sábado, abril 14

Queiroz e Melo

‘Recebi ameaças de morte. Diziam que era ladrão de corações’ João Queiroz e Melo liderou o primeiro transplante cardíaco no país, em 1986. Hoje, reformado, tem uma empresa de reprocessamento de dispositivos médicos e diz que o futuro passa por hospitais mais ‘verdes’, o que podia poupar milhões. E está a recuperar os Caminhos de Santiago: aos 73 anos, tem palmilhado centenas de quilómetros. Recebeu hoje o Prémio Nacional de Saúde. 
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É difícil compatibilizar estar nos dois lados? 
Eu entendo que se deve trabalhar com profissionalismo e sempre tentei trabalhar só num sítio, que acho que é a única forma de trabalhar com grande eficiência. Não compreendo como é que é possível, em Portugal, o normal ser trabalhar para um hospital e para a competição ao mesmo tempo, é uma contradição filosófica. Se um engenheiro trabalhar ao mesmo tempo para duas ou três companhias de telemóveis, ninguém o iria aceitar. Em Portugal, na Saúde, aceita-se isto com a maior naturalidade, é uma rotina. Como noutros países aliás, não os mais desenvolvidos. 
 O Governo devia ir por aí, pela separação entre público e privado? 
Acho que está entre uma série de tabus consignados pelo SNS, entre os quais a ideia de que somos todos iguais, os que trabalham e os que não trabalham, os que se dedicam e os que não se dedicam. Quando se quer gerir em condições de igualdade 200 ou 300 mil funcionários, é de facto impossível. Uma vez disse a um ministro da Saúde, um homem muito competente, que não era assim tão competente: tem as melhores fábricas, os melhores funcionários mas deixa-os ir trabalhar ao mesmo tempo para a competição, com as fábricas a custar dinheiro. Todos sabemos que as instalações do SNS não são bem aproveitadas à conta disto, não têm blocos a funcionar a tempo inteiro. Claro que os médicos a trabalhar 35 horas com um salário miserável têm direito a querer ir ganhar dinheiro noutro lado, mas isto algum dia vai ter de ser encarado de frente. E acho que não vai ser quando forem os médicos ou gestores a mandar no sistema, mas quando forem os doentes....
Marta Reis, Jornal I 07.04.2018 link 
Uma entrevista que vale a pena ler. Não porque subscreva todas as opiniões do entrevistado, mas porque há concordâncias que devem ser sublinhadas como é o caso do extrato aqui citado. Tavisto

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