Cavaco, apelo à resignação
O líder do Bloco de Esquerda João Semedo defende que o Presidente da República fez um «discurso inacreditável» e de «fação», em que reconheceu o «insucesso da política de austeridade e apelou a mais austeridade e à resignação».link
«O Presidente da República fez um discurso de fação que ofende os princípios da pluralidade e da democracia do 25 de Abril», afirmou João Semedo aos jornalistas após a sessão solene de comemoração dos 39 anos do 25 de Abril.
Reagindo ao discurso do Presidente da República, Cavaco Silva, João Semedo disse que o Chefe de Estado «reconheceu o insucesso da política de austeridade e apelou a mais austeridade e sobretudo à resignação dos portugueses perante essa austeridade».
«Foi um discurso inacreditável que até os cravos que estavam em frente do Presidente da República caíram, tal foi o choque com as palavras do Presidente», afirmou.
«O Presidente da República é hoje o fio que agarra o Governo. Este é, como já alguém já disse, um Governo de iniciativa presidencial», sublinhou, numa alusão a uma frase proferida pelo ex-primeiro-ministro José Sócrates numa entrevista recente.
Para João Semedo, a intervenção de Cavaco Silva pode ter apelado ao consenso, mas contraria esse consenso ao ter sido «um discurso de sustentação da maioria política e ideológica que o elegeu, um discurso próprio de um tempo em que há uma maioria de direita, um Governo de direita e um Presidente de direita».
«É grave que um Presidente da democracia, considere que a democracia, que as eleições, não são a solução para as crises políticas», afirmou.
João Semedo, TVI 25.04.13
Sem surpresa, no lugar de resignação, vamos ter violência, cargas policiais e mortes nas ruas.
Clara
Etiquetas: Um país em sofrimento
9 Comments:
O PS não gostou do discurso do Presidente da República nas cerimónias oficiais do 25 de Abril na Assembleia da República. Alguns ficaram mesmo indignados. É o caso do deputado João Galamba que diz mesmo que Cavaco Silva “endoidou”.
Ainda Cavaco Silva discursava na Assembleia da República quando João Galamba escreveu na sua conta pessoal no Twitter: “Cavaco quer cumprir o tratado orçamental mas queixa-se da austeridade generalizada em toda a Europa. É oficial: endoidou.”
Mais à frente acrescentava que as palavras do chefe de Estado no Parlamento eram um “discurso miserável de um miserável Presidente. Que vergonha”.
Contactado pelo PÚBLICO, João Galamba confirmou que aquela era a sua conta pessoal no Twitter e que as mensagens eram da sua autoria. “Foi um discurso insultuoso para a democracia”, reforçou.
“O 25 de Abril enraizou nos três D [Democratizar, Descolonizar e Desenvolver]. O que ele [Cavaco Silva] nos informou agora é que o tratado orçamental é que é o grande desígnio nacional”, acrescentou. Para o deputado socialista, o Presidente da República “informou os portugueses” que as eleições “deixaram de ser um instrumento para gerar alternativa”. “Basicamente o que diz é que as eleições deixaram de ser relevantes. Foi um discurso insultuoso”.
JP 25.04.13 link
O social-democrata Pacheco Pereira classificou o discurso de Cavaco Silva nas comemorações do 25 de Abril como um «erro político muito considerável».
Em declarações no programa Quadratura do Círculo, da SIC Notícias, este ex-dirigente do PSD considerou que este discurso «marca um antes e um depois no exercício da função presidencial».
«O que o Presidente da República fez neste discurso foi cortar qualquer possibilidade de ele assumir uma posição de intermediário, em particular, entre o Governo e o PS», acrescntou.
Pacheco Pereira defendeu ainda que este discurso foi «não só uma colagem substantiva às posições do Governo» como também apresentou a questão do consenso «de uma forma agressiva contra o PS».
TSF 25.04.13 link
O Presidente escolheu o dia 25 de Abril para fazer um discurso divisionista, sectário e anti-democrático. Esperava-se que se mostrasse sensível ao sofrimento dos portugueses e dissesse que em democracia há sempre alternativas. Mas não. Fez o contrário. Defendeu o “seu” governo, fechando a porta a qualquer hipótese de consenso com aqueles partidos e pessoas que pensam que é possível governar de maneira diferente.
A quem se dirige o Presidente com estas palavras? ”É essencial que, de uma vez por todas, se compreenda que a conflitualidade permanente e a ausência de consensos irão penalizar os próprios agentes políticos mas, acima de tudo, irão afetar gravemente o interesse nacional, agravando a situação dos que não têm emprego ou dos que foram lesados nos seus rendimentos, e comprometendo, por muitos e muitos anos, o futuro das novas gerações.”
