Instalado o caos
Crescem as listas de espera no público, há guerra de preços
entre privados e algumas TAC, mamografias, ecografias e ressonâncias magnéticas
são realizadas em contra-relógio e sem aparelhos adequados. Pode-se confiar no
diagnóstico?
Na base, encontra-se uma boa ideia do ministro da Saúde,
Paulo Macedo, que pretendia "internalizar" os exames complementares
de diagnóstico e, assim, rendibilizar ao máximo a capacidade instalada dos
hospitais públicos. Mas, para os doentes, deu maus resultados
O Ministério da Saúde já anunciou, (MCDT convencionados) ,
grandes poupanças: de €734 milhões, em 2011, os custos desceram, em 2012, para
€652 milhões. Porém, exames tão importantes e sensíveis como as TAC ou
ressonâncias magnéticas estão a demorar meses a fio a realizar-se, mesmo a
doentes com patologias graves, que se aglomeram em listas de espera cada vez
maiores.
Forçados a virarem-se, outra vez, para os operadores
privados, os gestores hospitalares, cumprindo as ordens da tutela, de redução
de despesas, impõem preços de dumping, para se ganhar um concurso público. Um
caso recente ocorreu no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Acabou contratada
uma rede de clínicas que, por exemplo, apenas factura €37,50 por cada TAC,
quando, em 2009, o Estado considerava pagar
€109,71, como preço justo por esse exame. O segundo concorrente mais
barato apresentava, para aquele item, €39 - ambos com preços abaixo dos
tabelados pela Administração Central do Sistema de Saúde, já de si muito
contestados. link
O tema aquecerá, a partir da próxima sexta-feira, 3, com a
constituição formal de uma associação de médicos radiologistas (em Portugal, há
cerca de um milhar destes especialistas). Em pré-lançamento, fundadores da nova
entidade dizem que a tutela "está a criar um verdadeiro problema de saúde
pública e a estimular más práticas, que vão ter custos diretos e indiretos
muito elevados, quer para os serviços estatais quer, sobretudo, para os
doentes, que são quem, no final, há de pagar". Estes médicos têm, desde
já, o apoio do bastonário dos clínicos: "Em Saúde, o barato pode sair
muito caro, principalmente aos doentes", repisa José Manuel Silva.
Armando Santos, presidente da ANAUDI, afirma que se está
perto de destruir uma rede que levou mais de 30 anos a construir, responsável por cerca de 10 milhões de actos médicos por ano, uma verdadeira
prestadora de cuidados ambulatórios do SNS. O actual caminho conduzirá (inevitavelmente) à concentração
empresarial com a formação de grandes grupos que hão-de fechar os pequenos
centros de proximidade. Quando os operadores privados se reduzirem a sete ou dez,
o Estado deixa de ter capacidade para impor preços. Acontecerá (então) o inverso.
Visão 02.05.13 link
A política cega de esmagamento de preços deste ministro da saúde conduzirá, inevitavelmente, à
falência em série dos pequenos investidores proprietários de laboratórios (e farmácias). É mais
uma grande oportunidade dada aos grandes grupos multinacionais por este governo
liberal pacotilha.
"Why an MRI
costs $1,080 in America and $280 in France" link
Etiquetas: XIX gov
1 Comments:
Este é um problema complexo, não vale a pena iludir a questão declarando ser melhor regressar ao velho paradigma: o recurso sistemático ao privado como forma de resolver a baixa resposta do público em termos imagiológicos.
Tal como sucede noutras áreas clínicas hospitalares, a ausência de uma reforma de delimitação de sectores, com uma política de contratualização que premeie a profissionalização e a produção com qualidade, através da criação de estruturas intermédias de gestão com verdadeira autonomia administrativa e financeira, é geradora de crescentes listas de espera.
À exceção da área cirúrgica, onde através do SIGIC se conseguiu reduzir tempos de espera, na maioria das especialidades hospitalares o tempo médio de resposta tem vindo a aumentar. Não chegam pois boas intenções legislativas, tentando resolver o problema por via administrativa. É preciso ir ao cerne da questão, separar sectores, aprofundar a contratualização interna, premiar o mérito, sem isso o hospital público está condenado ao definhamento.
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