país, logo a seguir ao Algarve. “A disponibilização destes dados [do Observatório] de forma parcial e distorcida contribui para um ambiente injustificado de ansiedade para os cidadãos, desmotiva os profissionais e descredibiliza as instituições”, lamentou.
Reconhecendo que o acesso a consultas da especialidade “é a área onde há mais trabalho a fazer”, o secretário de Estado adjunto e da Saúde, Manuel Pizarro, lembrou que muitos dos dados das médias de espera estão deturpados pela não limpeza de doentes já atendidos, mas que continuam na base de dados, e ainda por “erros informáticos”. De qualquer forma, notou que os números da espera para as primeiras consultas são iguais aos de 2009, com a diferença que a produtividade aumentou – de dois milhões em 2005 para 3,1 milhões em 2010. “Há uma melhoria global do acesso à consulta hospitalar. Em média, um cidadão português espera 82 dias por uma consulta num hospital. Em 2009, esperava 88 dias”, disse, à margem da apresentação do relatório. Segundo o Observatório, a espera média era de quase um ano (361,5 dias).
jp 16.06.11
Como vai ficar a saúde em Portugal depois da aplicação das medidas impostas pela troika? As experiências da Grécia e da Irlanda são o que de mais próximo se pode conhecer do futuro e as notícias não são animadoras: na Irlanda pós-FMI, o Governo decidiu, por exemplo, que as pessoas “ricas” com mais de 70 anos passam a ter que pagar pelos seus cuidados de saúde no sistema público. As experiências foram contadas ontem durante a apresentação do relatório do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, que analisa o resultado das políticas de saúde do ano anterior, mas que este ano se preocupou também com o futuro.
Steve Thomas, investigador de políticas de saúde do Trinity College Dublin, disse que a história das medidas impostas pela troika (que junta elementos da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional) na Irlanda ainda está em curso mas que já se sente o seu impacto na saúde: a redução de 500 camas dos hospitais, o aumento das listas de espera em nove por cento, as reduções de salários de profissionais entre os cinco e os 15 por cento.
Mas o investigador irlandês notou que o Governo actual está a tentar aproveitar a crise para repensar o sistema e introduzir um novo modelo que poderá assentar mais na cobertura com seguros de saúde privados. Se o conseguirá fazer é algo que ainda é incerto, disse.
Babis Economous, professor da Panteion University, em Atenas, contou, por seu lado, que está em curso a introdução da prescrição electrónica como forma de controlar os enormes gastos com medicamentos, e que foram aumentados os impostos no álcool e tabaco. O docente nota que os problemas do sistema de saúde grego não são resultado da crise – “são estruturais”. O investigador explicou, por exemplo, que no país os médicos ganham mal e é usual haver “pagamentos informais”, até existe a expressão “o envelope”, referindo-se ao dinheiro que é pago à parte aos médicos.
Em Portugal, ainda tudo é incerto. Num relatório que este ano analisa o impacto futuro das medidas da troika, o observatório português traçou dois cenários possíveis: num, mais optimista, a crise surge como oportunidade de mudança; noutro, resultaria num sistema em que se “paga cada vez mais por cada vez menos”. O relatório nota que haverá a tentação “de substituir medidas mais impopulares” pela imposição de mais pagamentos directos e a redução de serviços, resumiu uma das autoras do documento, Ana Escoval, docente da Escola Nacional de Saúde Pública.
Medidas retiradas
Philipa Mladovsky, do Observatório Europeu dos Sistemas de Saúde, notou que em vários países muitas medidas postas em prática em contexto da crise “foram depois retiradas devido à sua impopularidade, sobretudo junto dos médicos”.
É aos “interesses particulares – económicos e profissionais –, que se sobrepõem muito frequentemente ao interesse geral”, que o observatório atribui o facto de muitas das medidas do memorando de entendimento, vistas por muitos como úteis e necessárias, não terem sido postas em prática por nenhum Governo.
Maria de Belém, deputada socialista, diz que a culpa da sua aplicação não pertence apenas aos governos, também é “dos agentes do sector, que têm uma força superior aos governos”, sublinhou. “Nada desculpa as elites da saúde”.
O ainda secretário de Estado adjunto e da Saúde, Manuel Pizarro, afirmou que “todos estão de acordo” enquanto as medidas são genéricas. Este governante deu o exemplo da necessidade de concentrar serviços na saúde, em que há consenso, mas depois, na aplicação, “acham que a concentração deve ser feita nos sítios onde eles trabalham e não nos outros locais”.
JP 16.06.11
Uma crítica rasgadinha vinha mesmo a calhar numa altura destas.