Será que o Presidente não reparou que o governo anda há dois anos a fomentar um clima de ”conflitualidade permanente” e que só agora quer consenso com o PS?
“É indiscutível que se instalou na sociedade portuguesa uma «fadiga de austeridade», (…) Mas, do mesmo modo que não se pode negar o facto de os Portugueses estarem cansados de austeridade, não se deve explorar politicamente a ansiedade e a inquietação dos nossos concidadãos.”
Quem é que o Presidente está a querer atingir com esta frase? Será o PS e os outros partidos da esquerda parlamentar”? Não é o governo que explora “a ansiedade e a inquietação” dos portugueses, incutindo-lhes medo e angústia, mandando-os até emigrar porque o País não tem futuro para lhes dar?
E, como se não bastasse, é na frase seguinte que o Presidente revela a sua falta de cultura democrática, desvalorizando a capacidade de os portugueses, através do voto livre, escolherem outro governo e outras políticas:
“(…) quaisquer que sejam os partidos que se encontrem no Governo, o País, depois de encerrado o atual ciclo do programa de ajustamento, adotará políticas compatíveis com as regras fixadas no Tratado Orçamental que Portugal subscreveu.”
Foi um discurso indigno do 25 de Abril. Um discurso lamentável!
Estrela Serrano link
Um "Presidente" de facção
Cavaco nao surpreende. A velha expressão de Clara Ferreira Alves referindo "Cavaco saiu de Boliqueime mas Boliqueime nao saiu de Cavaco" recupera toda a sua actualidade. Sem dimensão,sem grandeza, sem "mundo", sem cultura e sem saber Cavaco revela-se na mesquinhez do seu "pensamento" e na pequenez da sua acção. Portugal nao podida viver pior pesadelo. O sonho de Sá Carneiro - um governo, uma maioria e um presidente cumpre-se da pior forma. O pior governo da democracia capitaneado pelo mais desonroso titular da chefia do Estado. Cavaco ficara para a história como o maior embuste político gerado em democracia. Responsável pela destruição do tecido produtivo, criador de um modelo de desenvolvimento baseado no endividamento especulativo, que tão bem serviu a casta que se foi criando a sua volta, Cavaco ficara para a História como a expressão máxima de como o principio de Peter se aplica a política com custos irreparáveis para as sucessivas gerações. Em tempo de swaps e de outros activos tóxicos Cavaco representa o protagonista maior da gestão danosa política mais persistente e duradoura do nosso pais.
Depois do discurso de ontem, há comentadores que se questionam sobre se a maioria ganhou um líder e o País perdeu um Presidente. Não sei o porquê das dúvidas.
Que o País não perdeu um Presidente, parece-me óbvio: não se perde aquilo que se não tem.
Que a maioria tenha ganho um líder, duvido.
O Prof. Cavaco Silva meteu um pé no Governo? Claro que sim. Mas, prudentemente, como é seu hábito, deixou o outro de fora, para poder dar o salto quando o achar necessário.
A ida a Belém de Passos Coelho e Vitor Gaspar, após o chumbo do Tribunal Constitucional (de normas orçamentais cuja constitucionalidade tinha sido levantada, recorde-se, pela Presidência da República) deixou-me curioso.
A mini-remodelação, que se seguiu, levantou a ponta do véu. O discurso de ontem pôs tudo a nu. O PR fez uma jogada de três em um: deu uma mordidela no “Passismo”, espetou um punhal no CDS (coitado do Paulo Portas que mais parece o mártir S. Sebastião) e encostou o PS à parede.
Bravo Prof. Cavaco Silva: para quem pretende estar acima da política o lance foi de mestre. É pena que tenha ignorado um pormenor, quiçá pouco relevante; o interesse nacional que o Senhor, repetidamente, afirma querer defender!
josé meneses correia, facebook
O medo está ao leme
O Presidente da República leu no 39.º Aniversário do 25 de Abril o mais aporético e contraditório discurso da história da III República. Denunciou a incompetência da troika, mas saudou o doloroso cumprimento do seu insensato programa pelo esforçado povo português. Apelou a uma mudança do rumo da Europa, mas concordou com a tese do Governo que condena a nação a carregar a albarda dos credores até ao fim dos tempos. O discurso de Cavaco, com as suas oscilações de 180º, é um raro exemplo do medo como política pública. O País está à deriva, pois quem toma decisões está paralisado pelo pânico, em estado quimicamente puro. A única maneira de a História ser benevolente para com Cavaco Silva, o político que deu rosto a todos os pecados e omissões da III República, é a de ela nunca ser escrita. Seria a benevolência do esquecimento, resultante do desaparecimento de Portugal como sujeito histórico, como lugar onde a aventura da vida comum se cristaliza em memória. Será essa a secreta esperança do Presidente?
