Médicos sem família
Uma estranha lei foi aprovada na Assembleia da República (AR), a
Lei 79/2015 de 29 de julho, obriga a que a cada criança seja atribuído um
Médico de Família (MF). Parece uma lei bondosa, com a qual, à partida, todos
concordariam. Traduz, porém, uma triste realidade, o Ministério da Saúde (MS)
falhou a única promessa que fez ao país, a de dar a todos um MF. E falhou, não
por falta de médicos, mas sim pelos cortes cegos e pelas más condições de
trabalho no SNS.
Efetivamente, muitos MF abandonaram o SNS para as reformas
antecipadas (com penalização), para o setor privado ou para a emigração. Há em Portugal um número suficiente de MF para dar um MF a todos
os portugueses! Se o MS estivesse disponível para pagar aos médicos portugueses
a despesa que assumiu com os médicos cubanos (sem especialidade), seria
possível que todos os portugueses tivessem um verdadeiro MF, com a
especialidade de Medicina Geral e Familiar (MGF), com óbvios benefícios para os
doentes e inequívocos ganhos em saúde.
As medidas implementadas pelo MS para contratar médicos
reformados foram um falhanço, porque as condições oferecidas eram deploráveis.
Mais uma vez, o MS demonstrou que prefere deixar cidadãos sem MF do que
disponibilizar condições financeiras condignas para, transitoriamente, os MF
reformados regressarem ao trabalho.
Alguns dizem que é preciso formar mais médicos! Para investir
ainda mais em formação médica para a emigração? Neste momento há cerca de 2000
jovens médicos a fazer a especialidade de MGF, pelos que alguns destes já irão
obrigatoriamente para o desemprego ou para a emigração. O problema em Portugal não é de falta de médicos. Portugal é o
quarto país da União Europeia com mais médicos! O MS é que não quis dar um MF a
todos os portugueses, apenas para poupar mais dinheiro! Neste panorama, como se fosse possível resolver um problema
através de uma lei, a AR determinou que a cada criança seja obrigatoriamente
atribuído um MF! Como, se o MS não os contrata? Como, se eles continuarem a
emigrar?
O curioso é que o dito MF só seria médico da criança, não da
família, pois não haveria vagas para os restantes membros. Não seria um MF, mas
sim algo novo inventado pela AR, um médico sem família! Já é tempo deste país deixar de aprovar leis absurdas e
desnecessárias! Está ao alcance do MS, eu fá-lo-ia ainda este ano, resolver
este problema e dar um MF a todos os portugueses. Bastaria contratar, durante o
máximo de dois a três anos, cerca de 600 entre os 1500 MF reformados.
JOSÉ MANUEL SILVA, 21.08.15
Etiquetas: CSP, Paulo Macedo
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