Pensar o futuro depois do Euro
João Rodrigues: Com esta austeridade "temos de pensar o nosso futuro depois do euro" link
Entrevista a propósito do lançamento do livro "Portugal e a Europa em Crise - Para acabar com a economia de austeridade", organizado pelos economistas José Reis e João Rodrigues.
...
JP: - Mas se fracasse tanto (teoria liberal), porque está tão viva?
JR: Acho que há um momento de simplismo que pode levar à sua popularização. Por outro lado, ainda há muita gente que investiu muito na teoria e que tem muito interesse em mantê-la no debate público. E, depois, a teoria serve determinados interesses muito poderosos. Determinado tipo de concepção de políticas públicas servem interesses muito poderosos e com muita força material, digamos assim.
Esta interacção entre as ideias e os interesses é muito relevante. Estamos numa situação em que a crise está a ser aproveitada para quê? Para operar uma transferência de activos, a preço relativamente baixo, do sector público para o sector privado (através das privatizações); para enfraquecer serviços públicos e para os transferir para a órbita do sector privado que geram rendas, lucros, extraordinariamente interessantes para certos actores económicos – sobretudo na área da saúde; na Segurança Social. E, apesar do fracasso clamoroso do modelo privado de capitalização, ainda há em Portugal quem insista em reforçar o pilar de capitalização [da Segurança Social]. Porque é muito dinheiro a ganhar num contexto económico em que o é muito difícil para grupos económicos. Este elemento também não é despiciendo.
Por outro lado, no campo laboral, que é um campo extraordinariamente importante, esta construção a partir de uma taxa de desemprego de 12 por cento – que se deve não a qualquer rigidez da legislação laboral, como se viu, mas ao simples efeito da contracção da economia – fragiliza muito o poder dos sindicatos, dos trabalhadores e é uma excelente oportunidade para certos sectores patronais – não aqueles que deveríamos estar a promover – para construírem, reforçarem uma economia de baixa pressão salarial, de baixa capacidade de reivindicação sindical.
Isso para muita gente é muito interessante, sobretudo em sectores económicos que vivem daquilo a que se pode designar de transferência de custos sociais para o mundo do trabalho.
E essa é outra das explicações da popularidade entre alguns sectores, entre algumas elites políticas e económicas, de certas ideias sobre a virtude da desregulamentação das leis laborais na criação de emprego…
Entrevista de João Ramos de Almeida, JP 08.08.11
Entrevista a propósito do lançamento do livro "Portugal e a Europa em Crise - Para acabar com a economia de austeridade", organizado pelos economistas José Reis e João Rodrigues.
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JP: - Mas se fracasse tanto (teoria liberal), porque está tão viva?
JR: Acho que há um momento de simplismo que pode levar à sua popularização. Por outro lado, ainda há muita gente que investiu muito na teoria e que tem muito interesse em mantê-la no debate público. E, depois, a teoria serve determinados interesses muito poderosos. Determinado tipo de concepção de políticas públicas servem interesses muito poderosos e com muita força material, digamos assim.
Esta interacção entre as ideias e os interesses é muito relevante. Estamos numa situação em que a crise está a ser aproveitada para quê? Para operar uma transferência de activos, a preço relativamente baixo, do sector público para o sector privado (através das privatizações); para enfraquecer serviços públicos e para os transferir para a órbita do sector privado que geram rendas, lucros, extraordinariamente interessantes para certos actores económicos – sobretudo na área da saúde; na Segurança Social. E, apesar do fracasso clamoroso do modelo privado de capitalização, ainda há em Portugal quem insista em reforçar o pilar de capitalização [da Segurança Social]. Porque é muito dinheiro a ganhar num contexto económico em que o é muito difícil para grupos económicos. Este elemento também não é despiciendo.
Por outro lado, no campo laboral, que é um campo extraordinariamente importante, esta construção a partir de uma taxa de desemprego de 12 por cento – que se deve não a qualquer rigidez da legislação laboral, como se viu, mas ao simples efeito da contracção da economia – fragiliza muito o poder dos sindicatos, dos trabalhadores e é uma excelente oportunidade para certos sectores patronais – não aqueles que deveríamos estar a promover – para construírem, reforçarem uma economia de baixa pressão salarial, de baixa capacidade de reivindicação sindical.
Isso para muita gente é muito interessante, sobretudo em sectores económicos que vivem daquilo a que se pode designar de transferência de custos sociais para o mundo do trabalho.
E essa é outra das explicações da popularidade entre alguns sectores, entre algumas elites políticas e económicas, de certas ideias sobre a virtude da desregulamentação das leis laborais na criação de emprego…
Entrevista de João Ramos de Almeida, JP 08.08.11
Etiquetas: crise euro
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