sábado, janeiro 3

SNS, sinais de ruptura

«Contratações de emergência , médicos pagos acima da lei, e a receber mais de 500 euros por turno de doze horas e a abertura noturna de centros de saúde foram medidas extraordinárias tomadas esta semana para evitar que se repetisse o caos do Natal na Urgência do Hospital Amadora Sintra, onde doentes esperaram mais de 24 horas. Tudo para responder a uma enchente que, afinal, não existiu. Nem ali, nem na maioria dos hospitais do país.
Os dados obtidos pelo Expresso junto de várias unidades hospitalares mostram que houve menos doentes a recorrer à Urgência nesta época festiva em comparação com o mesmo período do ano passado. No Amadora-Sintra, onde o tempo de espera atingiu recordes, houve mesmo uma diminuição de 18% na Consoada e de 16% no dia de Natal. Ao todo, foram atendidas 483 pessoas nos dois dias, menos 100 do que em 2013.
O problema não foi, portanto, provocado pelo excesso de doentes mas pela falta de médicos. Naqueles dias, deveriam estar a trabalhar cinco médicos na linha da frente e só dois compareceram. Entre os faltosos, dois entregaram atestado por doença e um, em prestação de serviços, não apareceu nem justificou a ausência. Os cortes de 20% no pagamento do trabalho fora do horário normal desmotivaram os médicos, que deixaram de achar compensador estarem de banco em vez de ficarem em casa.
São cada vez mais os clínicos que pedem dispensa da Urgência noturna, logo que completam os 50 anos, e de todo o trabalho no atendimento urgente cinco anos mais tarde. A benesse é antiga, mas até existirem cortes nos pagamentos eram menos os profissionais a aproveitá-la. “Esta faculdade, associada à faixa etária média dos médicos, implica que um número significativo — mais de 50% no momento atual — possa deixar de realizar trabalho naquelas instituições, o que tem um forte impacto nos serviços de saúde”, reconhece a ACSS.
No Amadora-Sintra, por exemplo, a diretora da Urgência é a primeira a admitir que não há capacidade de resposta. “Fomos perdendo profissionais ao longo do tempo, uns porque emigraram, outros porque deixaram de trabalhar na Urgência e não foram substituídos. Com falta de pessoal, não conseguimos lidar com picos de afluência”, lamenta Teresa Branco.
Face ao prognóstico de uma nova rutura nas Urgências durante a passagem de ano, o ministro da Saúde não teve outro remédio senão autorizar o que até aqui tentou evitar: novas contratações e pagamentos acima da tabela. Quem ficou na escala do fim do ano recebeu mais por hora extra e no caso dos três ‘tarefeiros’ o valor chegou ao dobro do que está na lei. No total, os turnos de 12 horas que fizeram valeram-lhes 540 euros. E mesmo assim foi muito difícil encontrar quem se dispusesse a ir trabalhar — o Hospital Amadora-Sintra teve autorização para contratar dez médicos à tarefa (e mais sete para o quadro) mas até ao último dia do ano só três tinham aceitado.
Para evitar que novas situações de rutura ocorressem na passagem do ano, o Ministério da Saúde anunciou penalizações para os prestadores de serviços faltosos e prometeu repor os cortes no pagamento do trabalho extra. O ‘tratamento’ surtiu efeito.»
Expresso 03.01.15
PCP – “Política criminosa" : A utilização de "soluções precárias" como "a contratação de serviços a empresas", advertindo que "o caos verificado nas urgências de diversos hospitais" põe em causa "o direito à saúde" e "é consequência das políticas restritivas que têm vindo a ser implementadas".link
José Manuel  Silva: “Caos nas Urgências”: O Ministério da Saúde reduziu o horário de abertura dos Centros de Saúde, asfixia os hospitais até à falência técnica (para depois fazer umas flores a atribuir ‘reforços’ financeiros), só sob pressão permite a contratação direta de médicos para as urgências, obriga à contratação através de empresas que não têm médicos e que impõe preços tão baixos que ninguém aceita a imensa carga de trabalho e o enorme risco de uma urgência pelo preço/hora de uma empregada doméstica, etc. A culpa do caos nas urgências e do desnecessário sofrimento dos doentes é do Ministério da Saúde. link
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O balanço da política deste ministro está por fazer.  Para já, o que fica da sua acção, além do cumprimento zeloso dos  cortes a eito impostos pela troika e da montanha de medidas de cariz administrativista, à boa maneira amanuense, resume-se ao  improviso e definhar acelerado do serviço público de saúde em abono dos investimentos privados .

