terça-feira, abril 23

Quem não deve, não teme


“A palavra eliminar parece fazer deduzir que os doentes foram apagados com uma intenção fraudulenta e é isso que se repudia veementemente”, afirmou nesta terça-feira a ministra da Saúde. Marta Temido rejeita qualquer manipulação de dados e “muito menos” que se tenha feito qualquer trabalho “com intenção” de mascarar os números. O objectivo foi sempre ter informação mais fiável a partir de instrumentos que não foram pensados na origem para dar informação do tipo que nós hoje queremos extrair deles”. 
Exemplo disso é o sistema de consulta a tempo e horas que foi projectado e desenhado sem ter em conta informação que seria necessária dar aos utentes, a partir do momento em que se introduziu o livre acesso e circulação nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde. 
Para a ministra, o relatório do grupo técnico independente que analisou os sistemas de gestão das listas de espera entre 2014 e 2016 “enferma do vício, até de linguagem, que é de classificar como limpeza, num sentido pejorativo, aquilo que são trabalhos administrativos de revisão das listas de utentes em termos de acesso”. 
“A minha primeira referência é no sentido de um repúdio muito firme relativamente a qualquer interpretação que, na minha perspectiva, é um salto dedutivo que não se pode fazer face ao que são trabalhos normais de expurgo de listas de espera, que sempre existiram. São trabalhos orientados por uma tentativa de conferir maior fiabilidade às listas de doentes à espera de consultas ou cirurgias”, afirmou na entrevista à agência Lusa. 
Para a ministra, suspeitar que houve trabalhos de limpeza “nas listas com intenção única de melhorar os números” é “pôr em causa o trabalho de inúmeras pessoas no Serviço Nacional de Saúde”, seja dos serviços centrais, dos regionais ou mesmo dos locais, pondo em causa médicos, gestores, técnicos. 
“Estar a dizer que foram eliminados doentes era supor que houve uma arquitectura de gente envolvida para cometer um acto impossível, impensável de ser feito, até porque estamos a falar de profissionais com obrigações éticas e demonológicas acrescidas”, insistiu. 
Segundo a ministra, o que se fez nas listas de espera foi a correcção de erros e a afinação de informação para obter uma maior fiabilidade dos dados, que não era possível ser feita informaticamente: “Houve necessidade de eliminar pedidos duplicados, que foram eliminados do sistema. Situações em que alguns casos os hospitais perderam os recursos humanos para fazer determinadas valências. O hospital A perde o único reumatologista ou dermatologista que tem. Seria correcto deixarmos os doentes em lista de espera? Não. Os doentes têm de ser retirados daquela lista de espera e reinscritos noutro hospital”, exemplificou.
“Qualquer pessoa de boa-fé e com paciência suficiente para analisar vê que o que aqui temos é algo de muito diferente da imagem que se tem tentado fazer passar deste processo. E que inclui uma suspeição totalmente insuportável”, conclui. 
JP 23.04.19 
Excelente defesa de quem não deve não teme. 
De estudo técnico a arma de arremesso político. 
Vejamos as tristes conclusões do grupo de trabalho: “Foram tomadas medidas de limpeza ou expurgo de listas de espera de consultas, sem que tenha sido, contudo, possível perceber o real impacto que "o expurgo" teve sobre a redução efetiva do tempo médio de espera. A dificuldade de ter o impacto real dessa limpeza de listas acontece, segundo o documento, porque a ACSS não forneceu elementos que permitissem avaliar algumas questões fundamentais, como por exemplo quantos doentes em concreto foram "simplesmente eliminados das listas de espera". 
Nada de mais inconsistente. 
Ou seja, em relação à operação administrativa de expurgo das listas de espera, os autores do estudo não conseguiram apurar verdadeira intenção do MS em manipular os tempos de espera, limitando-se no seu trabalho a adjectivar as conclusões (?) com termos fortes, insidiosos, aptos à especulação política. 
Nota: Quem se lembraria de nomear para coordenador de um trabalho deste tipo o bastonário da ordem dos médicos. Melhor só a bastonária da ordem dos enfermeiros.

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1 Comments:

Blogger Tavisto said...

Marta Temido é um alvo a abater, pela direita política e por quantos com ela se identificam. A dita “limpeza” das listas de espera cirúrgicas é tão só pretexto para afrontar quem deu a cara pela versão atual da lei de bases da saúde. Mesmo quem, sem o mínimo de compaixão, deu cobertura a uma greve cirúrgica prolongada no tempo, esta sim com consequências gravosas na vida dos doentes, vem hoje apelar ao Presidente da República no sentido da demissão da ministra da saúde.
Assistimos hoje a um “remake” da luta política em torna da aprovação da lei Arnault do Serviço Nacional de Saúde. No 45º aniversário do 25 de abril, façamos com que, tal como em 75, a direita política saia derrotada no seu objetivo liquidacionista do SNS.

11:11 da manhã  

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