O desastre da transplantação
O Ministro da Saúde decidiu nomear mais um grupo de trabalho, coordenado por Hélder
Trindade, presidente do IPST, para "avaliar exaustivamente as possíveis causas de diminuição da transplantação de órgãos em Portugal e propor medidas correctivas ". link
Sobre esta matéria importa recordar o seguinte:
1.º «Questionado sobre
se os transplantes estariam em risco, o ministro Paulo Macedo admitiu que
"pode não haver o mesmo número de transplantes", explicando que é
preciso perceber se o País "pode sustentar o actual número de
transplantes".
"O que pretendemos é manter um número de transplantes
tão interessante e de qualidade como tem vindo a ser feito, mas claramente
dando menos incentivos aos hospitais, porque também não é necessário. Estes
incentivos visam um incremento e o que nós achamos é que não é necessário haver
aqui um incremento", acrescentou o ministro.» link
2.º Na sequência
destas declarações o presidente e a coordenadora nacional da Autoridade dos
Serviços do Sangue e da Transplantação pediram a demissão em protesto contra as
intenções do ministro da Saúde de cortar as verbas daquele organismo.
3. º Manuel Pizarro num artigo, "Transplantação o Desastre", publicado no expresso (18.08.12), põe o dedo na ferida:
«Os números são assustadores. No primeiro semestre de 2012,
em comparação com o mesmo período do ano anterior, realizaram-se em Portugal
menos 100 transplantes de órgãos. Uma queda de 22%. Na transplantação renal o
recuo é ainda mais significativo: menos setenta e três transplantes, uma
redução de 25%. link
Aconteceu o que especialistas vaticinaram quando o actual
ministro da Saúde anunciou, logo no verão de 2011, um conjunto de medidas
avulsas na área da transplantação. É altura das recordar e pedir
responsabilidades.
Primeiro, a decisão de reduzir em 50% o apoio financeiro dado
aos hospitais por cada transplante. Um corte excessivo e desproporcionado,
incluindo até a colheita de órgãos, que era já insuficientemente apoiada.
Depois, a forma displicente como Paulo Macedo reagiu aos
protestos por esta decisão. O ministro declarou, de forma pouco sensível, que o
país talvez não tivesse condições para se manter na liderança mundial da
transplantação.
Finalmente, a extinção da Autoridade para os Serviços de
Sangue e Transplantação. Sem qualquer racionalidade, dissolveu-se este organismo
qualificado, que tinha apenas sete profissionais e um orçamento de setecentos
mil euros, mas excelentes resultados demonstrados. A sua actividade foi
integrada no muito maior Instituto Português de Sangue e da Transplantação, a
braços com a dramática situação nacional da falta de sangue. Como consequência,
desapareceu a efectiva coordenação dos programas de transplantação e a
capacidade de intervenção atempada, antes protagonizados pelo saber e pela
dedicação sem limites de João Rodrigues Pena e de Maria João Aguiar.» link
Depois de tudo o que foi decidido e dito sobre esta matéria, ficamos a aguardar
com enorme expectativa o resultado do trabalho sobre mais este desastre da politica de saúde de Paulo Macedo.
Clara Gomes
artwork- expresso
Etiquetas: Paulo Macedo, Politica de Saúde
2 Comments:
Trata-se de um óptimo texto, muito sólido e claro. O saudesa está a voltar ao brilho de outros tempos.
A Clara Gomes evidencia como a adesão cega a objectivos troikados de cortes de despesa afectam a saúde das pessoas e corroem o SNS.
Em nossa opinião este ministro não suporta a diferença e o que possa comprometer o objectivo de corte. Como também lhe custa aceitar regras e normas técnicas, que recusa ou adia sempre que pode, salvo as que reduzam despesas.
A não ser que anteveja conflitos e contestação que possam por em risco o governo. Então adia ou nomeia uma comissão, de que esta dos tranplantes é mais uma entre muitas das que servem apenas para empalear.
Tudo sem que o ministro tenha esclarecido o que pretende para os transplantes, qual é a sua visão do futuro e como vai concretizá-la.
É facil antever o futuro próximo: Espremer funcionários e dificultar o bom funcionamento do SNS; Entregar a privados o que for apetecível.
Destroikado e Malpago - comentário recebido por mail.
Documentos relativos ao primeiro Governo da conservadora Margaret Thatcher, divulgados nesta sexta-feira pelo Arquivo Nacional, revelam que a primeira-ministra britânica foi forçada a travar um ambicioso plano para o desmantelamento das instituições do Estado social no Reino Unido, nomeadamente o serviço nacional de saúde e a educação gratuita, para evitar “um motim” dentro do seu executivo.
O plano, que saiu do gabinete do chanceler Geoffrey Howe, previa introduzir pagamentos obrigatórios para a frequência do ensino obrigatório e acabar com o financiamento público do ensino superior, e ainda o congelamento dos subsídios atribuídos pela Segurança Social ou o estabelecimento de um sistema de saúde privado, através da privatização dos hospitais.
As propostas, redigidas pelo Central Policy Review Staff em 1982 por instrução de Thatcher e Howe, tinham como objectivo reformar o Estado e diminuir a despesa pública. Os documentos que circularam por Downing Street notavam, claramente, que a ser executado, o plano significaria "o fim do sistema nacional de saúde”.
Um dos parágrafos explicava que “vale a pena considerar um período de tempo para eliminar o financiamento público da saúde para a grande maioria da população”, para que “as unidades médicas possam ser detidas e geridas pela iniciativa privada”. O resultado seria que “quem buscar cuidados médicos seja obrigado a pagar por eles” – com algumas excepções previstas, nomeadamente para as famílias na pobreza ou os indivíduos com doenças mentais.
Segundo mostram os documentos desclassificados pelo Arquivo Nacional (após um período de 30 anos de segredo), estas propostas foram discutidas numa reunião alargada do executivo a 9 de Setembro de 1982, na qual vários ministros se insurgiram contra o que descreveram como uma “agenda radical”. O “motim” levou Thatcher a engavetar o documento.
Anos mais tarde, Thatcher recordou o episódio nas suas memórias, escrevendo que ficou “horrorizada” quando leu o documento e que imediatamente tinha notado que se o relatório chegasse ao conhecimento público “causaria uma impressão totalmente errada”.
JP 28.12.12
Depois destes anos todos temos de gramar a junta nacional de liberais de pacotilha liderada pelo sr. Gaspar a querer imitar o que a sr.ª Thatcher abandonou há trinta anos.
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