sexta-feira, fevereiro 14

Assim, não vamos a lado nenhum

... «A morte de um doente com 65 anos que terá aguardado durante seis horas na urgência do hospital de Lamego para ser observado por um médico, num dia em que se registou uma afluência recorde de 128 pessoas, vem evidenciar de novo as falhas e os problemas com que se debatem estes serviços vocacionados para atender casos mais graves. 
Enquanto as notícias sobre a falta de recursos humanos e de condições de trabalho nas urgências se sucedem e ao contrário do que os sucessivos ministros da Saúde preconizam, a procura continua a aumentar e em 2019 atingiu mesmo um número recorde. No ano passado fizeram-se mais de 6,4 milhões de atendimentos nestes serviços que muitas vezes funcionam como a porta de entrada no Serviço Nacional de Saúde (SNS), mais 60 mil do que no ano anterior, a crer nos últimos dados que constam do Portal da Transparência do SNS. Este é mesmo o número mais elevado dos últimos seis anos. 
Este ano, o Governo está a pensar reduzir em 190 mil os episódios de urgência, uma diminuição da ordem dos 3%, que permitiria uma poupança de 40 milhões de euros, refere numa nota explicativa do Orçamento do Estado. Há muito tempo diagnosticado, o problema da grande procura dos serviços de urgência não tem tido, porém, um remédio eficaz e é muito frequente que os tempos máximos de espera estipulados para a observação médica não sejam cumpridos, sobretudo em alturas em que se registam picos de afluência. 
Foi o que aconteceu com José Ferreira, que morreu nesta segunda-feira depois de ter sido triado por enfermeiros com pulseira amarela (caso considerado urgente e que deve ser atendido no intervalo de uma hora, no máximo). O doente aguardou durante seis horas no serviço de urgência do Hospital de Lamego para ser atendido por um médico, segundo relataram familiares e vizinhos à imprensa.»... 
JP 13.02.20 link 
Portugal é campeão europeu de afluência às urgências. A política de saúde de sucessivos governos tem sustentado o crescimento do monstro, insaciável devorador de recursos. Sabendo-se que apenas cerca de 50% dos episódios observados nos SU hospitalares correspondem a doentes tidos como urgentes segundo a triagem de Manchester, apesar disso, há quem reivindique, orgulhosamente, cada vez mais importantes recursos para o mostrengo. link «Quando muito dos meios investidos neste crescimento disfuncional deveriam ter sido investidos em portas alternativas ao Serviço de Urgência» .
Nesta e noutras matérias da Saúde, o governo de Carlos Costa dá mostra de grande desorientação, preocupado, sobretudo, em agradar a gregos e troianos de que a recente decisão de abertura de concurso para renovação da PPP de Cascais é exemplo. link link 
A ministra da Saúde, por sua vez, promete um «novo modelo de urgências mais concentradas, mais articuladas, mais a funcionar em termos regionais seja seguido em todos os sítios do país». link
Duvidamos que o consiga dada a grande dificuldade do projecto que passa pela reorganização/expansão do atendimento dos CSP a montante, investimento avultado (muito além do previsto no OE recém aprovado), capacidade de mobilização política, essencialmente, das corporações e poder local (todos estamos lembrados do que aconteceu quando Correia de Campos decidiu encerrar SAP, SAPUS, SACUS). 

"Um SNS consumido pelo monstro das Urgências" link 
Urgencias relatorio GT link

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