domingo, julho 31

Teófilo sai em defesa da ADSE

A ADSE financia em 200 milhões de euros anuais os serviços de saúde privados e pode ser "um embrião" para o financiamento da saúde em Portugal, sector que corre o risco de colapsar, segundo o presidente da Associação de Hospitalização Privada. link
Sem queixas sobre os prazos de pagamento da ADSE às unidades de saúde privadas, Teófilo Ribeiro Leite sublinha que este sistema é "um bom pagador", logo a seguir aos seguros privados, os quais já cobrem 20 por cento da população portuguesa.
Para este dirigente, a ADSE deve ser vista como "um embrião do que pode ser a evolução do sistema em Portugal". "A ADSE cumpre uma função de financiamento de cuidados de saúde que tem sido elogiada e que revela que consegue melhor qualidade e melhor preço do que no Serviço Nacional de Saúde (SNS)", disse.

Teófilo Ribeiro Leite garante que os beneficiários da ADSE "sentem-se muito satisfeitos" com a resposta que encontram nos serviços de saúde privados.
Sobre as possíveis alterações do sistema de saúde, que considera estar "em risco de entrar em colapso" se continuar como está, o dirigente sublinha: "O SNS que garante cuidados de saúde gratuitos ou tendencialmente gratuitos aos cidadãos é uma ilusão. Primeiro, porque existem co-pagamentos e, segundo, porque é financiado por impostos".
Defende, por isso, um debate profundo em torno de alternativas como o modelo holandês, com o qual concorda "inequivocamente" e em que o cidadão escolhe uma companhia de seguros, que não pode rejeitar qualquer cidadão, cabendo ao Estado a cobertura dos que não têm rendimento para tal.
"Portugal tem já um bom exemplo de uma seguradora nacional (ADSE) e outras privadas que apresentam igualmente boas condições", disse.

Teófilo Ribeiro Leite rejeita liminarmente a ideia de que avançar para uma alternativa destas signifique o fim do SNS, afirmando que este "é uma parte integrante do sistema e ele próprio beneficiaria" com a mudança.
A mudança, garante, "seria pacífica se explicada aos portugueses" e presumiria alterações, como a redução dos impostos que os cidadãos pagam para o sector da saúde e que deveriam ser aplicados no seguro de saúde. O mercado daria depois a sua resposta: "A concorrência levaria a mais qualidade dos serviços prestados".
Ideia que a APHP apresentou já ao ministro da Saúde, Paulo Macedo, sobre quem o presidente da associação destaca que o governante tem vindo a enfatizar que tutela o sistema e não apenas o SNS.
Da parte do sector privado, Teófilo Ribeiro Leite acredita que as perspectivas são de crescimento, estando prevista a abertura de mais unidades este ano e nos próximos.
Em 2010, os 1.000 milhões de euros de faturação prevista foram já "ultrapassados" e o sector privado assegura agora 50 por cento das consultas, 25 por cento dos internamentos, 15 por cento das camas e cinco por cento dos episódios de urgência, segundo dados da APHP.
DE 31.07.11

Curiosamente a Troika não encontrou na ADSE as virtudes enumeradas pelo Dr. Teófilo Leite. Convém lembrar, entre outras coisas, que se a ADSE pagasse ao SNS o que deve possivelmente estaria falida. E, fazer notar, que se não fossem as transferências do OGE para o subsistema, os beneficiários teriam de pagar bem mais para poder beneficiar das actuais coberturas. Teria a maioria possibilidade de o fazer ? Estarão dispostos a isso?

Tavisto

Nota saudesa: Passos Coelho e os liberais de pacotilha como Mendes Ribeiro também quiseram fazer da ADSE cavalo de batalha para promoverem a liberalização da Saúde:
«Veja o exemplo da ADSE. A ADSE é um serviço prestado para os funcionários públicos. Não tem hospitais nem clínicas e, contra um custo imputado aos seus funcionários e outro imputado à entidade pagadora que é o Estado, a ADSE contrata os serviços em função da qualidade e do preço e consegue ter um resultado mais eficiente do que o SNS na generalidade. Quer dizer, em função do financiamento da ADSE, as pessoas obtêm um resultado melhor.»
link link
Felizmente a Troika trocou-lhes as voltas.
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4 Comments:

Blogger Sepulveda said...

