sábado, junho 11

A Grande Farra

foto flickr
No rescaldo da vitória eleitoral reagrupam-se e reorganizam-se os negócios privados que vivem à custa da saúde. Finalmente surgiu a luz ao fundo do túnel. Depois de ter amaciado a versão inicial do programa (mais inspirada e soprada pelos “empreendedores” do comércio da saúde) PSD manteve, ainda assim, essa ideia pioneira tão querida aos diferentes tipos de comerciantes que é o pacote universal (básico) de benefícios.
Está assim, finalmente, aberto o caminho para acabar o princípio da cobertura geral. A partir de agora os interesses privados definirão, ano após ano, por interpostos agentes políticos quais os cuidados que ficam na cobertura pública e quais os cuidados que terão de vir a ser cobertos por seguros privados.

Já se adivinham os slogans promotores: - Varizes prime; Protecção 24 h doença renal crónica; Osteocare; etc, etc… À mistura com “medicinas alternativas”, branqueamento dentário e checkup’s multigosto começaremos a ver a vitória do negocismo sobre a universalidade e a equidade. Assistiremos ao bombardeio da liberdade de escolha, da concorrência, dos co-pagamentos diferenciados pelo rendimento e do resto do papagueio que conhecemos agora renascido nos milhares de powerpoints que farão, de novo, florescer o negócio das consultoras.

Quanto aos protagonistas não faltarão soluções. Nos grupos parlamentares do PSD e do CDS proliferam consultores, administradores, gestores, funcionários e outro tipo de agentes umbilicalmente ligados ao negocismo do sector. Foi vê-los no Hotel Sana no passado dia 05 mostrando-se ostensivamente para marcar o território.
A nível de deputados basta analisar os percursos de muitos deles (nalguns casos estonteantes na passagem da esquerda radical defensora dos excluídos para a direita populista travestindo-se de caridosas almas que só pugnam pelo bem comum…).
Perdidos e sufocados no lodo do desaire comercial os comerciantes olham para esta coligação como a verdadeira tábua de salvação para as aventuras em que se foram metendo ao longo dos anos.

Vamos assistir à grande farra em áreas tão distintas como o medicamento (dci e unidose com verticalização total do negócio ligado às farmácias), manutenção da aldrabice que dá pelo nome de sub-sistemas e, sobretudo, muita convenção, concessão, contratualização, parceria e outras bóias para salvar a correr um sector privado que está moribundo.

Valha-nos que a saída de cena de Ana Jorge “liberta”o PS para uma oposição política forte, técnica e cientificamente sustentada.
A grande farra não será aquilo que os neo-liberais idealizaram. Daqui por uns meses conversamos…


Setubalense

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7 Comments:

Blogger e-pá! said...

Completamente de acordo com esta premonitória visão.
Três pormenores:
1) O "pacote básico de benefícios" choca com o carácter universal do SNS, constitucionalmente definido;
2) A materialização do projecto neoliberal na área da saúde - apesar do desaire eleitoral do PS - só será viável com a colaboração dos socialistas;
3) Embora o SNS padeça de problemas de sustentabilidade financeira a sua defesa terá de ser feita no terreno político (nomeadamente no plano da revisão constitucional).
Nota Final: 10.Jun.2011 – retomou-se (…já vem de longe) o ataque à Constituição que, durante as comemorações e na presença de um seu "especial" jurado (o PR), foi apelidada de "anacrónica, barroca e excessivamente programática". link
Isto é, a Direita sabe bem onde está o empecilho...

9:52 da manhã  
Blogger Tavisto said...

