domingo, setembro 27

Sai a 01 Outubro 2015

Há cinco anos de olhos postos no sistema de saúde, Jorge Simões lamenta ver pouca Saúde na corrida às legislativas. Na quinta-feira termina o seu mandato à frente da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) e antes de sair receita ao próximo Governo um pensamento assertivo sobre as prioridades para o SNS. Porque o orçamento não dará para tudo.
A ERS tem competência exclusiva sobre as reclamações dos utentes. No primeiro semestre já tinha 20 mil. De que reclamam os portugueses?
Reclamam principalmente da espera, muito mais do que em relação à qualidade do atendimento administrativo ou clínico. Esperamos ter 50 mil reclamações por ano dos sectores público, privado e social.
Tem ideia do número de estabelecimentos à margem da lei?
Não tenho. É um motivo de forte preocupação, porque muitos portugueses (provavelmente um milhão) já utilizaram medicinas não convencionais, que são uma caixa negra: não sabemos se existe qualidade e se podem ser utilizadas com segurança.
A ERS produziu dezenas de relatórios e prevalece a conclusão de que há muitas ineficiências no SNS.
Não houve melhoria mas a crise não agravou de forma significativa os tempos de espera, nomeadamente para cirurgia e consultas externas. Houve uma diminuição importante dos orçamentos dos estabelecimentos, com consequências na qualidade e no acesso, mas não de uma maneira dramática. Graças aos seus profissionais, o SNS tem conseguido dar uma resposta satisfatória.
Houve aproximação do Governo para encontrar soluções?
Não somos o Ministério da Saúde. O MS é o proprietário, controla a gestão do SNS e compete-lhe acatar ou não as recomendações da ERS.
Que recomendações o futuro Governo não deve ignorar?
Muitas, como a carta hospitalar e a revisão da oferta pública de cuidados. É necessário que os portugueses tenham respostas de qualidade e confiança nos estabelecimentos, mas devemos dar mais atenção aos cuidados de proximidade, com a possibilidade de os cuidados de saúde primários receberem especialistas hospitalares. A ERS estudou uma multiplicidade de hospitais e penso que o próximo Governo vai tomar isso em consideração.
Que hospitais devem fechar?
Não vou adiantar. Mas não faz sentido ter um hospital com valências altamente diferenciadas onde estão dois cirurgiões ou dois pediatras. Temos quase 44 mil médicos e 65 mil enfermeiros, 60% da despesa do SNS é com recursos humanos e é por aqui que temos de melhorar.
Estamos próximos das legislativas. É importante iniciar a discussão sobre o que o SNS deve pagar?
Faz todo o sentido. De qualquer forma, existe um consenso na sociedade portuguesa para manter o SNS com as características conhecidas. Temos 8 mil milhões de euros na Saúde e o orçamento não pode crescer nominalmente. O próximo Governo terá de pensar quais são as prioridades.
A campanha eleitoral tem falado do que é importante na Saúde?
Temos duas preocupações fundamentais com o SNS: a maior eficiência, para subsistir e desenvolver-se, e a equidade. E há o aspeto político, que é recentrar a discussão: do hospital para a promoção da saúde.
Ainda não ouvimos aos políticos a reiterada promessa de um médico de família para todos os portugueses.
Mas deve continuar a ser feita, porque é assim que se consegue que tenham acesso a cuidados de saúde. Cuidados fortes evitam hospitalizações desnecessárias, dão confiança às pessoas e permitem menos gastos. Mas é preciso um conhecimento muito fino da Saúde para que estas prioridades surjam no início da governação.
Deixa a ERS a 1 de outubro. Que nota dá ao ministro da Saúde?
Não dou. Não houve desenvolvimentos significativos nos cuidados de saúde primários, nos cuidados continuados, na área hospitalar... e por aqui me fico. Digo-lhe quando sair, e só se sai quando se é substituído
Semanário Expresso 26.09.15
Sai a 01 Outubro 2015. Se o PS ganhar as eleições...

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