Cavaco quer alijar a responsabilidade do Estado
O presidente da Associação dos Administradores Hospitalares (ADH), Pedro Lopes, defendeu hoje que o Estado tem capacidade para gerir a sua rede hospitalar, não necessitando de delegar a gestão de alguns hospitais a outras organizações. link
"Essa visão de que o Estado não consegue fazer ou não faz tão bem é uma visão que eu não comungo e que a minha associação não comunga de forma nenhuma", disse Pedro Lopes à Agência Lusa, comentando declarações do Presidente da República.
Aníbal Cavaco Silva afirmou no sábado que "se o Estado não tem capacidade, deve delegar a outras organizações" os cuidados de saúde.
"Não percebo porque é que se diz que o Estado não tem capacidade para. O que tem é que haver mais investimento no Estado. Em vez de se estar a investir, que é isso que o Estado está a fazer neste momento, em instituições que não são públicas, enviando doentes para instituições privadas para fazerem e para serem prestados serviços que o Estado pode prestar", sublinhou Pedro Lopes.
Segundo o presidente da associação, o que "o Estado tem é que investir mais na saúde" e deixar de "enviar os seus doentes para as redes privadas, misericórdias, hospitais privados e clínicas privadas".
"O grande problema é que o Estado a partir da 13:00 praticamente tem os seus blocos fechados e envia doentes para os blocos privados, que trabalham no período da tarde. A minha pergunta é porque é que os blocos operatórios dos hospitais estaduais não fazem esse serviço e estão fechados quando têm toda a capacidade instalada para o fazer", questionou Pedro Lopes.
DN 11/07/2011
Uma boa questão colocada por Pedro Lopes. A verdade é que se empresalizaram os hospitais do SNS mas na componente clínica pouco ou nada se fez. À parte um ou outro hospital em que os blocos operatórios funcionam à tarde, geralmente em regime de SIGIC, nos restantes mantém-se, exceptuando urgências, o regime de actividade matinal.
É evidente que se esta situação se tem perpetuado governo após governo, é porque convém a muita gente. Já aqui falei das consequências nefastas da promiscuidade público-privado e não vou voltar ao assunto. Direi apenas que de cada vez que um partido político se prepara para governar e esta questão é aflorada, o líder garante que se for eleito irá resolver o problema separando águas. Foi assim também com Passos Coelho, declaração de que poucos se lembrarão e menos ainda acreditam que seja para cumprir.
Parece-me, porém, que não era apenas à gestão hospitalar que as palavras de Cavaco se dirigiam. O que julgo ter querido dizer é que se por insuficiência de meios financeiros o Estado não puder garantir cuidados de saúde a todos os portugueses deve alijar essa responsabilidade. Para além da sopa dos pobres, às Misericórdias ficaria entregue a responsabilidade de tratar os concidadãos sem meios para suportar os previsíveis aumentos de encargos nos cuidados de saúde. Porém, à parte o reaccionarismo da proposta, ignorará o Presidente que em matéria de Saúde aquelas instituições nada têm de filantropo?
"Essa visão de que o Estado não consegue fazer ou não faz tão bem é uma visão que eu não comungo e que a minha associação não comunga de forma nenhuma", disse Pedro Lopes à Agência Lusa, comentando declarações do Presidente da República.
Aníbal Cavaco Silva afirmou no sábado que "se o Estado não tem capacidade, deve delegar a outras organizações" os cuidados de saúde.
"Não percebo porque é que se diz que o Estado não tem capacidade para. O que tem é que haver mais investimento no Estado. Em vez de se estar a investir, que é isso que o Estado está a fazer neste momento, em instituições que não são públicas, enviando doentes para instituições privadas para fazerem e para serem prestados serviços que o Estado pode prestar", sublinhou Pedro Lopes.
Segundo o presidente da associação, o que "o Estado tem é que investir mais na saúde" e deixar de "enviar os seus doentes para as redes privadas, misericórdias, hospitais privados e clínicas privadas".
"O grande problema é que o Estado a partir da 13:00 praticamente tem os seus blocos fechados e envia doentes para os blocos privados, que trabalham no período da tarde. A minha pergunta é porque é que os blocos operatórios dos hospitais estaduais não fazem esse serviço e estão fechados quando têm toda a capacidade instalada para o fazer", questionou Pedro Lopes.
DN 11/07/2011
Uma boa questão colocada por Pedro Lopes. A verdade é que se empresalizaram os hospitais do SNS mas na componente clínica pouco ou nada se fez. À parte um ou outro hospital em que os blocos operatórios funcionam à tarde, geralmente em regime de SIGIC, nos restantes mantém-se, exceptuando urgências, o regime de actividade matinal.
É evidente que se esta situação se tem perpetuado governo após governo, é porque convém a muita gente. Já aqui falei das consequências nefastas da promiscuidade público-privado e não vou voltar ao assunto. Direi apenas que de cada vez que um partido político se prepara para governar e esta questão é aflorada, o líder garante que se for eleito irá resolver o problema separando águas. Foi assim também com Passos Coelho, declaração de que poucos se lembrarão e menos ainda acreditam que seja para cumprir.
Parece-me, porém, que não era apenas à gestão hospitalar que as palavras de Cavaco se dirigiam. O que julgo ter querido dizer é que se por insuficiência de meios financeiros o Estado não puder garantir cuidados de saúde a todos os portugueses deve alijar essa responsabilidade. Para além da sopa dos pobres, às Misericórdias ficaria entregue a responsabilidade de tratar os concidadãos sem meios para suportar os previsíveis aumentos de encargos nos cuidados de saúde. Porém, à parte o reaccionarismo da proposta, ignorará o Presidente que em matéria de Saúde aquelas instituições nada têm de filantropo?
