terça-feira, julho 4

Cerco à Geringonça (2)

A OE “ultrapassou o limite da razoabilidade”
JP: Os enfermeiros alegam que o ministério e os hospitais tiveram pelo menos um mês para se precaver e elaborar planos de contingência. 
AL: Do ponto de vista das administrações dos hospitais, pouco existe aqui a fazer. Não é aceitável sequer termos uma discussão em que se coloca em causa o acesso a cuidados de saúde de doentes emergentes. É um limite. Uma barreira. Nós, nos hospitais, nunca tivemos uma circunstância em que fosse difícil chegar a qualquer tipo de acordo para assegurar os serviços mínimos. O que se está aqui a falar vai para além dos serviços mínimos: é o dever de assistência. De alguém que chega a um serviço de saúde, neste caso uma grávida, e que encontra um profissional que diz ‘Eu não vou prestar cuidados porque não sou remunerado para tal’. Este tipo de estratégia é que não pode ser, até porque se vira contra os próprios. 
JP: Os enfermeiros foram longe demais?
AL: Não foram os enfermeiros. Repare que o sindicato com maior representatividade do sector não subscreveu esta estratégia que foi apoiada por dois sindicatos com uma representatividade muito baixa. O que sucedeu de estranho aqui é que houve elementos da Ordem a assumir piquetes de greve, ou seja, entraram nos serviços e avisaram que poderiam existir procedimentos internos da Ordem a quem não fizesse greve. Isto parte de uma associação que é de direito público. E, nesse ponto, parece-me que se ultrapassou o limite do diálogo e da razoabilidade. Não me parece sequer que, no mínimo, esteja a ser garantido o dever deontológico destes profissionais. Ultrapassa-se muito o que é razoável em termos de discussão de carreiras e de remunerações.
JP 04.07.2017, entrevista de Alexandre Lourenço, presidente da APAH link
Cerco à Geringonça. 
Protesto dos enfermeiros especialistas, ameaça de nova greve dos médicos, greve dos técnicos de diagnóstico e terapêutica e dos farmacêuticos.
Por mais legitimas que sejam todas as reivindicações, a pressão excessiva colocada pelas corporações ameaça esmagar a geringonça da saúde. Completamente fora do baralho, deveras censurável, a ameaça de recusa de prestação de cuidados protagonizada pelos enfermeiros especialistas, liderados pela mediática bastonária da OE.
Tolhido nesta teia de contestação são cada vez mais ténues as oportunidades deste governo em levar a cabo as reformas necessárias da Saúde.

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