SNS à beira do colapso
O fundador do Serviço Nacional de Saúde (SNS), António
Arnaut, disse hoje que a saúde em Portugal “está à beira do colapso” e
justifica uma intervenção do Presidente da República junto do Governo. “O seu
dever é alertar o Governo para que não faça mais malfeitorias ao Serviço
Nacional de Saúde”, disse António Arnaut à agência Lusa, apelando ao Chefe de
Estado, Aníbal Cavaco Silva, para que “tome uma posição pública e advirta o
Governo de que com a saúde não se brinca”.
O antigo ministro dos Assuntos Sociais lamentou “os
acontecimentos no sector da saúde nos últimos tempos, com sucessivas demissões,
mortes evitáveis nas urgências e esperas de 20 horas”, situações “mais próprias
de um país do terceiro mundo” que causam “muita preocupação a todos aqueles que
se interessam pelo bem-estar e a dignidade” dos portugueses. “Porque estão a
ser perdidas vidas, estão a ser feitos atentados à dignidade dos cidadãos e
estamos numa situação que envergonha o país, é altura de o senhor Presidente da
República, que é o garante do regular funcionamento das instituições
democráticas, ter uma palavra cumprindo o seu dever”, acentuou.
Essa intervenção pública de Cavaco Silva deve levar o
executivo de Pedro Passos Coelho “a tomar algumas medidas necessárias em tempo,
dando, por exemplo, aos conselhos administrativos das unidades do SNS autonomia”
para contratar pessoal. “Há equipas médicas que foram desfeitas, há serviços de
urgência que têm menos de metade do pessoal e, portanto, estamos a entrar num
colapso verdadeiramente”, alertou António Arnaut.
O SNS “está ligado à máquina com respiração assistida, mas o
pior é que há pessoas que o querem desligar da máquina e provocar a sua morte”,
disse, responsabilizando também o sector privado da saúde. “Ainda recentemente
o presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (Artur Osório)
veio ufanar-se de que há uma grande expansão no sector privado graças às
reformas feitas no SNS”, afirmou.
Para o fundador do SNS, “a famigerada lei dos compromissos,
os cortes sucessivos no orçamento, as restrições impostas e a taxas moderadoras
altas tornaram, muitas vezes, o SNS incapaz de responder às necessidades” dos
portugueses. “O espectáculo degradante de dezenas ou centenas de macas
alinhadas pelos corredores e a transbordarem para o exterior dos hospitais é
uma vergonha nacional”, criticou.
António Arnaut, um dos fundadores do PS, salientou ainda
que, “se a ideia é destruir o SNS, a direita está à beira de o conseguir” e
apelou ao Presidente da República para “vir a público dizer que com a saúde não
se brinca”. Em 2008, na mensagem de Ano Novo, Cavaco Silva “tomou uma posição
pública e oportuna por alguns problemas muito menos graves que existiam no
sector”, a que se seguiu a demissão do então ministro da Saúde Correia de
Campos e sua substituição por Ana Jorge, no primeiro Governo de José Sócrates,
recordou.
Jornal Médico 04.03.15
República das bananas. O apelo de Arnaut faria sentido se o presidente da república não fosse de há muito um defunto político, num país onde o primeiro ministro justifica não pagar a segurança social por distracção, falta de dinheiro e de vergonha.
Etiquetas: Crise e politica de saúde
1 Comments:
De facto. Urge uma mudança de paradigma no nosso SNS. O risco de colapso é real, talvez seja a área do estado social mais em perigo. A sociedade civil deve fazer-se ouvir.
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