Medidas substitutas
A composição das medidas substitutivas (...) tem a ver com
contribuições sociais pagas pelos beneficiários de subsídio de desemprego e de
subsídio de doença-
Vítor Gaspar, Ministro das Finanças
Os desempregados e doentes beneficiários de subsídios
públicos vão mesmo contribuir para tapar o “buraco” do Orçamento do Estado
deste ano que foi aberto pelo chumbo do Tribunal Constitucional a várias
medidas previstas pelo Governo. A medida foi anunciada pelo ministro das
finanças, Vítor Gaspar, aos seus parceiros da zona euro e da União Europeia
(UE) durante uma reunião informal, em Dublin, no quadro da sua exposição sobre
a forma como o Governo conta obter as economias de 1326 milhões de euros postas
em causa pelo TC.
“A composição das medidas substitutivas [das que foram
chumbadas] terá que ver com o redesenho de uma medida que o Tribunal
Constitucional considerou não preencher os requisitos constitucionais e tem a
ver com contribuições sociais pagas pelos beneficiários de subsídio de
desemprego e de subsídio de doença”, afirmou Gaspar à imprensa. “Essa medida
pode ser redesenhada de forma a minimizar o impacto orçamental”, precisou.
JP 13.04.13
O Governo insiste em cortar na despesa com desempregados e
doentes. Não há alternativas?
No dia em que respondeu ao chumbo do Tribunal Constitucional
a quatro normas inscritas no Orçamento do Estado deste ano, o primeiro-ministro
prometeu novos cortes na despesa da Segurança Social, Saúde e Educação e deixou
no ar uma previsão solene: “Não duvido de que aparecerão vozes a protestar que,
com isso, estaremos a pôr em causa o Estado social e que o Governo não aprende
a lição, parando com a austeridade.” Ontem, o Governo confirmou as piores
expectativas, com o ministro das Finanças a assumir que os beneficiários do
subsídio de desemprego e do subsídio por doença vão ser alvo de cortes. O que
está em causa, pode dizer-se, é o “redesenho” do artigo do Orçamento que previa
essas reduções e que os juízes do TC chumbaram por razões formais. Mas a
insistência em reduzir esta prestação sem olhar para o universo dos que dela
beneficiam é sintoma de que, de facto, o desespero do Governo em encontrar
resposta às pressões da troika deixou de ter em consideração o modelo de
redistribuição e de previdência que está na base do Estado social. Passos e
Gaspar não tinham alternativas, uma vez que a possibilidade de substituir a
redução de despesas por um novo aumento da receita fiscal estava fora de causa,
pode argumentar-se. É verdade, mas na curtíssima margem de manobra que resta ao
executivo vale a pena aceitar o desafio de Passos e protestar contra medidas
que põem em causa os desempregados e os doentes. E já nem se põe em causa a
impossibilidade de “parar a austeridade”. Pergunta-se, como faz a troika, por
que razão continua a haver rendas excessivas ou preços de bens que resistem à
concorrência sem que se veja por parte do Governo grande preocupação em
encontrar aí alternativas? Passos tem de responder ao chumbo do TC e nessa
urgência não havia lugar a medidas simpáticas. A insistência em envolver os
mais frágeis vai além da antipatia: é uma brutalidade.
JP 13.04.13, editorial
Etiquetas: Um país em sofrimento
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