Por uma ética republicana na Administração Hospitalar
Caro colega,
Antes de mais gostaria de relevar a pertinência da acção
proposta, a qual tem por objectivo reposicionar o exercício da profissão de AH
e a necessidade de profissionalização da gestão do SNS.
Nos últimos 20 anos, fomos assistindo a uma perfeita
irracionalidade no exercício da profissão (salvo honrosas excepções), por
denominados "AH's" (assim designados pelos média) sem competências
adquiridas, que o são apenas porque nomeados para CA's, cujo currículum
político lhes confere a ‘máxima competência’ para o lugar, seguindo princípios
que, em muitas situações, pouco ou nada têm que ver com o interesse público e o
superior interesse dos cidadãos enquanto ‘clientes’ dos serviços de saúde.
Assistimos, nos últimos 13/14 anos (desde os SA's), à contratação de
profissionais de AH por regras que, em muitas situações, se caracterizam por
‘falta de regras’, nomeadamente no que respeita à inexistência de critérios de
admissão e à determinação de vencimentos acima do previsto para ingresso na
carreira. Temos por isso, situações de AH com 15 ou 20 anos de carreira e
exercício efectivo de funções, que ganham menos que outros com menos anos de
experiência, não integrados na carreira, admitidos sem observância das regras
da transparência e da igualdade de oportunidades. Assistimos, ainda, à
proliferação de ‘gestores’ contratados para assumpção de funções de gestão
intermédia, tradicionalmente em áreas para as quais os AH’s, porque detém
formação específica, estão melhor preparados. Ao contrário, constatamos, hoje,
a existência de AH formados na ENSP, sem emprego na área ou a terem que
emigrar, como vai acontecendo com outras profissões, ou ainda, sujeitos a
contratação como Técnicos Superiores. Todas estas situações existem e convivem
no dia a dia hospitalar e são bem demonstrativas da 'morte' de uma
carreira/profissão, que nasceu com o desígnio de profissionalizar a gestão da
coisa pública nas instituições de saúde. Também neste aspecto se assiste à
degradação do SNS, porque o interesse público deu lugar ao interesse individual
e, em muitos casos, partidário e de sustento das clientelas políticas.
A tudo isto ouvi a APAH dizer nada ao longo do tempo, num
silêncio que compromete a carreira, colocou AH contra AH e foi conivente com a
politização da função, além de promover a descredibilização do desempenho
profissional. Responsabilidade da APAH, mas também daqueles que, como eu, não
denunciaram e exigiram uma actuação da APAH em conformidade com a defesa da
dignidade da profissão. Mea culpa! Somos nós AH os responsáveis pela degradação
da carreira e pelo desinteresse a que a mesma tem sido sujeita pelos poderes
públicos instituídos (Ministério da Saúde, SGMS, ACSS, INA...).
Há tempos, num encontro de meia dúzia de colegas falávamos
das situações com que tantos de AH são confrontados, de acatar instruções
erradas e conviver profissionalmente com personalidades que, de forma pouco
prudente, são nomeadas para cargos de gestão de topo e daqueles que, não sendo
coniventes, são colocados em qualquer prateleira para não ‘ofuscar’ o
desempenho profissional dos nomeados. E, acredite, há colegas AH a ter esta
atitude com outros colegas! Seria de esperar, ao contrário, a integração de
todos numa equipa coesa, capaz de gerir bem os recursos públicos e alcançar os
objectivos de gestão que são, não de uma personalidade, mas da instituição que
é de todos e para todos.
Proponho o debate dos seguintes pontos:
1) 'despartidarizar' a nomeação dos CA. A nomeação do órgão
de gestão de topo deve pautar-se por critérios de competência e de prestígio
institucional dos seus membros (não me parece que o modelo da CRESAP seja o
mais adequado);
2) os vogais dos CA's devem ser AH com formação reconhecida
para tal (sem prejuízo de poderem tb ser Presidentes), tanto quanto possível
recrutados de entre os profissionais da própria instituição, porque bem a
conhecem e melhor a podem gerir;
3) criação de uma Ordem Profissional de Administradores
Hospitalares, a melhor garantia da existência de formação adequada para
ingresso, existência de código de conduta pautado por imperativos técnicos e
éticos e obrigatoriedade de formação contínua para o exercício profissional;
4) revisão do Decreto-Lei 101/80, no que respeita ao acesso
às classes que, no meu entendimento deveria ser automático e proporcional ao
grau (já que não há concursos). Há situações de AH de 3º grau em lugar de 3ª
classe, ou de 2º grau em lugar de 2ª classe, sem que se vislumbre quando haverá
concursos para lugares de quadro. Isto é, AH que se sujeitaram à Comissão de
Avaliação que lhes conferiu um grau superior e se mantém por longos anos em
lugares de quadro não correspondentes. Nesta revisão, considerar que a gestão de
admissões e progressões é da competência de cada instituição de saúde e não da
ACSS;
5) manter a diferenciação entre AH e Técnico Superior,
atribuída pela formação específica e complexidade de funções (recentemente
falou-se da extinção da carreira de AH e fusão nos TS);
6) gestão intermédia atribuída a profissionais de AH,
específicamente nas áreas de produção (as outras áreas podem ser atribuídas a
outros profissionais com formação superior adequada - hotelaria, aprov,
financeiros, recursos humanos), com competências próprias nas áreas de gestão
de recursos humanos, materiais e financeiros - requer alteração de regulamentos
internos e de estatutos.
Voltarei ao contacto se oportuno.
João C Oliveira, Administrador Hospitalar
Etiquetas: APAH
1 Comments:
Concordamos claramente com a transformação da "Associação" numa Ordem Profissional dos Administradores Hospitalares a exemplo de outros grupos profissionais do sector da saúde
Essa transformação poderá ser um dos passos a dar no sentido da reabilitação insttucional da Carreira.
Estamos disponiveis para a reconstrução da Carreira em alicerces democráticos!
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