sábado, junho 11

Condecorações

foto JP
Cavaco Silva não perdeu oportunidade para condecorar Manuela Ferreira Leite neste 10 de Junho de 2011 com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo.
Muitas razões existirão para tão distinta distinção.

A primeira, desde logo, MFL entrou para a política pela mão de ACS, seu colega na Fundação Calouste Gulbenkian.
Acresce que MFL desempenhou inúmeros cargos em vários governos da República: Secretária de Estado do Orçamento do XI Governo (1990), Secretária de Estado Adjunta e do Orçamento do XII Governo (1991-1993), Ministra da Educação (1994-1995), Ministra de Estado e das Finanças do XV Governo (ano de 2002, primeira mulher portuguesa a assumir esse cargo).

Outra motivo: MFL foi a primeira mulher portuguesa a chefiar um partido político (2008).

Mas outras razões mais profundas terão pesado na decisão do senhor PR.
MFL, à semelhança de ACS, tem o perfil, o jeito, assim a modos que salazarento de agir e pensar, que tanto agrada a muitos dos nossos conterrâneos. Ficou célebre a sua proposta de fazer uma pausa na democracia: «não seria bom haver seis meses sem democracia" para "pôr tudo na ordem"
link. Ele há coisas que não se dizem nem a brincar.

Motivo da máxima importância: Manuela Ferreira Leite, no exercício das suas funções no governo, chegou a despachar a favor do Benfica
link .

Mas há mais: MFL esteve na genese do "discurso da tanga" de Zé Barroso que deu mais tarde lugar à política de verdade e à "obsessão do défice” (longe iam os tempos de crise dos investimentos tóxicos que arrazaram a economia dos EUA e da EU). Quer dizer, MFL é o exemplo acabado do ajuste de contas feliz com a história. MFL, a sempre velha e avarenta senhora, espírito retrógrado, habituada desde tenra idade à leitura das aventuras do tio patinhas, bafejada pelos ventos da história, acabou por ter razão antes de a ter. Uma espécie de Forrest Gump à portuguesa, versão feminina.

Finalmente: Para a atribuição desta exagerada condecoração, o PR, ACS, teve uma motivação acrescida, especial, que reside no facto de ambos (ACS e MFL) partilharem ódio visceral ao inimigo comum, o atroz recém derrotado engenheiro José Pinto de Sousa, vulgarmente conhecido por José Sócrates.
Para ACS e o seu plano de vingança, gizado a partir da anterior campanha das presidenciais, a recente e estrondosa derrota do primeiro ministro cessante não é suficiente. O processo de humilhação de JS, tudo o indica, vai continuar.

Porreiro, pá

Etiquetas: ,

13 Comments:

Blogger tonitosa said...

Silêncio.
Respeito pelo conselho da Olinda.

8:04 da tarde  
Blogger e-pá! said...

E o discruso de António Barreto acerca de uma Constituição "anacrónica, barroca e excessivamente programática"...?

No dia em que as actuais disposições constitucionais deixar de serem "anacrónica(s)" é certo e sabido que cronologicamente, p. exº., regressaremos a 1979 (antes do SNS)...

11:39 da tarde  
Blogger tonitosa said...

António Barreto é, muito provavelmente, um dos maiores estudiosos do Portugal social pós-25 de Abril de 1974 (e mesmo de antes).
A ele se devem muitas das análises mais rigorosas sobre a situação social do nosso País e, em minha opinião, é merecedor de apreço, respeito e agradecimento de todos os que, por razões pessoais ou profissionais, se interessam por conhecer a evolução social de Portugal.
E, se formos capazes de despir o casaco "ideológico" talvez cabemos por reconhecer que António Barreto tem razão na sua análise.
O Mundo evoluiu e nós, teimosamente, continuamos parados no tempo e no espaço.

12:12 da manhã  
Blogger DrFeelGood said...

O ataque à Constituição de Abril já começou. É vê-los, políticos e comentadores de serviço a desfilarem nos telejornais.
Mas para terem êxito vão precisar do PS. Esperemos para ver que PS nos sai na rifa.

António Barreto se fosse politicamente coerente, tendo em atenção os resultados das suas investigações sociológicas, patrocinadas pelo Pingo Doce, não se prestava a muitas das palhaçadas públicas que nos últimos anos tem protagonizado.
Parece um bobi pavão que vai a correr para onde é chamado. Desde que passe na TV. Uma espécie de Lili Caneças da política e discurso mais alinhavado.

Pelos vistos o Tonitosa fatigou-se da pesca. Prefere os bitaites no saudesa às corvinas. Em prejuízo do orçamento familiar.
Olhe que vai ter muito com que se envergonhar. Estes seus amigos liberal pacotilha são mesmo da pesada. Compará-los a CC só por míopia ou má fé. O desvaíro do rapa ao tacho do que resta do Estado vai surpreender todos os portugueses. Se fosse a si, caro Tonitosa, não me preocupava com estas mexeriquices da política e tentava gozar despreocupadamente a justa reforma atribuída nos bons tempos do Estado Social.

