Esperanças Mil
Uma nova Lei de Bases da Saúde
em linha com a lei do SNS
Não permitiremos que a saúde deixe de ser um direito para se converter e
degenerar num grande negócio.
O
Serviço Nacional de Saúde (SNS) vive uma crise indisfarçável. Julgamos mesmo
que, em rigor, pode dizer-se que há muito que esses limites foram
ultrapassados, sobrevivendo o SNS à custa da entrega abnegada dos profissionais
de saúde aos seus doentes e serviços.
O SNS está em
regressão e declínio. Nos últimos anos, tem sido vítima de um arrastado
processo de degradação e degenerescência: degradação do seu funcionamento e da
resposta às necessidades dos seus utentes, degenerescência dos seus princípios
fundadores.
Se
nada for feito para suster e inverter esta curva descendente, o SNS deixará de
ter condições para continuar a ser o garante do direito à saúde e, onde hoje
temos um direito reconhecido e consagrado, passaremos a ter apenas negócio e
nada mais do que negócio. Não permitiremos que a saúde deixe de ser um direito
para se converter e degenerar num grande negócio.
O
colapso do SNS seria uma tragédia para a nossa democracia social, não apenas e
desde logo porque impediria o acesso de muitos portugueses aos cuidados de
saúde de que necessitam, frustrando o seu direito constitucional à protecção da
saúde mas, também, porque se saldaria no agravamento das desigualdades sociais.
Surpreende
por isso e causa-nos profunda inquietação a atitude facilitista e despreocupada
e, até, algum tom desculpabilizante, por vezes muito próximo do auto-elogio,
dos responsáveis pela política de saúde.
Não
se resolvem os grandes problemas do SNS resolvendo os seus pequenos problemas.
Problemas políticos desta dimensão exigem respostas políticas à altura e não
apenas medidas pontuais e descontínuas, por muito acertadas que sejam
tecnicamente.
Os
grandes problemas do SNS estão há muito identificados e não faltam soluções.
Sabemos como chegámos a esta situação, mas é evidente que falta vontade e
determinação políticas para romper com o passado e mudar aquilo que é
indispensável mudar. Ou a democracia acaba com o assalto dos grupos privados ao
SNS ou estes vão concluir o que puseram em marcha há 30 anos: o desmantelamento
do SNS. Não há mais qualquer outra alternativa.
Por
isso apresentámos recentemente a proposta de uma nova Lei de Bases da Saúde. Da
actual já nada há a esperar, a direita fez dela a sua plataforma para assaltar
o SNS – a livre concorrência entre público e privado, a privatização da
prestação de cuidados e da gestão dos hospitais públicos, o subfinanciamento, o
fim das carreiras profissionais, a precariedade e a desregulação laborais, o
desvio de profissionais e de outros recursos, os hospitais-empresas, as PPP, a
desvalorização da saúde pública, a secundarização da promoção da saúde e da
prevenção da doença, a gestão centralizada e a incapacidade de reformar e
modernizar o SNS. É isto que a direita tem para oferecer ao SNS.
Por
isso é tão importante aprovar uma nova Lei de Bases da Saúde. Sabemos que não
basta mudar a lei, muitas outras mudanças são indispensáveis mas, sem mudar a
lei de bases, não conseguiremos interromper, travar e inverter o declínio do
SNS.
A
grande e principal motivação política desta proposta é fazer regressar o SNS
aos seus valores e princípios fundadores e constitucionais, a saber: direito à
saúde para todos e assegurado pelo Estado através do Serviço Nacional de Saúde.
Um SNS universal, geral e gratuito, de gestão integralmente pública, cuja
prestação de cuidados obedeça a padrões de qualidade e humanidade e que se
relacione com as iniciativas privadas e sociais na base da complementaridade e
não da concorrência.
Em
resumo, o que pretendemos é uma Lei de Bases da Saúde em linha com a lei do
SNS, a lei de 1979.
Sem
o 25 de Abril não teríamos criado o SNS e sem a democracia não o teríamos feito
crescer. O SNS, como filho primogénito que é da Revolução de Abril, merece de
todos e de cada um e cada uma de nós, a maior exigência na sua defesa. Nos dias
de hoje, esse é o maior desafio que se apresenta a todas as forças de esquerda:
todos juntos, salvarmos o SNS. É o apelo que queremos partilhar convosco e que
vos convidamos a abraçar, com a força de Abril.
Texto
a apresentar no jantar “Em Abril, Esperanças Mil”, Lisboa, Cantina Velha da Universidade de
Lisboa, 20 de Abril de 2018
João
Semedo e António Arnault, JP 20.04.18
1 Comments:
Recém-eleita líder da JSD, Margarida Balseiro Lopes foi quem o PSD escolheu para representar o partido na sessão solene do 25 Abril
A deputada do PSD Margarida Balseiro Lopes conseguiu a dado passo da sua intervenção não só ter os aplausos da sua bancada (com muitos deputados ausentes), da do CDS mas também da bancada do PCP
Foi quando disse que a liberdade "é de todos", nomeando depois Jerónimo de Sousa ("que pôde ver o seu partido sair da clandestinidade"), Catarina Martins ("que nunca teve de encenar uma peça de teatro sujeita à censura"), Carlos César (cujo PS pode ser os seus fundadores "regressar a casa"), Assunção Cristas ("que pode ser mãe de família e ter uma vida profissional de sucessos") ou Rui Rio, presidente no hemiciclo com convidado, "que pode ser dirigente estudantil em liberdade").
Margarida Balseiro Lopes levou para o seu discurso um tema ausente em todas as intervenções anteriores: a corrupção. Trata-se - disse - "da defesa do erário público da captura por interesses particulares". E por isso há que ter "a coragem para reformar o sistema político, introduzindo transparência para que sejam conhecidos todos os interesses particulares
"A opacidade só serve os prevaricadores, os menos sérios, os corruptos, debaixo de um manto que os encobre, a generalização do 'são todos iguais'", afirmou. Acrescentando: "Mas não, não são todos iguais. Não somos todos iguais".
A deputada social-democrata sublinhou o "tanto" que o país conseguiu nos últimos 44 anos, lembrando que "21 governos foram cumprindo os desígnios constitucionais de garantir um Estado Social com Saúde, Educação e igualdade de oportunidades para todas as pessoas".
Margarida Balseiro Lopes apelou ainda à qualificação da atividade dizendo que "não é um campeonato, onde os nossos ganham ou perdem, e as vitórias de uns são as derrotas de outros". "Demasiadas vezes, para que os partidos ganhem, são as pessoas que perdem", reforçou.
A nova líder da JSD terminou o discurso com um poema de Miguel Torga: "Livre não sou, mas quero a liberdade./ Trago-a dentro de mim como um destino"
DN 25/04/2018
Quero crer que não se tratou de um erro de “casting” do PSD.
O combate à corrupção tem de ser assumido como transversal a todos as forças partidárias. Não se permita pois que (auto) códigos de ética sirvam de escudo à trafulhice que envergonha a cerceia a liberdade.
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