Há uma contradição insanável entre a agenda política para a Saúde do PSD e as imposições da Troika para o sector. Convém lembrar que até ao final de 2013 o Estado terá de reduzir custos com a ADSE em 50% (30% em 2012 e 20% em 2013). Tal só será possível reduzindo o número de beneficiários, reduzindo cobertura ou diminuindo a comparticipação pública. Seja qual for a solução ou a combinação encontrada, tal representará um forte revés para o sector privado que vive em grande medida desta fonte de financiamento.
Há, também, a imposição de, já em 2011, a prescrição de medicamentos e exames complementares de diagnóstico (MCD) ter de passar a ser feita por via electrónica. Se assim for e tal medida tiver consequências, a imagem do utente ADSE típico, o funcionário público transportando um saco de plástico que vai enchendo de MCD à medida que vai transitando de consulta em consulta, ir-se-á modificando e a poupança orçamental conseguida representará mais um sério revés ao financiamento dos privados.
Face às decisões tomadas pela Troika relativamente aos subsistemas públicos, irá a coligação de direita levar para a frente o seu plano de partilha público/privado dos utentes do SNS? A tentação será grande atendendo aos compromissos assumidos com os grupos económicos e as limitações ao plano de contra-reforma da Saúde aqui descritas. Seja como for, duvida-se que um sistema concorrencial deste tipo consiga trazer ganhos em saúde aos portugueses e, muito menos, seja mais eficiente do ponto de vista financeiro.
Parece-me pois que os grandes estrategas da “Saúde aos Privados” que enxameiam as hostes da coligação de direita vão, mais do que saber utilizar o Power-Point, ter de recorrer mais frequentemente ao Excel. É que, mais importante que vender a imagem de um “new look” do modelo da saúde, o que neste momento importa é saber fazer contas para repartir melhor um bolo financeiro que, à falta de fermento, vai encolher significativamente nos próximos anos.

12:21 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Camaradas.
Para que possamos utilizar no futuro como arma de arremesso contra os liberais de pacotilha, segue-se um texo as medidas que irão surgir e que foram "acordadas" pelo "GOVERNO "EM ESTADO DE COMA" de José Sócrates. Em breve, não faltarão acusações contra as medidas do governo PPC que mais não serão do que o cumprimento do acordo com a tróika. Mas isso será de certeza ignorado.
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Numa altura em que a taxa de desemprego está num nível histórico, a pressão dos serviços do Estado para cortar despesa nos apoios sociais está a ser superior às metas que foram fixadas no OE...: nos primeiros quatro meses do ano, o Estado poupou mais 54 milhões de euros do que o previsto em apoios sociais. De acordo com dados da Segurança Social, 760 mil beneficiários perderam o direito a ajudas do Estado, no último ano.
Com o chamado PEC I –, o Governo propôs um tecto para as despesas com o RSI, introduziu a condição de recursos nas prestações sociais, impedindo que agregados que ganhem mais de 100 mil euros possam receber ajudas, e regras mais apertadas no subsídio de desemprego....O PECII, que consistiu sobretudo em aumento de impostos, foi apresentado em Maio, mas no Orçamento do Estado para 2011, que ficou conhecido como PEC III, houve mais cortes. Na altura, o Governo decidiu fazer um corte de 20% no RSI e anunciou o fim dos escalões mais altos do abono de família. Um ano passado desde a entrada em vigor das primeiras medidas de redução das prestações sociais, os objectivos não só estão a ser cumpridos como estão acima das projecções iniciais. Segundo os dados orçamentais analisados pelo SOL, em qualquer uma das três ajudas abrangidas pelos cortes – subsídio de desemprego, abono de família e RSI – a redução de despesa está a ser mais acentuada do que o previsto no Orçamento para este ano (ver infografia). Uma vez que as medidas de contenção tomadas no ano passado só começaram a ter efeitos no segundo semestre, é previsível que só haja uma tendência de normalização na segunda metade do ano, em que será possível verificar com mais exactidão o grau de cumprimento dos objectivos.
......
Até Abril, há uma redução de 30% com esta prestação social, mais 24,4 milhões de euros do que o previsto. Seguem-se o subsídio de desemprego (22,3 milhões de euros a mais) e, por último, o RSI (7,3 milhões acima da meta).
...«Os cortes fortíssimos nestas prestações sociais fragilizam amplas camadas da população portuguesa – que são as que têm mais propensão para o consumo e dinamização do mercado interno», diz João Rodrigues, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
Para o economista, a economia portuguesa não vai conseguir crescer e gerar empregos se só estiver apoiada no mercado externo. «Precisa também do mercado interno e estas medidas de austeridade causam uma contracção tal que não há mercado externo que possa servir de compensação», justifica. João Rodrigues teme que esteja a ser gerada uma situação semelhante à grega – a entrada num ciclo recessivo que cause uma ‘bola de neve’ de incumprimentos de metas orçamentais «muito irrealistas».
Novos cortes à vista
Mesmo com reticências de parte da comunidade de economistas, o programa de ajustamento estabelecido entre o Governo e o FMI/BCE/CE prevê, a nível de prestações sociais, cortes no subsídio de desemprego e uma redução progressiva nas pensões acima de 1.500 euros, semelhante à que ocorreu com os salários da Função Pública. No subsídio de desemprego, a troika impôs a redução do período máximo de atribuição para 18 meses, bem como o montante máximo da prestação, que passa a ser 1.048, contra os anteriores 1.258 euros. Vai também ser introduzida uma redução decrescente do valor das prestações ao longo do período de desemprego, após seis meses de desemprego.