4:21 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Portugal importa hoje cerca de 6 mil milhões de euros de bens agrícolas para consumo, sendo que as nossas exportações chegam apenas aos 3 mil milhões de euros.Um défice alimentar destas dimensões não tem razão de ser num país como o nosso. Esta situação não pode continuar. Temos de desenvolver um programa de repovoamento agrário do interior, criando oportunidades de sucesso para jovens agricultores.

Cavaco Silva, discurso do 10 de Junho 2011 link

Em 1992, quando Cavaco Silva era primeiro ministro e agricultores portugueses e galegos reclamavam contra a reforma da PAC e tinham como palavra de ordem “Nós queremos produzir”, o governo do PSD soltou a GNR.

Eu lembro-me. Estive lá na Curia e também me lembro do bruto aparelho policial (guarda a cavalo, cães-polícia, intimidação como nunca antes se houvera visto desde os tempos da ida senhora de vestes fascistas). São mesmo hipócritas estes capachos do grande capital… link

Manuel Rodrigues, facebook

4:27 da tarde  
Blogger xavier said...

No rescaldo do que se passou nos últimos dias dá a sensação que um número significativo de portugueses, se fosse hoje, já não votavam como o fizeram em 05 de Junho passado.

4:38 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Cavaco anda eufórico. Aquele rictus facial que impiedosamente o marcava aliviou-se; sente-se que está solto; conta episódios da infância sem graça nenhuma a propósito das cerejas que não havia no Algarve; viu-se livre de Sócrates – o seu pesadelo pessoal acabou.
E para comemorar a vitória da direita convoca pela segunda vez em pouco tempo Barreto, essa figura da baixa intelectualidade portuguesa, para fazer o discurso de acolhimento aos novos governantes e dar porrada nos que vão sair.

A linguagem, porém, nunca é corajosa, frontal, directa; é sempre uma linguagem de cernelha, um discurso que de quem está de lado e se julga acima, baseada numa pretensa legitimidade que somente ele sabe onde se fundamenta, feita em nome de um suposto interesse nacional de que se considera o verdadeiro intérprete.

Se ele tivesse a coragem e a inteligência de falar por si, em seu nome, e de dizer o que pensa, muito provavelmente ninguém o ouviria porque na realidade ele nada tem para dizer. Então usa o expediente de se arvorar em depositário das lídimas virtudes pátrias para em nome delas nos dizer o que temos de fazer. Mas não contente com isso, acaba falando de igual para igual com o povo a que se dirige: de um lado ele, do outro o povo, elogiando-o hipocritamente para lhe dar conselhos imperativos, próprios de quem se julga detentor dos meios que lhe permitem atingir as metas que ele previamente lhe traçou – enfim, ridículo.

Nesse discurso reaccionariamente bafiento o que diz Barreto tão sublimemente ao povo? Que é tempo de criar laços de afectividade entre patrões e empregados, de fomentar uma “comunidade de cooperação”, enfim, tempo de aceitar o ataque concertado ao trabalho com factor de produção como se não via há mais de cem anos. É esta a modernidade de Barreto e por ela se avalia o que pretende para a juventude, o que realmente quer quando defende a revisão da Constituição ou propõe a reforma do sistema político por ele considerado obsoleto e confuso.

É esta medíocre intelectualidade portuguesa, de que Barreto é um dos exemplares mais exibidos, que condena este país ao atraso, à dependência e ao fracasso.

JM Correia Pinto

10:43 da tarde  
Blogger Tavisto said...

A pretexto do famigerado preâmbulo que aponta o Socialismo como meta social futura, a direita irá procurar reverter as disposições constitucionais que impedem o esvaziamento do Estado Democrático das suas funções sociais. Neste propósito António Barreto veio dar um jeito imenso com as declarações proferidas no 10 de Junho. Não terá sido por acaso que foi o escolhido (suponho pelo PR), nada melhor para atacar o texto constitucional que uma personalidade ainda vagamente conotada á Esquerda.
Não nos esqueçamos porém que é necessária a concordância do PS para que a Constituição seja revista. Espera-se pois que o PS não vacile nesta matéria e que, sob o justificativo da necessidade de cumprir as medidas da Troika, não permita que o menino vá arrastado na água do banho.

11:36 da tarde  
Blogger Tavisto said...

Uma correcção necessária:


Não nos esqueçamos porém que é necessária a concordância do PS para que a Constituição seja revista. Espera-se pois que o PS não vacile nesta matéria e que, sob o justificativo da necessidade de cumprir as medidas da Troika, permita que o menino vá arrastado na água do banho.

12:09 da manhã  
Blogger e-pá! said...

..."uma personalidade ainda vagamente conotada á Esquerda..."