VIRIATO SOROMENHO-MARQUES DN 27.04.13
O conspirador da Mariani queria lá saber do FMI
Cavaco Silva fez a vida negra aos governos da AD de Pinto Balsemão em 1981 e 1982, um ano antes da assinatura de mais um pacote de ajuda do FMI a Portugal (o primeiro tinha sido em 1978).
Os executivos Balsemão tinham uma maioria no Parlamento mas Cavaco não se importou com isso.
Conspirou, escreveu cartas abertas, fez reuniões secretas no Banco de Portugal, na sua vivenda algarvia Mariani (de Maria e Anibal). Até em traineiras de pesca com sardinhada ao almoço conspirou.
Destruiu mas nunca apresentou alternativas. Na hora da verdade, não apresentava listas nos órgãos nacionais do PSD.
Contribuiu fortemente para a instabilidade política, que levou os governos Balsemão à queda, e nesta medida, é também responsável pela degradação na altura das condições económicas do país e pelo recurso inevitável ao FMI para se evitar a bancarrota.
Em Fevereiro de 1983, com o PSD em fanicos e o país aflito, a três meses de ser resgatado, Cavaco nem se dignou ir ao Congresso laranja de Montechoro. Preferiu ficar no bem-bom da Mariani, a 200 metros da assembleia magna do PSD.
Nem quis participar na campanha para as eleições de 25 de Abril de 1983.
Durante o governo do Bloco Central, entre 1983 e 1985, Cavaco recusou negociar enquanto quadro do Banco de Portugal com as equipas do FMI que estiveram no país.
Quando Mota Pinto lhe pediu para expor, num Conselho Nacional do PSD, a politica económica do governo, primeiro não quis e depois acabou por fazer um discurso muito crítico para a política do governo, que fez tremer o executivo e ameaçou o cumprimento do programa de assistência internacional.
De vez em quando Cavaco dava apoio mitigado à direcção do PSD, fazendo jogo duplo com Mota Pinto e o governo do Bloco Central. Tinha o único objectivo de se manter à tona, à espera do melhor momento para aparecer, após os outros terem feito o trabalho difícil da recuperação do país.
Em 1985 chegou essa hora. Venceu o Congresso da Figueira da Foz e rompeu o acordo do Bloco Central, o que conduziu à realização de eleições antecipadas que já sabia que ia ganhar, esmagando o PS com a ajuda de Ramalho Eanes e do seu novo PRD.
É este homem, hoje Presidente da República, que fala no 25 de Abril na necessidade imperiosa de acabar com a crispação política, gerando consensos e "condições estruturais de governabilidade" para evitar um segundo pacote de resgate e critica quem explora "politicamente a ansiedade e a inquietação dos nossos concidadãos"...
Paulo Gaião, expresso 27.04.13
Mestre da canalhice política...
Crispações
Cavaco Silva conseguiu, há dois anos e em poucos meses, concretizar o sonho antigo de Sá Carneiro: foi reeleito Presidente, deu uma mão invisível à demissão de Sócrates e, das eleições antecipadas, saiu uma maioria e um Governo de direita. Não era o cenário perfeito: a maioria deveria ser absolutamente PSD. E não foi. Mas o Presidente pôde dormir descansado uns tempos. O empréstimo internacional, a estabilidade política e a eleição de Seguro prometiam descrispação do discurso político. Mas eis que chegamos a meio desta legislatura noutro mundo. A maioria ignorou a oposição e crispou-se entre si, o país sofre da “fadiga da austeridade” e o empréstimo está a chegar ao fim. Seguro tomou as dores do país fatigado e as do partido indignado, deixouse de falinhas mansas e partiu para a luta. O Presidente viu-se outra vez no seu labirinto. Teve de gerir a crise da TSU, fazer equilibrismo político quanto ao Orçamento e, por fim, fazer de conta que o “chumbo” do Tribunal Constitucional não lhe dizia respeito. Aterrorizado com o cenário político italiano, Cavaco recuou e escondeu-se atrás do Governo. Se era contra a austeridade custe o que custar, tornou-se o proclamador da estabilidade a qualquer preço. Deitou fora o papel de árbitro no discurso de Ano Novo e trocou-o pela cartilha ditatorial do “economês”. Ao fazê-lo tão declaradamente no 25 de Abril, tornou-se ele no arauto da crispação política. Parece ter-se esquecido que o seu partido não tem maioria e não é certo que chegue ao fim da legislatura. E as portas que fechou para o futuro só são dramáticas porque não estamos a falar de Cavaco, mas do país.
Leonete Botelho , JP 27.04.13
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