domingo, dezembro 30

Já não há pachorra


Os portugueses têm como marca identitária fundamental a tolerância e a resignação. Durante séculos, nos diferentes momentos da nossa história vemos registo dessa temperança e ponderação ainda que, muitas vezes, disfarçada por uma revolta interior marcada pela ironia e pelo azedume.
Talvez assim se explique a capacidade do povo em resistir à agressão de que tem vindo a ser vítima nos últimos tempos. Com efeito um grupo de “rapazolas” investidos em funções governativas descobriu estar legitimado para dar lições de moral sobre tudo e mais alguma coisa. Patética circunstância tendo em conta a biografia de tais personagens, suas histórias de vida e grupos de “amigos”.
O melhor exemplo desta pesporrência tem-nos sido dado pela persistente alusão à putativa circunstância de termos andado a viver acima das nossas possibilidades. Vindo de quem vêm os reparos o mínimo que podemos esboçar será um esgar de sorriso intrépido e complacente.
Na saúde também vão surgindo alguns apontamentos de humor que merecem destaque. Deixamos aqui alguns exemplos em jeito de balanço de final de ano com desejos expressos para o Novo Ano de 2013:
- Resolver o problema dos gestores instalados (há muitos anos) que descobrem (subitamente) problemas graves de absentismo e de produtividade que não hesitam em lançar anátemas populistas sobre os profissionais que tutelam.
- Esperar uma posição técnica e firme por parte da DGS relativamente ao “regabofe” comercial da “indústria” das cesarianas no setor privado da saúde.
- Descobrir a razão da destruição do programa de transplantação em Portugal.
- Descobrir como podem os portugueses partir para os “auto-cuidados” preventivos quando, em 2012, ocorreu o maior corte nos domínios da saúde pública e da promoção da saúde.
- Deixar de utilizar, politicamente, os “casos de polícia” para justificar o continuado agravamento das condições de acesso ao medicamento.
- Assumir que não haverá nenhuma reforma hospitalar ou das urgências dignas desse nome nem em 2013 nem em 2014.
Quanto ao resto pediremos apenas uma coisa: deixem de nos tratar como atrasados mentais com ar sobranceiro e paternalista. Não esqueçam de que mais cedo do que tarde regressarão à condição de simples cidadãos e, que além disso, a malta já não vos liga muito. Até porque, francamente, já não há pachorra… 

Olinda

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