Bem, António Barreto há muito que cortou todas as amarras que teve na Esquerda.
Vasco Pulido Valente (Público, 12.06.2011) classifica a intervenção de A. Barreto em Castelo Branco como "uma longa fuga lírica e tremelicante...".
Acertada esta impressão!

12:20 da manhã  
Blogger ochoa said...

Grandes discursos sobre Portugal

Gostei dos discursos do fim-de-semana sobre Portugal. Foram discursos bem curtidos, que nos podem levar longe. Mais do que apontar um caminho, caminhou-se. Os discursos de que falo, claro, foram proferidos pelo presidente da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado e pelos representantes sindicais. Traduzidos, os discursos dão isto: subida de 2% nos salários. Coisa enorme, num país que corta no que ganha e suspira de alívio por continuar a ganhar. Os que fazem sapatos vão ganhar mais, porque seu sector subiu 20% nas exportações e começa a confirmar no estrangeiro o lema que espalhou lá fora nas feiras de calçado: "Sapatos portugueses: desenhados pelo futuro." Deixem-me contar uma história que se calça que nem uma luva nesta actualidade. Apeles, o artista grego, tinha feito um desenho de uma divindade do Olimpo. Um humilde sapateiro fez um reparo sobre as sandálias, o que Apeles acatou - mudou o desenho. Embalado, o sapateiro começou a dar bitaites sobre o nariz da divindade, a inclinação do torso, a proporção das mãos... Aí, Apeles mandou parar: "Ne sutor ultra crepidam." Que vai em latim porque foi por aí que nos chegou o provérbio: "Não suba o sapateiro além da chinela." É provérbio antigo e continua a valer. Os nossos bons sapateiros que continuem a fazer bons sapatos, cada vez melhores e mais exportáveis. E como seria bom continuar a ouvir só estes discursos de gente sábia que prova que o é. link

Ferreira Fernandes, DN

1:01 da manhã  
Blogger saudepe said...

O Renascimento da oratória

À falta de melhor, os portugueses sempre gostaram de oratória. De oratória sacra, no "antigo regime"; de oratória parlamentar, no liberalismo e na República. Os "tenores" de S. Bento (José Estêvão, Garrett, Rebelo da Silva) tinham uma popularidade sem relação com o seu poder real. Nunca, ou quase nunca, disseram coisa que valesse a pena. Mas falavam bem e enchiam as galerias de aficionados e de senhoras. Esta sexta-feira, em Castelo Branco, parece que a tradição ressuscitou com António Barreto. Os voos líricos de Barreto não nos fizeram compreender melhor a situação do país, nem propuseram nada de prático ou de útil. O que não era, se calhar, o seu propósito. Não interessa. Pelo menos, comoveram o público letrado, que precisava de comoção e consolo.

No dia seguinte, os jornais glosaram dois temas. O primeiro foi a diatribe de Barreto contra os políticos, uma velha maneira de aquecer a alma do país. Segundo percebi, para Barreto, os políticos pedem ao bom povo (com "facilidade" e "oportunismo") "sacrifícios" que eles próprios, no seu ofício, se recusam a retribuir. Pelo contrário, andam por aí numa "crispação estéril", em vez de conversarem e discutirem entre si, com verdade e, sobretudo, com "cordialidade" (esperemos que não aquela cordialidade com que Bernardino afogou a República). Além disto, que por si bastava, os políticos mentem, não informam os portugueses, não os representam e não os dirigem. Pior ainda: sendo o nosso sofrimento o resultado da sua "imprevidência", é "indispensável" um "apuramento" de responsabilidades. Como, quando e por quem, Barreto não esclareceu.

Em contrapartida, esclareceu que se deve mudar a Constituição, que, na opinião dele se tornou "anacrónica, barroca e excessivamente programática", uma ideia que não fica mal a ninguém e que se distingue pela sua absoluta impossibilidade. E voltou também à sua obsessão de infância, o círculo uninominal, a que atribui virtudes miraculosas. Nunca lhe ocorreu que o círculo uninominal iria entregar a Valentim Loureiro e à sua estirpe a escolha e o domínio do Governo, como já entregou as câmaras (tirando Lisboa, o Porto e mais meia-dúzia por aqui e por ali ) e os partidos, sem qualquer excepção. Mas presumo que Barreto não liga a esses pormenores terrenos. Um homem que acaba um discurso oficial tratando Portugal por "tu", numa longa fuga lírica e tremelicante, está com certeza destinado à santidade cívica.

Vasco Pulido Valente, JP 13.06.11

VPV vai ter uma segunda oportunidade de escavacar o Cavaquismo. Deus lhe dê saúde e anos de vida.

1:19 da manhã  
Blogger saudepe said...

As considerações do Tonitosa sobre o AB são uma verdadeira patetice.
Aliás, o velho tonitosa que conhecemos aqui no saudesa parece ter parado no tempo.
Efeitos da reforma ou coisa que o valha.
Porque reaças ele sempre o foi.

1:26 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home