domingo, novembro 20

Urgências Hospitalares (II)


Na verdade as urgências surgem como o Calcanhar de Aquiles do nosso sistema de saúde! Desde logo porque os SU são a porta de entrada da generalidade dos doentes e é nesse primeiro atendimento que se geram os principais descontentamentos dos cidadãos, que muitas vezes têm que esperar horas para serem atendidos. A principal questão que se coloca aos SU's, em meu entender, não é porém a de falta de recursos. O principal problema tem a ver com questões de organização dos serviços, associada muitas vezes ao funcionamento em espaços exíguos e sobretudo inadequados. Depois há claros interesses profissionais, sobretudo nos grupos de médicos mais jovens e menos solicitados por consultórios particulares, pois é do trabalho em Urgência que lhes advém um atraente complemento remuneratório. Em parte é isto que leva a que nem sempre as equipas de urgência sejam as mais ajustadas às necessidades em determinadas especialidades.
Ao mesmo tempo, as primeiras 12 horas de trabalho prestadas em urgência, permitem aos mais experientes libertar horas para actividades fora do hospital. Esta, a meu ver, é uma das razões pelas quais o trabalho dos médicos nos hopitais se concentra sobretudo no período da manhã.
Se como sugere o Vivóporto, as 35 horas semanais fossem prestadas integralmente no serviço, isso permitiria reduzir as tão famosas listas de espera, e estou convicto de que o número de médicos poderia também ser reduzido.
Mas não tem sido muito atraente para os médicos o trabalho em "equipas fixas" na Urgência e também sob o ponto de vista profissional me parece que se torna necessário que os mesmos trabalhem com doentes em internamento.
Penso também que no contexto actual, a prestação de todo o trabalho em Urgência fora do Horário das 35 horas teria como resultado uma carga horária semanal de 47 ou 59 horas, com manifesta sobrecarga para os médicos. Haveria, então que recorrer a médicos não vinculados ao próprio hospital (o que aliás já se verifica) solução que, por enquanto, se tem mostrado de difícil concretização.
A minha observação da realidade leva-me a concluir que a forma de organização dos serviços hopitalares a que se chegou foi resultante da procura de soluções onde os verdadeiros interesses dos doentes foram frequentemente relegados. Hoje porém, vão surgindo indicadores de que as coisas estão a mudar. Alguns hospitais têm já horários alargados de consultas, com muita dificuldade alguns médicos vão aceitando que a designada "urgência interna" possa ser assegurada pelos médicos dos SU, vão aparecendo excelentes exemplos de procura de melhoria no aproveitamento dos blocos operatórios, etc. Mas as dificuldades existem e, em meu entender, só uma verdeira mobilização de esforços de todos (governantes, gestores, médicos e demais profissionais de saúde e sem esquecer os restantes trabalhadores) poderá permitir uma adequada reforma da gestão hospitalar. E não será pelo apontar o dedo a este ou àquele grupo profissional, nem pela procura de "expedientes populistas" que se conseguirá uma urgente e adequada melhoria do nosso sistema de saúde.
As soluções são necesariamente complicadas mas, por isso mesmo, devem ser tentadas com bom senso e boa-fé. E que todos se sintam responsáveis.
tonitosa

Etiquetas:

1 Comments:

Blogger ricardo said...

A transformação dos Hospitais SPA em EPE não terá como consequência o fim das carreiras ?

A norma de acesso no SPA é o concurso. No sector empresarial do estado será também o concurso?

12:22 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home