Tiveram azar.
Os gestores da saúde já não são os saloios, os coitadinhos, doutros tempos. E contestaram cheios de razão em cima do acontecimento.
Impõe-se o encerramento desta feira anual de vaidades. Deixem a investigação para os investigadores.
Tonitosa, continue assim que o PPC dá-lhe um doce.
Dois. Da coligação.
Quais Fénix renascidas das cinzas do degredo político ressurgem os comentadores “adormecidos” do “novo (velho) regime”. Compungidos, pesarosos, vertendo “lágrimas de crocodilo” não hesitam em exaltar a diligente competência do OPSS ora tão injustamente criticado por ter (aparentemente) falhado. Ainda por cima uma falha tão saborosa quanto conveniente para aqueles que vivem atormentados pela desforra vingativa da purga e do desterro. Nostálgicos de Luís Filipe Pereira, da sua obra e dos seus desígnios ei-los que emergem no débito opinativo enquanto aguardam a reconquista do espaço público para o apoucar e destruir.
Reflictam nas palavras do vice-lider, Paulo Portas. Poupem-nos aos exercícios gratuitos de cinismo primário.
Haja decoro, recato e decência.
Depois de ouvir as explicações sobre as discrepâncias verificadas nos resultados apresentados pela OPSS, baseados em informações da ACSS, e os reclamados pelos hospitais/ARS, sobre tempos de espera em primeira consulta hospitalar, ficamos mais descansados. Afinal tudo não passa de um equívoco, as diferenças resultam de bases de dados desactualizadas e não expurgadas de “falsas consultas” e da incompetência estatística da OPSS que, ao invés de utilizar como medida a mediana do tempo de espera, se deixou seduzir pelos extremos apresentando tempos máximos.
O problema é que toda esta leviandade, chamemos-lhe assim, pode ter consequências graves para o SNS como aqui alerta “Olinda”. Os detractores não deixarão de aproveitar estes desacertos para malhar no sistema que MS/OPSS dizem querer melhorar. Já estou a ouvir Manuel Lemos afirmar que se fossem as Misericórdias a tratar do assunto nada disto aconteceria, que em menos de 2 meses arrumaram com não sei quantas consultas e cirurgias contratualizadas com o MS para um período de 6 meses. É claro que a opinião pública desconhece de que tipo de consultas/cirurgia se trata; que o pagamento aos profissionais é feito à peça; que a maioria também trabalha no SNS onde cada vez mais são pior pagos, sem sistema de incentivos que os discrimine positivamente, a não ser uns tantos privilegiados que encontram no SIGIC uma, quantas vezes perversa, forma de compensação.
À falta de rigor nacional é caso para dizer, valham-nos as medidas da Troika para pôr o SNS a salvo de predadores. Depois de terem passado alguns meses encafuados no Ministério das Finanças/Banco de Portugal, os “troikistas” já perceberam por certo que a estatística no País está muito longe das ciências exactas. Porém, já terão entendido também que vale mais uma estatística imprecisa que a ausência de dados analisáveis, como sucede no sector privado da saúde.
Xavier,
Pelos vistos também se sente atingido.
Deixe lá, dos doces que receber dar-lhe-ei um bom quinhão, e você certamente me agradecerá?!
Meu caro, sendo o responsável e criador do blogue, não posso deixar de interromper o conselho do amigo da Olinda.
Por isso dexo-lhe a pergunta: só agora é que os relatórios do OPSS são maus? E não vale a pena virem com lamechas sobre a maior ou menor envolvência do Dr. Sakelarides (é difícil aos AH criticar o professor, eu percebo) porque ele não precisa. A sua competência nem sequer precisa de ser aqui reconhecida. Todos o sabemos.
Mas se há erros nas bases de dados, só aos gestores da saúde e seus "brilhantes e numerosos assessores" podem em ser imputados.
Xavier faça uma retrospetiva do Saúdesa e verificará que num passado não muito longíquo, Ministro e Secretários(as) de Estado não deixaram de discordar e criticar os relatórios do OPSS.
Mas talvez possa ver também, se a minha memória me não atraiçoa, um comentário meu sobre o tempo de espera para uma consulta de especialidade - urologia- no H. S. Maria, pedida pela Urgência do próprio hospital.
Já agora só mais uma nota: uma média é uma média; uma mediana é uma mediana. Uma e outra não deixarão de ser influenciadas pelos "curtos tempos de espera" quando se trata de "cunhas". Mas o cidadão comum, nomeadamente os que não têm familiares ou amigos nos hospitais, continuam cansados de esperar. Mesmo que não se trate de mais de mil dias de espera!
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