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5 Comments:

Blogger xavier said...

As consequências negativas para o SNS começam a aparecer. Vamos pagar muito caro, em pior saude e maiores gastos, as manipulações e habilidades administrativas deste ministro.

Para já os privados esfregam as mãos de contentes, mas iremos ver muitas falências e vendas apressadas como nas farmácias.

Quem vier substiutuir esta gangada vai ter muitas dores de cabeça.
Farto de Passarões

2:54 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Falhas nas urgências. "Só não foram noticiadas mais mortes porque as famílias, provavelmente, não se aperceberam" link
Bastonário da Ordem dos Médicos afirma que as falhas nas urgências dos hospitais públicos poderão ter provocado mais mortes do que as duas noticiadas. A falta de recursos e os cortes impostos pelo Governo são algumas das explicações referidas por José Manuel Silva.
A demora na assistência aos doentes que deram entrada nas urgências dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde nas últimas semanas do ano poderá ter provocado mais mortes do que os dois casos noticiados, diz ao Expresso o Bastonário da Ordem dos Médicos. José Manuel Silva não hesita no prognóstico: "Há urgências do Serviço Nacional de Saúde que não estão a cumprir as boas práticas clínicas. Em última instância, estas mortes são da responsabilidade do Ministério da Saúde".
Na opinião do bastonário, especialista em medicina interna, "só não foram noticiadas mais mortes, resultantes da assistência indevida, porque as famílias, provavelmente, não se aperceberam". Por outras palavras, terão ocorrido óbitos por atraso no atendimento mas que não chegaram aos media porque os acompanhantes desses doentes não terão associado a morte a uma falha mas ao próprio desfecho da emergência que os levou ao hospital.
Para já, são conhecidos dois casos, que o Ministério da Saúde garante estarem a ser investigados. Na madrugada de 27 de dezembro, num sábado, um homem de 80 anos esteve mais de seis horas à espera de ser atendido na Urgência do São José, em Lisboa, na sequência de um AVC e acabou por ser encontrado morto, numa maca, pelo filho. Dois dias depois, em declarações à SIC, o filho do doente contou que lhe terão pedido para deixar o pai a aguardar pelo médico e que quando regressou, ao fim de seis horas, estava morto e "sem assistência médica", porque, diz, junto dele estava "uma ficha em branco".
Também terá aguardado mais de seis horas à espera de assistência um homem de 57 anos que na noite deste domingo, dia 4 de janeiro, cerca das 22h00, acabou por falecer, desta feita na Urgência do Hospital de São Sebastião, em Santa Maria da Feira. Os responsáveis da unidade explicaram ao Expresso que "o utente foi admitido no Serviço de Urgência, tendo sido triado com a prioridade de amarela de acordo com o protocolo de triagem de Manchester (ver caixa no fim do texto)". Mas, "perante o agravamento do seu estado de saúde, foi feita nova triagem, tendo então sido atribuída a cor laranja. Nesta situação, o utente foi imediatamente observado por um médico especialista de medicina interna".
Contactado pelo Expresso, o Ministério da Saúde limita-se a informar que, no caso relativo ao Hospital de São José (Centro Hospitalar de Lisboa Central), uma semana depois de ter sido anunciada a abertura de um inquérito "ainda não tem mais informação". No segundo caso, do Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga, "está a proceder a inquérito, a ser seguido pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde".
cont....