Ode ao Novo Ciclo…

Os ingenheiros da saúde vão-se aproximando em círculos concêntricos com o intuito de, rapidamente, cercar o novo poder político e cobrar o que há para cobrar. A narrativa deixou de ser científica ou técnica passou a ser aquilo que der jeito escrever ou dizer pelos neo-comerciantes da saúde capitaneados por alguns pseudo-gestores cujo curriculum não deixa dúvidas sobre a qualidade do seu percurso.
Venha o modelo holandês, chinês ou do Burkina Faso se tal der jeito para salvar a negociata.
Convirá, porém, que não se iludam porque nós estamos por cá e vamos dar muito trabalho…

Fica a lembrança de um bom poema:

No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas Pela noite calada
Vêm em bandos Com pés veludo
Chupar o sangue Fresco da manada

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada

A toda a parte Chegam os vampiros
Poisam nos prédios Poisam nas calçadas
Trazem no ventre Despojos antigos
Mas nada os prende Às vidas acabadas

São os mordomos Do universo todo
Senhores à força Mandadores sem lei
Enchem as tulhas Bebem vinho novo
Dançam a ronda No pinhal do rei

Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada

No chão do medo Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos Na noite abafada
Jazem nos fossos Vítimas dum credo
E não se esgota O sangue da manada

Se alguém se engana Com seu ar sisudo
E lhe franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada

Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada

Compositor: José Afonso

9:58 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Portugal vai perder para sempre o controlo das redes de eletricidade, água, telecomunicações, correios e aeroportos. É um péssimo negócio

As ajudas que o Fundo Monetário Internacional concede a países em dificuldade são sempre acompanhadas de um purgante que enfraquece e reduz o Estado, aumenta impostos e corta os direitos sociais e laborais. Se a receita encontra no Governo de plantão um entusiasta dessa orientação, o remédio é tomado até à última gota e sem um mínimo de bom senso.

O que se está a passar em matéria de privatizações em Portugal decorre de imposições do acordo assinado com a troika, sem dúvida. Mas existem mecanismos que permitiriam cumprir as exigências, sem que o Estado português perdesse completamente o controlo sobre algumas das suas empresas estratégicas. O Governo, no entanto, com o primeiro-ministro e o ministro das Finanças à cabeça, compartilham entusiasticamente desta orientação. E, por isso, acaba a golden share da PT sem que o Estado lucre um cêntimo com isso — apesar de ainda muito recentemente ela ter servido para os acionistas da empresa embolsarem mais €350 milhões do que aquilo que tinham concordado receber da Telefónica pela venda da Vivo. O mesmo se vai passar com a EDP e Galp — ou com as privatizações da ANA — Aeroportos de Portugal, TAP, CP Carga, REN, CTT, RTP, os seguros da CGD e as Águas de Portugal.

Quando vender tudo, o Estado terá arrecadado €5,5 mil milhões, uma gota de água no oceano da dívida pública, que alcança os 160 mil milhões. Em contrapartida, as autoridades perdem para sempre o controlo das redes básicas de água, eletricidade, telecomunicações, correios, aeroportos e a transportadora aérea nacional. É um péssimo negócio, que condicionará o futuro dos nossos filhos e netos, em matéria de empregos qualificados, inovação, investigação e, last but not least, segurança.
Poderia ser de outra forma, já que estamos de mão estendida e temos de aceitar as condições que nos impõem? Com toda a certeza. Bastaria auscultar dois jurisconsultos como os professores Fausto Quadros ou Nuno Cunha Rodrigues para perceber: 1) que o Estado pode continuar a manter direitos especiais em empresas; 2) e que há muitos casos semelhantes na Europa, em particular nos domínios da eletricidade, petróleo e defesa. O argumento permitido pela legislação comunitária é o de invocar “motivos de ordem, segurança e saúde pública e as chamadas razões imperiosas de interesse geral” (onde caberiam, sem problemas de maior, os casos da Galp e EDP).