(joao.madeira@sol.pt)

PS: Apesar de censurado eu insisto no apoio ao Adalberto para novo Ministro da Saúde. Até por ser AH e inteligente!

7:54 da tarde  
Blogger tambemquero said...

“Este é o momento…de se correr atrás de lugares…” assinalou ontem Sílvia Ramos, presidente da distrital de Beja do CDS-PP, aos microfones da emissora local Rádio Pax.

A dirigente popular deixou claro aos militantes do seu partido que lhes compete estar “nos devidos lugares, proporcionalmente ao nosso peso político e porque temos isso legitimado pelos votos que obtivemos”. link

JP 11.06.11

O fartar vilanagem já comeeçou.

11:39 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Exactamente. Começou o fartar vilanagem, tal como em 2005. Neste mesmo espaço foi escrito, ao tempo: Correia de Campos tens aqui a tua gente (mais ou menos isto! Lembram-se?).
E foi mesmo um fartar vilanagem.

11:58 da tarde  
Blogger Clara said...

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Será a realidade ditada pelas condições (inquestionadas) da intervenção externa. Mas não só: os representantes do neoliberalismo português vão aproveitar para dar um salto em frente no seu programa, sem resolverem nada do que causou a dívida soberana e sem a pagarem − como eles bem sabem, a reestruturação é inevitável. A crise da dívida vai ser usada para destruir serviços públicos e funções sociais do Estado, para privatizar as partes lucrativas de muitas empresas (algumas totalmente), para tornar a fiscalidade mais cega e regressiva, para cortar prestações sociais, para flexibilizar as relações laborais e os despedimentos, para diminuir salários e pensões.

Tudo isto para operar uma inédita transferência de dinheiro e de poder para privilégios e interesses privados em detrimento do público. Sem qualquer embaraço ou hesitação perante o crescente fosso das desigualdades socioeconómicas que nos próximos anos vão aumentar entre os cidadãos mais ricos e os mais pobres em Portugal, e entre os Estados mais ricos e os mais pobres na União Europeia. link

Sandra Monteiro , monde diplomatique

11:10 da tarde  
Blogger helena said...

O resultado destas eleições só pode ter uma leitura. O povo português votou no regresso do cavaquismo.
A mim o Cavaquismo traz-me à memória figurões como Dias Loureiro, Duarte Lima, José Oliveira e Costa, Isaltino Morais e outros que tais; betão, autoestradas e bandos de patos bravos; dinheiros comunitários a rodos para formação, abamdono da agricultura e das pescas; liquidação da rede ferroviária.

Não será preciso passar muito tempo para a troika cavaquista (ACS, PPC e PP) demonstrar aos portugueses que o povo também se engana.
E de que maneira!

11:48 da tarde  

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