10:16 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

cont...
O principal problema
Recusando comentar os casos concretos, José Manuel Silva critica a forma como estão a ser feitos os inquéritos em curso, "por entidades dependentes do Ministério da Saúde", e receia até que "a verdade nunca venha a ser conhecida". O bastonário aponta ainda o dedo à falta de profissionais: "O principal problema terá sido a falta de recursos médicos, enfermeiros e até espaço físico". Na sua opinião, "os serviços de urgência estão a ser geridos para a afluência média ao longo do ano, que varia, e não para os picos de procura, que acontecem sempre nesta época do ano".
O Governo anunciou, entretanto, vários 'remédios' para tratar as falhas nas escalas das urgências hospitalares, como a reposição dos cortes feitos nas horas extraordinárias, mas o bastonário acredita que o caminho não é só esse. "O Ministério da Saúde tem de dar mais autonomia aos hospitais, que neste momento precisam de autorização prévia para contratar médicos; quem está a gerir os hospitais é o Ministério e não os conselhos de administração."
A solução do problema passa ainda, no entender do bastonário, pelo reforço da resposta nos cuidados primários. "A congestão das urgências deve-se ao facto de os centros de saúde estarem abertos menos horas. Em anos anteriores foi necessário aumentar os horários durante o inverno e não aceitável ou desculpável que só se tome essa iniciativa depois do pico na procura", como aconteceu no Hospital Amadora-Sintra na semana do Natal, com doentes a esperarem mais de 24 horas para serem vistos por um médico.
A Ordem dos Médicos tem insistido na contratação de médicos de família reformados, promovendo a alteração da lei atual - que, em muitos casos, não prevê qualquer remuneração além da pensão -, e a criação de mais Unidades de Saúde Familiar. "Se as pessoas tivessem uma alternativa não iriam às urgências", que no primeiro semestre do ano foram maioritariamente 'pulseiras azuis e verdes', ou seja, casos que deveriam ter sido atendidos nos cuidados primários.
AS PULSEIRAS DA TRIAGEM
Quase todos os hospitais portugueses, públicos e privados, definem as prioridades no atendimento dos doentes que chegam à urgência através da triagem de Manchester. Trata-se de um modelo que hierarquiza a gravidade do caso em cinco níveis, atribuídos a partir da interpretação das queixas referidas pelos doentes durante a primeira observação.
Um enfermeiro regista num computador as respostas dadas pelo utente e que lhe permitirão prosseguir o questionário de acordo com o algoritmo que o programa informático vai executando até obter a classificação da gravidade de cada caso. Aqui chegado, é emitida uma pulseira em papel com uma das seguintes cores: encarnado, laranja, amarelo, verde e azul. Se o caso nem sequer tem gravidade para ser atendido num hospital, o programa informático emite uma pulseira branca.
Em situações ideais, em que tudo corre como o previsto, um doente com uma pulseira vermelha tem de ser atendido imediatamente, laranja dez minutos, amarelo numa hora, verde em duas horas e azul em quatro horas.
cont...

10:17 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

cont...
No "Roteiro de Intervenção em Cuidados de Emergência e Urgência", publicado em novembro de 2014 pela Direção-Geral da Saúde, lê-se que "a triagem de Manchester foi introduzida a primeira vez em Portugal pelo Hospital Fernando da Fonseca e H. S. Francisco Xavier, em 2000, tem progredido de forma segura, apoiada por um dinâmico Grupo Português de Triagem, que apoia e audita os serviços de urgência que a adotaram. Atualmente, a totalidade dos Serviços de Urgência Médico-Cirúrgicos e Polivalentes e 85% dos Serviços de Urgência Básica adotaram o sistema de prioridades de Manchester".
expresso 05.01.2015

10:19 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Utentes das urgências do hospital de Évora esperaram, entre sexta-feira e este sábado, mais de 18 horas para serem atendidos, disseram à agência Lusa fontes da unidade de saúde, apontando como um dos motivos a falta de médicos.

De acordo com as mesmas fontes, as equipas médicas das urgências estiverem desfalcadas na sexta-feira, o que levou a um aumento do tempo de espera dos utentes, tendo alguns, que entraram nas urgências na sexta-feira à tarde, sido atendidos hoje de manhã.

Contactado pela Lusa, o gabinete de comunicação e marketing do hospital confirmou que, "com a falta de médicos, nesta altura, há um aumento do tempo de espera" por parte dos utentes das urgências, "ultrapassando o recomendado".

"Todavia, os nossos profissionais estão a fazer todos os possíveis para dar resposta aos nossos utentes com os recursos existentes", sublinhou o mesmo gabinete do hospital.

O porta-voz da Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo, Mário Simões, confirmou também hoje à Lusa que se verificou na sexta-feira um aumento da afluência às urgências hospitalares.

No entanto, o porta-voz da ARS alegou que "a maior parte" dos utentes que se deslocou às urgências poderia ter optado por ser atendida em centros de saúde ou unidades de saúde familiares, que "estão a funcionar com horário mais alargado".

Segundo as mesmas fontes, as urgências hospitalares tem vindo, durante o dia de hoje, a "normalizar" o atendimento.

JP 03.01.15

12:15 da manhã  

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