sábado, janeiro 11

Assim vai o SNS

«Entre o rastreio que acusou a presença de sangue oculto nas fezes de uma doente de 60 anos e a colonoscopia que confirmou presença de um cancro colo-rectal passaram-se dois anos — o tempo necessário para o tumor estar numa fase tão avançada que neste momento não é operável. O tempo de espera para a consulta foi de um ano e até ao exame passou mais um ano. Quando veio o resultado, o cancro já era demasiado grande e agora a doente está a ser submetida a quimioterapia na esperança que o tumor reduza e que possa ainda ser operada. O hospital assumiu ao mesmo jornal o tempo de espera, que atribuiu à falta de recursos, por ter perdido vários médicos daquela especialidade nos últimos anos e por servir uma população de mais de 500 mil pessoas.»
«As actuais listas de espera para colonoscopias são “apenas a ponta do icebergue” do problema,  porque “todos os dias as pessoas têm dificuldades” para marcar e fazer vários exames de diagnóstico e terapêutica, denuncia  o vice-presidente da Federação Nacional dos Prestadores de Cuidados de Saúde, Armando Santos . Há, exemplifica, pessoas que esperam “dois anos” para a realização de ecocardiogramas em alguns hospitais públicos de Lisboa, e as TAC (tomografias axiais computorizadas) também demoram “meses” a ser agendadas. Há igualmente grandes dificuldades para se conseguir fazer electroencefalogramas, acrescenta.»
«O problema da dificuldade de marcação de colonoscopias já é antigo em Portugal. Há quatro anos, na sequência de várias queixas, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) avaliou a situação a nível nacional e concluiu que havia “uma situação generalizada de impedimento do acesso” à realização destes exames que servem para rastrear um dos cancros que mais mata no país, avança o jornal Público. link
«A ERS emitiu então uma recomendação às cinco administrações regionais de saúde para que aferissem a real capacidade de resposta da rede de estabelecimentos privados convencionados com o Estado. Estas situações de dificuldades na resposta “foram já objecto de análise e intervenção regulatória” em 2009, faz questão de frisar a ERS numa nota divulgada esta quinta-feira a propósito “das recentes notícias relacionadas com as dificuldades de acesso a exames de colonoscopias na região de Lisboa e Vale do Tejo”.»
«Depois de conhecido o caso da doente que aguardou dois anos, Cunha Ribeiro anunciou que em Lisboa e Vale do Tejo iriam ser feitas mais 5500 colonoscopias durante este ano, o que representa mais 21% do que em 2013. Como? “Optimizando pessoas e equipamentos”, sintetiza. O responsável conta que estes exames suplementares sejam feitos com “prata da casa”, ou seja, com os médicos e equipamentos dos hospitais públicos. Depois de ter reunido com os responsáveis de 15 hospitais da região que fazem o exame, diz acreditar que, “à custa de reengenharias do processo produtivo”, estas colonoscopias a mais vão fazer-se sem gastar mais dinheiro.» link
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Este caso é bem ilustrativo do que se passa hoje em dia na Saúde. Sem  estratégia,  ao sabor do improviso, dos “cortes a eito” e das acções de propaganda, o MS  abre os cordões à bolsa (trabalho extraordinário)  para tentar travar o fogo mediático.  Uma espécie  de flash  “sigic” dedicado aos MCDTS. A completar o ramalhete a IGAS abre o inquérito da praxe para apuramento  dos  bodes expiatórios do costume (profissionais da saúde).  link Antes de cumprir o objectivo de transferência para os privados, Paulo Macedo corre sério risco de ver o SNS cair desconjuntado.
Clara Gomes

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