Fragmentos de Hipocrisia

Na próxima terça-feira o primeiro-ministro prepara-se, em plena festa eleitoral, para inaugurar o novo centro materno-infantil do norte fazendo uma enorme pirueta sobre a retórica do “despesismo socialista”. Pelos vistos, em campanha eleitoral vale mesmo tudo e, estamos mesmo certos, de que aproveitará a “vernissage” para exaltar as virtudes do SNS. Nessa mesma inauguração estará acompanhado pelo mesmo ministro que ainda há bem poucos meses se referia a esta obra como um “exemplo de mau planeamento”.

Enquanto isto, noutro ponto do universo “twilight zone“ da saúde, há poucas semanas a presidente de um grupo privado que depende em mais de 40% da sua faturação da ADSE apresentava um livro (numa cerimónia com pouco mais de vinte pacientes espetadores) de um autor que refere, nesse mesmo livro que a ADSE só será sustentável com 7% do financiamento (vá-se lá saber porquê…), que esta mesma ADSE é o sustento do lucro privado e que a economia privada em saúde era inviável (isto poucos dias depois de se ter conhecido que as exportações, em saúde, tinham ultrapassado os mil milhões de euros). Todo este “rigor” viria aliás a ser prefaciado pelo mesmo ministro que inaugura obras paradigmáticas do “mau planeamento” e do “despesismo socialista”.

Tristes figuras… 

Carlos Silva