Rábula dos salamaleques "privatizantes"...
Era uma vez um reino que tentava sobreviver na periferia de um civilizado continente. Perante as repetidas fúrias da mítica divindade, conhecida por Mercado, resolveu investir na aquisição de uma casa de câmbios, penhores e transacções (pouco correntes), que, subitamente, entrara em desgraça por deixar de saciar os seus habituais clientes.
Cedo, os indígenas do reino desconfiaram da operação. E os grandes senhores, dantes assíduos frequentadores, passaram a desdenhar o decadente casino.
Em breve, o assombrado negócio, prometido de borla aos incautos vilões, transformou-se num colossal sorvedouro de patacas. Entretanto, os antigos donos começaram a dar à sola, para paragens longínquas, deixando para trás, semelhante mostrengo e o inevitável bode expiatório.
Volvidos escassos meses, o constante socorro à custa do erário público não conseguia acalmar a furia devoradora do dito. A situação tornou-se avassaladora e foi preciso chamar três doutas iluminárias internacionais a opinarem. O veredicto foi célere e preciso: É preciso vender a coisa pela fresca. Isto é: Antes de Agosto!
Novas dores de cabeça pois ninguém queria comprar o empecilho. Enviaram-se emissários a todos os continentes com convites a inúmeros hipotéticos interessados. Mas, nada!
Em vésperas de fim do prazo, finalmente, três promitentes começaram a rondar o Tesouro da república, fingindo-se desinteressados. Soltando bitaites de desdém sobre o alto risco e toxidade do negócio.
Foi então, que um homem sorumbático, inopinadamente sentado na cadeira do poder, de falas espartanas, que usualmente embrulha problemas complicados em frugais explicações de poucos minutos, decidiu intervir: Se têm medo de comprar, oferecemos. Se, mesmo assim, existirem problemas estamos dispostos a dar bónus. Pois, então!
Mesmo assim, ninguém parecia “pegar”.
O homem taciturno decidiu, então, subir a parada: Vamos rifar a coisa!
Cedo, os indígenas do reino desconfiaram da operação. E os grandes senhores, dantes assíduos frequentadores, passaram a desdenhar o decadente casino.
Em breve, o assombrado negócio, prometido de borla aos incautos vilões, transformou-se num colossal sorvedouro de patacas. Entretanto, os antigos donos começaram a dar à sola, para paragens longínquas, deixando para trás, semelhante mostrengo e o inevitável bode expiatório.
Volvidos escassos meses, o constante socorro à custa do erário público não conseguia acalmar a furia devoradora do dito. A situação tornou-se avassaladora e foi preciso chamar três doutas iluminárias internacionais a opinarem. O veredicto foi célere e preciso: É preciso vender a coisa pela fresca. Isto é: Antes de Agosto!
Novas dores de cabeça pois ninguém queria comprar o empecilho. Enviaram-se emissários a todos os continentes com convites a inúmeros hipotéticos interessados. Mas, nada!
Em vésperas de fim do prazo, finalmente, três promitentes começaram a rondar o Tesouro da república, fingindo-se desinteressados. Soltando bitaites de desdém sobre o alto risco e toxidade do negócio.
Foi então, que um homem sorumbático, inopinadamente sentado na cadeira do poder, de falas espartanas, que usualmente embrulha problemas complicados em frugais explicações de poucos minutos, decidiu intervir: Se têm medo de comprar, oferecemos. Se, mesmo assim, existirem problemas estamos dispostos a dar bónus. Pois, então!
Mesmo assim, ninguém parecia “pegar”.
O homem taciturno decidiu, então, subir a parada: Vamos rifar a coisa!
Já na praça pública o pregoeiro anunciou : quem ficar com o casino, com sucursais por todo o país, como prémio, assumimos o encargo metade dos trabalhadores.
Silêncio! O pregoeiro voltou à carga: Metade dos trabalhadores e todos os produtos tóxicos ficam para a casa.
Nada!
O homem exasperado continuou: Já não existem empreendedores? Ninguém dá nada? Uma... Ninguém dá nada, duas... Meus senhores e minhas senhoras! Por serdes quem sois, aceito qualquer oferta.
Finalmente, do fundo da multidão ergueu-se uma voz trémula tipo "sopinha de massa" que respondeu à oferta: 40 milhões de euros e não se fala mais nisto. Vim aqui com a intenção de ajudar um País em início de vida.
Comovido o pregoeiro rematou: Reconhecendo que se trata de um benemérito, ainda leva como garantia de liquidez a módica quantia de 550 milhões de euros. Livres de encargos.
Solenemente, deu as três pancadinhas da praxe dando por encerrada a sessão. Por coincidência, o Zé povinho (o tal Zé!) que assistia na 1ª. fila, para não perder pitada, levou com o martelinho no toutiço. Três vezes, confirmou quem viu.
O senhor sorumbático aproximou-se do palanque e caçou o microfone para concluir: Acabámos de cumprir um item do memorando. Ponto final.
Muito obrigado, meus senhores e minhas senhoras, até ao próximo item. E. muito obrigada pela atenção dispensada!
E-Pá!Silêncio! O pregoeiro voltou à carga: Metade dos trabalhadores e todos os produtos tóxicos ficam para a casa.
Nada!
O homem exasperado continuou: Já não existem empreendedores? Ninguém dá nada? Uma... Ninguém dá nada, duas... Meus senhores e minhas senhoras! Por serdes quem sois, aceito qualquer oferta.
Finalmente, do fundo da multidão ergueu-se uma voz trémula tipo "sopinha de massa" que respondeu à oferta: 40 milhões de euros e não se fala mais nisto. Vim aqui com a intenção de ajudar um País em início de vida.
Comovido o pregoeiro rematou: Reconhecendo que se trata de um benemérito, ainda leva como garantia de liquidez a módica quantia de 550 milhões de euros. Livres de encargos.
Solenemente, deu as três pancadinhas da praxe dando por encerrada a sessão. Por coincidência, o Zé povinho (o tal Zé!) que assistia na 1ª. fila, para não perder pitada, levou com o martelinho no toutiço. Três vezes, confirmou quem viu.
O senhor sorumbático aproximou-se do palanque e caçou o microfone para concluir: Acabámos de cumprir um item do memorando. Ponto final.
Muito obrigado, meus senhores e minhas senhoras, até ao próximo item. E. muito obrigada pela atenção dispensada!
Etiquetas: liberais pacotilha
2 Comments:
Parabéns ao E-Pá! pelo excelente retrato caricatural que faz “da coisa”. Só um país atrasado e sem expressão cívica pode assistir pacificamente a todo este enredo kafkiano em torno do BPN/SLN sem um sobressalto colectivo.
Somos hoje uma sociedade amedrontada e conformada com o vil destino que o pensamento de direita liberal nos prepara. Tudo parecemos aceitar com resignação, como se estivéssemos a expiar um crime colectivo. Temo mesmo que nem a privatização das Águas de Portugal consiga insurgir a sociedade portuguesa para além dos designados críticos do costume.
Parabéns ao E-Pá.
Excelente Sketch sobre o Cavaquismo.
Que melhor tema -o BPN e a angústia dos contribuintes portugueses- para fazer uma peça de teatro ou um filme sobre o cavaquismo.
É estranho que os nossos criadores ainda não ainda percebido o enorme potencial desta temática para a criação de obra artistica.
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