terça-feira, dezembro 13

A Gestão Hospitalar

Não é politicamente neutra

Por diversas vezes, temos visto aqui defender por alguns comentadores (Poole da Costa, Tonitosa, Coyote, entre outros) que o que importa é a competência dos gestores (avaliada não se sabe como, mas a ver pelo que se tem passado, fundamentalmente com base na cor do cartão do partido no poder, rede de apoios e de influência ou pagamento de favores), devendo estes serem capazes de trabalhar com qualquer Governo, sendo «absolutamente indiferente a cor partidária, filiação clubistica ou outra qualquer motivação que não seja a da competência» (Coyote dixit). Caber-lhes-á, tão só, não «conspirar contra a tutela ainda que de orientação politica diferente» (idem), e cumprir «a missão, os objectivos e as metas» que lhes forem definidas» (Poole da Costa dixit). Como se as pessoas fossem politicamente neutras. Mas não são, já aqui o defendi quando referi, e mantenho a opinião, que «nem a gestão dos hospitais é politicamente neutra, nem, muito menos, são neutros os seus protagonistas». E isso é tanto mais verdade quanto o método utilizado na escolha dos gestores hospitalares assentou/tem assentado em critérios de natureza meramente política. Tendo sido estes gestores, na sua quase totalidade, escolhidos por razões políticas (gestores políticos por isso), pensar-se que alguma vez serão neutros, que serão capazes de se sintonizarem com outras políticas, ou que deixarão de estar condicionados pela sua visão da sociedade, do que entendem ser um hospital, pelos valores que defendem ou das amizades e relacionamentos que têm, das duas três: ou são uns grandes oportunistas, e procuram aguentar-se nem que seja vendendo a alma ao diabo, ou são uns dissimulados, aparentando defender uma política quando na prática estão a implementar outra, ou estão a ser sinceros consigo próprios mas nem por isso deixam de «pôr tudo quanto são no mínimo que fazem» (Pessoa) assim desvirtuando uma política, os valores, uma «cultura de empresa» que não é intrinsecamente a sua.
Temos tido exemplos disso, no modo como se fazem as admissões de pessoal, no modo de relacionamento inter-institucional, interno e externo, no modo como se gerem as pessoas e os problemas,nas opções estratégicas que definem, no sentido das decisões que tomam, até na posição que tomam (e as razões porque as tomam) perante a abertura da linha Amarela do Metro do Porto, como aqui foi relatado por alguém, etc. Eu pergunto, quantos socialistas ou votantes socialistas se revêem na gestão que está a ser feita nos hospitais onde ainda «mandam» os gestores de LFP?
Não resisto a transcrever a este propósito uma afirmação retirada do Le Monde Diplomatique (edição portuguesa, de Dezembro) que hoje recebi, a propósito da alteração, desde 1 de Janeiro de 2005, das normas que as empresas europeias cotadas na Bolsa devem passar a respeitar na apresentação das suas contas consolidadas. Diz o autor do artigo intitulado «União Europeia aposta nas “normas americanas”. Uma contabilidade feita por medida para os accionistas»: «apesar das aparências, a contabilidade é uma questão eminentemente política, na medida em que reflecte a visão que se tem de uma empresa e, além disso, da sociedade. Optando por subcontratar a elaboração das suas normas contabilísticas a uma organização privada sob influência americana, a União Europeia claramente escolheu o campo dos accionistas, o que diz muito sobre o “modelo social” que pretende promover».
A Contabilidade («uma disciplina muitas vezes encarada como neutra», refere-se na 1ª página), quem diria?!!!
vivóporto

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6 Comments:

Blogger saudepe said...

Caro alrazi

Todos os AH têm preparação específica para gerir HH:

Estão altamente preparados.
O potencial está lá, podendo ser mais ou menos desenvolvido.

Como aconteceu, recentemente, com o Giovani.

O potencial estava lá.
Até que o mister se lembrou de o tirar das laterais onde o talentoso jogador definhava a olhos vistos e pô-lo bem no centro do interior da área adversária.

Milagre, exclamarão os menos avisados.
Nada disso.
Rentabilização do potencial . Rentabilização deum precioso activo do Benfica. Ao mais alto nível.

É o que CC tem de fazer dos AH.
Aproveitar o seu potencial. Saber rentabilizá-lo ao mais alto nível.
Sob pena de, a meio da época, ser despedido (chicoteado, não quis aplicar esta expressão do futebolês) por não apresentar resultados.

