sexta-feira, outubro 6

Haverá um Todo ?


Dizia Nietsche (filósofo, amigo de Wagner), referindo-se sarcasticamente à inclinação preferencial de Schumann (compositor), para as pequenas formas (cfr. Vieira Nery, libreto do dísco nº 11 editado com o público às 5ªs feiras), «que o gosto de Schumann era basicamente um gosto pequeno». Diz Vieira Nery: «para se impor definitivamente perante o grande público Schumann precisava, pois, de abordar os "grandes géneros"- a sinfonia, o concerto, a ópera e a oratória». Vem isto a propósito da política de saúde até agora desenvolvida por CC. Um gosto decididamente para o «pequeno», se por pequeno entendermos, intervenções parciais no sistema de saúde, intervenções soltas, aparentemente com poucas ligações umas com as outras: transformação dos HH SA em HH EPE, rede de cuidados continuados, unidade de saúde familiar, fecho das maternidades, fecho das urgências, taxas moderadoras no internamento, etc. Ainda que, quando vistas isoladamente, uma ou outra destas medidas possa ser considerada uma pequena obra prima (não digo que o sejam !), ainda assim pode perguntar-se que ligação têm elas umas com as outras, do ponto de vista global do sistema de saúde? Que sistema de saúde se quer construir (re-construir? destruir?), que SNS se pretende modelar, com elas? Subsistem todas as dúvidas, pois, conhecendo-se algumas partes não se conhece o todo (haverá um todo?). Tal como um grande compositor só se revela quando compõe uma grande obra (uma sinfonia, um concerto, uma ópera, uma missa, um requiem, em que todas as partes têm de estar harmoniosamente integradas, devem soar melodiosas, ao mesmo ritmo, todas articuladas em uníssono de tal modo que o que se percebe é apenas um som,e não vários sons, desgarrados, desarmoniosos, a ritmos diferentes, gerando muito mais ruído do que música), também CC, só poderá vir a recolher os apausos do grande público (não precisa recolher a unanimidade), quando compuser, e submeter ao nosso juízo, a sua sinfonia, o seu concerto, a sua ópera, a sua missa. Enfim, o seu sistema de saúde, o seu modelo de SNS.
Queira Deus, porém, que CC não esteja a compor um Requiem .
Vivóporto

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2 Comments:

Blogger Clara said...

Mais um grande momento do Vivóporto.
Comentário lúcido e certeiro.

LFP, estratega de ofício, tinha um plano claro para a Saúde: A Privatização.

CC, professor de ofício, herdou o plano do seu antecessor. Hesitante, ousa mitigá-lo, aqui e ali, com alguns laivos de política social.
A manta de retalhos ameaça desmoronar-se a todo o momento.
Infelizes dos que ficarem por baixo.

Quanto às partituras, CC demonstra grandes dificuldades nas aulas de solfejo.

1:21 da tarde  
Blogger tambemquero said...

CC querTaxas no internamento e cirurgia do ambulatório.
Que vá ao Totta!

11:17 da tarde  

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