Contudo, o Governo não só não quer ir por aí nem fazer esse esforço como está convencido que o melhor para o país é vender aquilo a que é obrigado e aquilo a que não está (como a RTP, CTT, Águas de Portugal, etc.). É uma clara opção ideológica, que tanto separa as águas entre PSD e PS (e todos os partidos à esquerda) como dentro do próprio PSD.

Juntamente com o imposto extraordinário que deixa de fora lucros e dividendos e com a nova lei de despedimentos e indemnizações que se desequilibra fortemente a favor dos empregadores, esta é a imagem de marca do atual Governo, seguramente o mais liberal que o país conheceu. Pode ser que corra bem e que, como diz o ministro, “no fim do processo (...) Portugal triunfará como economia aberta e competitiva no mundo”. O único problema é que nunca mais será possível reparar o que correr mal.

Nicolau Santos, semanario expresso 30.07.11

12:44 da manhã  
Blogger DrFeelGood said...

O Governo de Passos Coelho faz ainda pior ao vender estas empresas em hasta pública sem acautelar o interesse nacional e indo além do exigido pela troika

Em 2005, a pressão da opinião pública levou a Administração Bush a proibir a empresa estatal chinesa CNOOC de comprar a Unocal, pequena empresa do sector do petróleo. Na Alemanha e em França, o Governo protege tanto as grandes empresas elétricas que ainda não as obrigou a vender os ativos de transmissão (o chamado unbundling). O maior acionista da EDF e da Total é o Estado francês, naturalmente. exemplo, a regularização dos caudais hídricos, o acesso a infraestruturas de transporte e a negociação de contratos de abastecimento de gás com os países produtores. Não há país no mundo em que o governo tenha abdicado de uma forte representação dos interesses nacionais no sector da energia.

As sucessivas tentativas de vender as empresas do sector da energia portuguesas a interesses estrangeiros davam para escrever um romance. Quando fui ministro, impedi in extremis a venda da Galp à Eni e da EDP à Iberdrola. Consegui o possível, dados os compromissos que tinham sido assumidos por governos anteriores, mas há uma certeza que tenho: não teria ficado mais um minuto no governo se não me tivessem dado condições para defender o interesse nacional. Recordo que na ocasião, o PSD e o CDS chamaram-me ao Parlamento porque estavam inquietos com as notícias de que a EDP e a Galp podiam ser vendidas a empresas estrangeiras. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...
O que interessa são os factos. A EDP, a Galp e a REN estão melhor ou pior do que em 2005? Estão melhor em termos de eficiência, valorização e presença internacional. Há mais concorrência? Há, no sector da eletricidade várias empresas estrangeiras obtiveram licenças para construir barragens e centrais a gás. O Governo colocou nestas empresas os seus amigos? Não, o presidente da EDP é um ex-ministro do governo de Santana Lopes, na REN, o maior acionista privado é a Logoplaste, da qual são sócios-gestores próximos do Presidente da República e na Galp o CEO foi escolhido pela Amorim Energia e ENI.

A Galp, REN e EDP são empresas rentáveis e que se valorizaram. A sua venda em hasta pública não pode ser justificada em termos de racionalidade económica, consiste numa decisão que os países que queremos usar como modelo nunca tomariam e representa mais um passo no processo de declínio de Portugal.

Manuel Pinho, expresso, 23.07.11

1:02 da manhã  
Blogger e-pá! said...

A ADSE e os 3 mosqueteiros…

A morte anunciada da ADSE oferece ao sector privado e ao social 2 anos para elaboração de "esquemas" alternativos.
O que não tem alternativa é esses 2 sectores - atolados até ao pescoço na área da Saúde - sobreviverem sem o financiamento público.
E para isso temos a "nova concepção de serviço público" (Cavaco Silva), a eficiência e menores custos (Manuel Lemos) e o carácter "sagrado" destas coisas(Isabel Vaz)...

12:03 da manhã  

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