sexta-feira, novembro 25

powerpointware

Documento com pouco sumo link

O que se conhece do relatório apresentado pela equipa de José Mendes Ribeiro mereceu comentários de alguns dirigentes do sector da Saúde, que o «Tempo Medicina» aqui resume .

Carlos Arroz : À espera da «decisão política»

O dirigente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Carlos Arroz, que assistiu à apresentação do documento, espera com expectativa pela «decisão política», já que, na sua opinião, apesar de ser «um bom exercício», de «sumo tem pouco».
Afinal, reforça, há medidas ali apresentadas que há anos andam a ser discutidas e, nesta altura, o que o secretário-geral do SIM esperava era «saber o que vai fechar, o que é que não vai fechar. Há aqui hospitais que já deviam estar fechados há 18 anos». E acrescenta: «Vai haver reformulação nas estruturas dos hospitais, não se sabe quais. Vai haver reformulação nos recursos humanos, não se sabe quando. Vamos controlar a despesa, não se sabe como. Esperava medidas concretas, como encerramento de unidades hospitalares, encerramento de serviços hospitalares, encerramento de Urgências na área de Lisboa, Porto, Coimbra.» São medidas que merecem «obviamente todo o apoio» do SIM, «o problema é que precisamos de as ver concretizadas», remata.

José Manuel Silva : «Estava à espera de mais»

Para o bastonário da Ordem dos Médicos, o relatório (ou o que se sabe) está recheado de «conceitos teóricos que só podem provir de profissionais pouco ligados ao exercício prático da Medicina». José Manuel Silva admite mesmo que «estava à espera de mais», de «um relatório com medidas mais realistas, menos teóricas, o que não quer dizer que não aponte soluções teóricas, mas que indicasse pelo menos caminhos para a sua implementação».
E exemplifica: «Quando se pretende hospitais mais eficientes é o que todos pretendemos, quando se pretende ter a qualidade como trave mestra da reforma hospitalar é o que todos pretendemos, já estamos fartos de ouvir e de falar nisso.» E é nessa medida que o bastonário esperava um «relatório mais orientado para soluções concretas e, eventualmente, de aplicação imediata», mas parece-lhe que «não é isso que acontece».
Em declarações ao nosso Jornal, José Manuel Silva contestou ainda ideias como a transferência de competências da actividade médica para a área de enfermagem, a forma como foi apresentada a transferência de utentes não urgentes para os cuidados de saúde primários ou a liberdade de escolha do utente entre todas as unidades hospitalares. É que, para o bastonário, «a competição entre hospitais não faz sentido».

Maria Augusta de Sousa : Urge «tornar inteligível o discurso»

A Ordem dos Enfermeiros reagiu à apresentação do relatório, ao qual também assistiu, com um comunicado à Imprensa onde também critica a liberdade de escolha por parte do utente. Segundo se lê no texto assinado por Maria Augusta de Sousa, «a liberdade de escolha do cidadão pode ser um princípio falacioso pelas dificuldades que pode implicar no acesso aos cuidados e na própria organização dos cuidados».
O comunicado refere ainda a necessidade de o Ministério da Saúde promover uma «efectiva mudança de paradigma — do modelo hospitalocêntrico para o modelo da promoção da saúde —, o que só pode ocorrer com um investimento significativo nos cuidados de saúde primários», tanto no que diz respeito a recursos materiais como humanos, já que só nos centros de saúde faltarão «cerca de 3500 enfermeiros».
A Ordem dos Enfermeiros defende ainda que está na hora de o Ministério da Saúde ultrapassar «os discursos vários e vagos sobre cortes na área da Saúde, clarificando o seu exacto alcance». «Urge assim tornar inteligível o discurso para que todos os actores — profissionais e utentes — saibam com o que podem contar», remata Maria Augusta de Sousa.

Rita Vassal/Teresa Mendes , Tempo de Medicina, 28.11.11

Nota:
A propósito do título deste post: "Qualquer coisa…ware"
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4 Comments:

Blogger DrFeelGood said...

Compreende-se melhor agora a arrogância de Mendes Ribeiro nas sessões públicas que promoveu para divulgação deste estudo powerpointware.

Agora cabe ao ministro da saúde a penosa missão de o salvar da gaveta.

11:33 da tarde  
Blogger Clara said...

Poder-se-à concluir da leitura do dito relatório, uma vez que só tivemos acesso ao powerpoint de apresentação, que o grupo de trabalho não foi além da primeira fase do estudo que era suposto desenvolver: O levantamento de situação, através da recolha de ideias e de medidas há muito tempo propostas e discutidas pelos mais variados sectores da saúde.

É evidente que o MS estava à espera de mais.

Uma coisa é certa, Paulo Macedo errou na escolha de Mendes Ribeiro para coordenador de tão importante trabalho. E certamente irá pagar o preço político de tão infeliz decisão.

12:06 da tarde  
Blogger Clara said...

O Ministério da Saúde não confirma a existência de negociações com a troika sobre uma possível injecção de dinheiro nos hospitais para estes saldarem a dívida que têm com fornecedores. Ainda assim, em declarações ao PÚBLICO, fonte do Ministério da Saúde garante que o atraso dos hospitais nos pagamentos a fornecedores é um problema premente para a tutela e assume que a solução passe por consignar uma verba para este propósito. link

Deus queira que não se trate de mais uma treta para ganhar tempo e aliviar a pressão dos credores.
Começo a ter pena do Ministro da Saúde, um homem indubitavelmente sério que cometeu o erro de aceitar o convite destes liberais de meia tijela sem alma nem honra.

12:12 da tarde  
Blogger Tavisto said...

Em entrevista na última edição do Expresso, Mendes Ribeiro insiste nas vantagens do modelo PPP em saúde alegando que os hospitais construídos em parceria foram edificados em metade do tempo e por metade do custo, dos últimos construídos directamente pelo Estado.
Embora saibamos que temos um Estado complacente e perdulário, vítima dos mais variados interesses público/privados, tanta produtividade e eficiência privada parece “muita fruta”, como se diz em linguagem coloquial. Convém referir, coisa que Mendes Ribeiro não menciona na dita entrevista, que, para além da construção, as nossas parcerias englobam contratos de gestão/exploração dos ditos hospitais por 20 anos, período durante o qual podem vir a compensar-se de eventuais perdas na fase de arranque.
A este propósito, temos bem presente o que se passou com a gestão do Amadora-Sintra, processo complexo, sem desfecho à vista, em que o Estado reclama 60 milhões indevidamente cobrados pelo grupo Mello (notícia do Público de hoje). Ou, mais recentemente, os expedientes de que se tem servido o mesmo grupo económico para reverter a seu favor o acordado em termos de cobertura assistencial do hospital de Braga, de que resultou a aplicação de coimas por parte do Estado (esperemos que de cobrança mais expedita que a dívida do Amadora-Sintra).
Face à evidência, esta posição indefectível de Mendes Ribeiro quanto às virtudes das PPP é reveladora de proselitismo ideológico, mal de sinal contrário ao que costuma apontar aos defensores dos serviços públicos de saúde.

3:54 da tarde  

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