Tavisto
Etiquetas: Cavaco, Gestão Hospitalar
6 Comments:
Tem razão Pedro Lopes quando diz que o Estado tem capacidade para gerir a sua rede hospitalar.
Também eu sou dos que defende que os serviços públicos/funcionários públicos são tão bons como os trabalhadores do sector privado.
Mas para tal existem alguns pressupostos, nomeadamente:
1º - Que as condições de trabalho (técnicas) sejam as mesmas; porque ainda há muitos serviços públicos a funcionar (mal) sem o mínimo de condições;
2º - Que as chefias sejam recrutadas de acordo com as suas competências profissionais e não de acordo com o "cartão" de militante partidário ou "pertença a "associações de classe";
3º - Que sejam definidos objetivos (reais e não para encher o olho) e que todos sejam envolvidos e responsabilizados pela sua concretização;
4º - Que sejam proporcionados os meios (contratualizados) para atingir os objetivos;
5º - Constatando-se que não foram atingidos os objectivos (sem que para tal possam ser tidas em consideração causa externas aos serviços) devem os dirigentes ser imediatamente demitidos dos cargos.
Dito isto, há que reconhecer que os Serviços Públicos, e neste caso particular os hospitais e outros serviços de saúde, têm sido mal geridos. Exactamente porque a gestão é influenciada por interesses de classe.
Pedro Lopes bem poderia perguntar-se: por que é que com tantos Administradores Hospitalares as coisas, nomeadamente nos blocos operatórios, ainda estão como estão?
Será que os problemas dos hospitais EPE's estão só (e principalmente) na componente clínica?
E a promiscuidade público-privado também existe só na classe médica?
As respostas são, em meu entender, óbvias; mas que cada um assuma as suas responsabilidades e não se limite a atirar pedras aos outros.
Sem dúvida uma excelente e oportuna intervenção do presidente da APAH.
Ó sector público é mais competente apto e experiente para gerir hospitais e centros de saúde.
Como aliás já no passado reconheceu o nosso PR.
Se é verdade que os grandes homens são foram talhados para as grandes ocasiões, Pedro Lopes terá encontrado, finalmente, o seu palco, a sua grande causa: A defesa do Estado prestador de cuidados.
«O Presidente defendeu hoje que todos os cidadãos têm direito a cuidados de saúde de qualidade, mas considerou que o Estado deve delegá-los se não conseguir custeá-los.» link
Mas então se o Estado delegar a sua prestação não tem de os pagar à entidade prestadora?! E se não tiver dinheiro para os custear no SNS, onde irá buscar o dinheiro para os custear a outras entidades prestadoras?
A afã ideológico da privatização do SNS leva a comprometedoras falácias como estas, como se os privados trabalhassem "à borla" ou fizessem "jeitos" ao Estado...
vital moreira, causa nossa
«Para além da sopa dos pobres, às Misericórdias ficaria entregue a responsabilidade de tratar os concidadãos sem meios para suportar os previsíveis aumentos de encargos nos cuidados de saúde.»
Sem guito nada feito
O Tavisto que me perdoe discordar deste seu ponto.
O alinhamento de CS ao programa deste Governo é evidente. E o que este Governo pretende fazer quanto a esta matéria é por termo à actividade do Estado como prestador directo de cuidados.
O presidente Cavaco passou a defender com este governo a privatização de hospitais e centros de saúde, ou seja, a entrega da sua gestão às misericórdias e a entidades privadas lucrativas, com o Estado a pagar as prestações contratualizadas como é evidente.
Facilitar o acesso destas entidades ao financiamento público é o objectivo declarado desta política liberal pacorilha.
Filantropia, o que é isso?
A graça que o presidente Lemos das Misericórdias terá achado a este comentário do Tavisto.
Duas pequenas notas aos comentários.
Ao tonitosa: E a promiscuidade público-privado também existe só na classe médica?
Todos sabemos que não. É, lamentavelmente, extensiva a muitas outras áreas. Tal facto, porém, não nos dispensa de olhar para o que passa dentro de portas e exigir soluções. Ou será que pretendemos ilibar as nossas “culpas” com os erros dos outros?
À Clara : O Tavisto que me perdoe discordar deste seu ponto.
No caso concreto e pelas palavras da Clara, não percebo qual o ponto de discórdia. É com ironia que comento as palavras de Cavaco Silva, ele bem sabe que as Misericórdias em matéria de saúde não dão ponto sem nó. As suas palavras destinam-se a iludir incautos procurando convencê-los de que estas instituições podem fazer o papel que cabe ao Estado, dando assim cobertura ao Governo na privatização da prestação de cuidados de saúde.
Caro Tavisto,
«O que julgo ter querido dizer é que se por insuficiência de meios financeiros o Estado não puder garantir cuidados de saúde a todos os portugueses deve alijar essa responsabilidade.»
Não penso que CS pretenda alijar pura e simplesmente os cuidados de saúde nas Misericórdias.
O PR sabe muito bem que as Misericórdias se fazem pagar muito bem.
O que CS defende é que os dinheiros da Saúde destinados ao sector público sejam repartidos generosamente com as Misericórdias.
Enviar um comentário
<< Home