quinta-feira, julho 18

Lembrar João Semedo

Há poucas horas, na Casa do Alentejo, num jantar promovido pelo BE para lembrar João Semedo, disse isto:  Se bem o conhecia, do que o João gostaria nesta altura era que, mais do que estivéssemos a falar dele, falássemos do que ele andou a fazer nos seus dois últimos dois anos de vida, juntamente com António Arnaut. Por isso, João, como nos conhecemos há bastante mais de quatro décadas, ainda antes do tal dia, é sobre isso que me dirijo a ti e aos teus amigos, hoje reunidos para passarem o serão contigo.
Poderíamos estar aqui a lembrar e celebrar a tua militância, mas se não lhe juntássemos a razão próxima dessa militância, não seria a mesma coisa. É que não nos perdoaríamos se não tivéssemos aproveitado a oportunidade única que representaram estes quatro anos para voarmos acima das nossas possibilidades e mesmo assim termos conseguido. Embora outros nos tivessem dito que não valia a pena, que era uma tarefa votada ao fracasso, que o que estava, estava bem, mesmo assim passámos-lhes a perna e ali nos mantivemos, uma vez mais, sempre uma vez mais, a dar a cara por aquilo que valia a pena. Tínhamos a lição bem estudada e nem os pormenores foram deixados ao acaso. Havia a consciência de que se tratava de um combate cujas consequências iam além do desfecho imediato. Era o teste de consistência ao espírito dos acordos de 10 de Novembro. Também por isso tínhamos de ganhar. Também, o que é raro entre nós, gente das esquerdas, não nos andámos a atropelar uns aos outros. Não precisámos do notário para que cada um soubesse o que tinha a fazer e fizesse o que tinha a fazer. Como naquele verso "aprendemos a seguir acertando a direcção". Sublinho, acertar mas não mudar de direcção. E foi isso que se fez na altura em que tinha de ser feito. Diria mesmo, no preciso momento em que as circunstâncias nos convocaram para o acerto de direcção. Nisso fomos exemplares. E foi porque levámos à letra o princípio " de cada um segundo as suas possibilidades", que chegámos aqui unidos e dispostos a fazer o resto do caminho. Espera- nos a azáfama de outros tantos dias, do ir e vir, de mesas redondas e quadradas, de plateias e plenários. 
No entanto, o mais importante mesmo, agora que chegámos aqui, com este desfecho, é estarmos preparados para exigir o cumprimento do que ficou escrito em cada linha do que ficou consagrado. Sem isso, o que andámos a fazer terá sido "um esforço inútil/um vôo cego a nada", havia de nos dizer o Reinaldo Ferreira. Para isso continuamos a contar contigo. 
Vai daqui aquele abraço, e vamo-nos vendo por aí.
Cipriano Justo in facebook

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