4:35 da tarde  
Blogger saudepe said...

Caro Alrazi.

Eu sei que o meu caro alrazi gosta da SaudeSA.
Da qualidade das intervenções que por aqui vão acontecendo.
A maioria de AH.
Não contando com o tonitosa.
Que não sendo AH, já é mais AH do que muitos AH.

Então o Alrazi tem dúvidas que os AH deste blog não são competentes para exercer qualquer cargo de administração dentro de um hospital ?

Olhe o CC que se arrisque...
E daqui a um anito estamos aqui a relembrar este comentário.

4:46 da tarde  
Blogger saudepe said...

Todos os AH são obrigados a fazer o exercício de um ano tutelado por um colega mais velho e experiente, condição necessária para o desempenho de funções de responsabilidade nos HH.

Se o SM não o fez, o problema é seu.

Afinal, aos poucos, vamos descobrindo onde param as competências.

9:45 da tarde  
Blogger saudepe said...

É por estas e por outras que eu atrás escrevi que o tonitosa não sendo AH, já é mais AH do que muitos AH.

Isto para acrescentar que não tenho problema nenhum em trabalhar com gestores, ou ser chefiado por gestores que não sejam AH. Discutir os problemas da saúde com quem tem uma visão dos problemas muito diferente da minha. Desde que percebam minimamente da matéria. Demonstrem que gostam dos hospitais. Que Gostam de trabalhar na área da saúde. Que vivam os problemas da Saúde. Como o tonitosa aqui na SaudeSA tão bem tem demonstrado.
Um abraço ao colega tonitosa.

9:55 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Acho que por vezes baralhamos as questões, porque não é fácil o exercíco de abstracção. Na verdade ninguém é politicamente neutro. Nem os tais cinzentões (desculpem voltar a falar nessas "toupeiras" ou "ratos dos esgotos").
No exercício da nossa actividade profissional, nós funcionários públicos de quem se espera espírito de Missão, não temos, necessariamente, que actuar de acordo com as nossas opções religiosas, políticas e ideológicas. O que não significa que sejamos neutros. O contrário seria admitir, no extremo, que não haveria bons empregados por conta de outrém pelo facto de defenderem ideais comunistas, que não poderia haver empregados dedicados em instituições onde se não observassem os princípios da sua religião, que quem não fosse filiado no partido do poder seria por natureza uma força de bloqueio (gostam desta ?). E não tem que ser assim. Evidentemente que os "conselheiros do Governo", aqueles a quem o Governo consulta ou pede pareceres sobre a concepção de políticas públicas (Órgãos de Concepção), devem à partida estar em sintonia com as opções ideológicas do Governo. Mas os Hospitais não são órgaõs de concepção de políticas mas sim de execução das políticas definidas. Pensemos nos muitos exemplos de soluções de governo (nos mais diversos países de UE) onde partidos de direita ou centro direita se coligam com partidos de esquerda ou centro esquerda. Se o que defende o Vivóporto fosse tão radical quanto ele o admite, então tais coligações seriam impensáveis!
Os gestores hospitalares estão para gerir os Hospitais na prossecução dos objectivos e das metas traçadas pelo Governo e muitos deles nem sequer têm militância partidária activa. Por que razões deverão ser julgados "traidores"?! Mas afinal não somos sobretudo e em primeiro lugar técnicos e servidores da causa pública? Não somos responsáveis e capazes de defender as nossas convicções políticas nos lugares próprios e que não são os organismos que dirigimos?
Caro Vivóporto, no limite, deveriam ser demitidos todos os trabalhasdores dos hospitais que não fôssem do partido do Governo (qualquer governo)porque afinal também eles não são neutros e a execução das decisões dos CA deles depende, e sobretudo, depende deles.
E que dizer dos trabalhadores (alguns de nível hierárquico superior) que são sindicalistas e que, por natureza, tendem a ser opositores do poder? Devem também ser "saneados"?
Eu sei, (que você sabe que eu sei), que não tem sido geralmente a prática dos vários governos a opção baseada na competência. Mas ou há coragem para romper-se com a prática seguida ou não há reformas que se façam, porque as reformas são sempre mais longas do que o ciclo governativo.

11:11 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

12:24 da manhã  

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