Paulo Macedo, baralha e volta a dar
O Governo vai nomear uma comissão para escolher o melhor modelo para a
construção do novo Hospital Oriental de Lisboa, conhecido como Todos os Santos.
E admite-se, apurou o SOL, uma alteração da versão da Parceria Público-Privada
(PPP) que foi definida no início do processo e que previa que a entidade
privada apenas ficasse encarregada da construção.
Aliás, o grupo de peritos deverá ser liderado, de novo, pelo ex-ministro
Luís Filipe Pereira - que já presidiu à comissão que 'chumbou' o concurso
lançado em 2008 para a construção da unidade de saúde e que levou o Executivo a
publicar, este mês, um despacho anulando a adjudicação da obra ao vencedor
seleccionado, o consórcio Salveo (Soares da Costa, Alves Ribeiro e MSF).link
Segundo fonte próxima do processo, Luís Filipe Pereira não tem escondido
que prefere uma PPP em que o parceiro do Estado não só fique encarregado da
construção, mas também da gestão clínica. Na PPP que estava prevista, o privado
apenas tinha a missão de construir e gerir alguns serviços, como a lavandaria,
ficando de fora toda a parte médica. Agora, a PPP que incluiu a exploração
volta a estar em cima da mesa, a par da versão mais soft que atribui ao privado
só a construção.
Em análise estará também a possibilidade de a obra ser feita recorrendo
ao Orçamento do Estado. Afastada está a possibilidade de o projecto prever
novamente uma fiança do Estado ao Banco Europeu de Investimento para garantir
um financiamento.
A comissão que irá analisar o caso terá elementos do Ministério da Saúde
e também do Ministério das Finanças, sendo, aliás, este último que lidera todo
o processo, através da Unidade Técnica de Acompanhamento de Projectos. Os
elementos deste grupo, sabe o SOL, consideram inaceitável que seja imposta uma
fiança ao Estado.
Os perigos políticos da PPP
«A decisão tem-se arrastado e às vezes parece
que não há vontade política de avançar», diz ao SOL fonte conhecedora do
processo, acrescentando que o facto de estar em causa uma PPP leva os ministros
a terem cautelas: «As PPP são 'politicamente problemáticas', pois são mal
vistas e levantam sempre suspeições». A mesma fonte esclarece que a PPP pode
trazer problemas políticos, sobretudo a Paulo Macedo, que tem sido um dos
ministros mais populares. Certo
é que, segundo os peritos da primeira comissão, o novo projecto é
estrategicamente importante e representa uma enorme poupança para o Estado.
Isso mesmo foi admitido por Paulo Macedo e Maria Luís Albuquerque no despacho
conjunto que fizeram a anularem o concurso, publicado a 4 deste mês, ao
referirem que há «evidência, estimada, da redução acentuada da despesa pública
a partir da data de entrada em funcionamento deste novo hospital».
Consórcio reúne com Governo
Entretanto, o consórcio que viu a sua
adjudicação anulada foi convocado para uma reunião no Ministério, esta semana,
para o secretário de Estado da Saúde explicar os motivos da decisão, assim como
os passos que se seguem.
Fonte
do consórcio adiantou ao SOL que as empresas ainda não decidiram como vão
reagir à anulação do concurso. Tudo está dependente do modelo que o Executivo
escolher: «Uma PPP de construção e exploração pode não interessar às empresas»,
explica a referida fonte, acrescentando que só depois de saber se há ou não
outro concurso, e em que moldes, é que o consórcio decidirá se avança com um
pedido de indemnização ao Estado.
catarina.guerreiro@sol.pt
…………………
O que
pensa Luís Filipe Pereira sobre o SNS todos sabemos e, diga-se em seu abono,
nunca o procurou esconder, antes, enquanto e depois de ser Ministro da Saúde.
Ao reincidir na escolha do ex-ministro, neste espécie de jogo viciado para
decidir do modelo de construção do novo Hospital Oriental de Lisboa, Paulo
Macedo sabe qual vai ser a decisão final. Tanta cautela deve-se, certamente, ao
risco do consórcio vencedor do concurso para construção em modelo PPP ter de
ser indemnizado. Nada porém que um acerto de interesses entre grandes grupos
económicos não resolva sem sobressaltos.
Iremos
pois, de uma assentada, ver desaparecer quatro hospitais públicos (Capuchos,
São José Santa Marta e o já desactivado Miguel Bombarda) dando lugar a mais uma
PPP com gestão clínica privada. E, tecendo encómios ao SNS, vai Paulo Macedo,
como quem não quer a coisa, procedendo ao abate da rede hospitalar pública
reduzindo-a à sua expressão mais simples (hospitais escolares).
Tavisto
1 Comments:
Existirá - pelo 'andar da carruagem' - uma terceira hipótese.
Entregar (sem concurso!) tudo o que diz respeito a este projectado hospital às Misericórdias...
Até a sua designação (...'de todos os santos') está conforme este piedoso desígnio. Outras conformidades legais tornam-se supérfluas, já que – no entender deste Governo – como vivemos um período ‘excepcional’, tudo é possível.
Continuávamos a fazer tábua rasa sobre a avaliação das PPP na saúde, colocadas, ab initio, pelos actuais decisores, fora de qualquer suspeita (esquecendo-se do H. Amadora-Sintra, H. de Braga, entre outros) e dávamos corpo a mais uma ‘misericordiosa concessão’.
Convinha por uma questão de decoro dar o carácter de ‘excepcionalidade temporária' e vincar o estatuto de ‘abençoada’ já que toda esta tramirtação encaixa-se na peregrina concepção (neoliberal) de que o Estado é incapaz de gerir o sector social.
Para já - e para todos os efeitos - o novo hospital ficaria a ser gerido pela sociedade civil ‘sem fins lucrativos’, precedendo a sua ‘natural’ transferência para o excelso ‘mercado livre da saúde’.
Este hipotético ‘cenário’ tem ainda outras vantagens. Justificava a afectação do financiamento público para nobres propósitos: autonomia, solidariedade, altruísmo, etc.. Mascarava o processo (de alienação) dos habituais ingredientes: flexibilidade, racionalidade, eficácia, etc..
Resumindo: Para além do que atrás conjecturámos ( e especulámos) sobre uma 'nova hipótese' este exercício tem o mérito de mostrar como este Estado - em enviesada rota de perversão - se demitiu de executar qualquer tipo de políticas sociais.
Porque, ao fim e ao cabo, sabemos que nem ‘todos os santos’ nos salvam desta quadrilha neoliberal!
Enviar um comentário
<< Home