sábado, abril 6

Sob ameaça de ruína

Sou beneficiário da ADSE. Pago para este sub-sistema de saúde 3,5% do meu salário. Todos os beneficiários pagam esta taxa, independentemente do salário que auferem. Quer isto dizer que os que ganham mais, pagam mais e, logicamente, os que menos ganham, menos pagam. Princípio razoável, justo, positivamente democrático e solidário. 
Ponto um – No dia 07 de Março deste ano, dirigi-me ao Hospital Privado, na Rua do Raio para marcar um consulta de urologia. Lá, na sala de recepção, ampla e bem acomodada, com vários jornais à disposição para uma leitura fugaz e com pessoal na retaguarda de apoio ao cliente, retirei a senha necessária para efectuar a respectiva marcação de consulta. Um minuto depois, fui atendido no balcão por uma funcionária bem simpática e diligente. Disse-lhe que queria marcar uma consulta para o dr. Pedro Carvalho (nome fictício) e, depois da funcionária pesquisar no seu computador, respondeu-me que tinha vaga para esse médico no dia tal e tal e tal. Isto é, colocou-me três e hipóteses de consulta e todas no mais curto espaço de tempo. Escolhi, por conveniência, o dia 14 de Março e à hora que desejei. 
 Ponto dois – Um utente do SNS – Serviço Nacional de Saúde. Dirige-se ao Centro de Saúde da sua zona de residência e quer marcar uma consulta de especialidade, seja de urologia, seja de cardiologia ou de outra qualquer. Primeiro, o utente tem que ser visto pelo médico de família que irá verificar se há necessidade ou não dessa consulta. Se houver necessidade, a consulta será marcada para duzentos, trezentos ou mais dias depois. Se o médico entender que não há necessidade, nada feito. ... 
Diário do Minho, 17.04.19 link 
Não desistam! Vão ao site e leiam até ao fim o que diz o Senhor Armindo Oliveira neste artigo de opinião no Diário do Minho. Não sei quem seja a pessoa nem tal interessa para o caso, seguramente que é uma perspetiva do nosso sistema de saúde da parte de um utilizador privilegiado. Bem sei que é uma leitura feita pela rama mostrando desconhecimento da problemática dos modelos de saúde em confronto. Mas, em boa verdade, também não é isso que interessa à generalidade dos utentes. O que o cidadão comum quer saber é como ter acesso em tempo útil aos cuidados de saúde que necessita e, neste aspeto, ou há capacidade para melhorar significativamente o Serviço Nacional de Saúde ou ele cairá em desuso. Se o SNS ruir, como garantir a universalidade dos cuidados? Quem vai pagar a conta! Depois logo se há de ver, para já vão se fazendo contas de merceeiro. 
Tavisto 
“Se o médico entender que não há necessidade, nada feito.” 
Muito bem! A bem do sistema e do estado de saúde dos utentes (prestação com critério: apuramento cuidados necessários/afastamento cuidados inapropriados). Pese embora o descontentamento do utente/cliente (injustificado). 
Está aqui o ponto chave distintivo dos dois modelos: Na ADSE a vontade do utente é determinante no acesso (gastos) de cuidados, mesmo que sejam inapropriados. Gasta-se à fartasana. O sistema insustentável, ruirá a curto prazo se nada se fizer para controlar esta procura desordenada. 
No SNS a avaliação clínica é determinante no acesso aos cuidados. Há uma prática clínica capaz de controlo do acesso/gastos. Infelizmente, a capacidade de resposta do SNS tem vindo a degradar-se por falta de recursos. O que poderá conduzir a resultados catastróficos se nada se fizer de capaz a muito curto prazo.

Etiquetas: