Separar o Público e o Privado
Muita mentira tem saído da boca de muitos políticos e responsáveis da Saúde
sobre a separação entre o sector público e o privado.
Normalmente tal afirmação de vontade/necessidade é feita por alguns governantes
para procurar atingir a honorabilidade dos médicos, como se fossem estes que
não quisessem a separação! Não é verdade. Explica-se facilmente.
A Ordem dos Médicos (OM) tem-se manifestado disponível e interessada em
analisar a forma de separar progressivamente o público e o privado. Quem
não tomou nenhuma iniciativa nesse sentido foi o Ministério da Saúde
(MS).Inclusivamente, a OM propôs duas medidas concretas para começar a
instituir a separação de forma progressiva e sem convulsões:
1 – Definir condições mínimas de remuneração para que os cargos de Directores
de Serviço sejam exercidos em exclusividade de funções em todas as futuras
nomeações. Seria a medida de mais impacto na melhoria do funcionamento dos
Hospitais, pois, como bem afirma o Prof. Manuel Antunes, o cargo mais
determinante num hospital é o de Director de Serviço. A resposta do MS foi um
“não”.
2 – Recuperar o modelo que o grupo Mello tinha no Hospital Amadora-Sintra, com
o qual fazia um segundo contrato, melhorado, para mais horas de trabalho, além
do horário normal e sem sobreposições, com os médicos de “maior qualidade” e de
que o hospital mais necessitava. A produtividade aumentava e os doentes eram
beneficiados. Esta medida permitira aos hospitais do SNS contratarem mais horas
de trabalho médico, suprindo as suas necessidades em especialidades mais
carenciadas e fixarem os médicos na instituição. A contrapartida seria a
exclusividade. Seria claramente uma relação win-win. A resposta do MS foi um
“não”.
Compreendi facilmente a razão destes “nãos”. O MS não quer separar o público e
o privado e não quer melhorar o funcionamento do SNS. É preciso perceber-se que,
com os salários baixos actuais, se se impusesse aos médicos uma separação
forçada e imediata entre o público e o privado assistiríamos a uma debandada de
médicos do SNS para o sector privado e para a emigração; seria o fim do SNS.
Por isso mesmo, as duas medidas que a OM apresentou permitiriam iniciar o
processo de separação de forma construtiva, compreensiva e gradual.
O resultado final seria excelente para os médicos, para os doentes, para o SNS
e para o país. Mas o MS não quis. Não continuem a culpar os médicos por não
haver separação entre o público e o privado, que, aliás, deveria ser extensiva
a muitas outras profissões e cargos públicos.
José Manuel Silva, Jornal Notícias
04.09.15
Etiquetas: Crise e politica de saúde, s.n.s
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home