domingo, março 25

Listas Secretas

A TVI link em articulação com determinada oposição, fez mais um dos seus inacreditáveis trabalhos sobre a Saúde. Desta vez tratou-se da revelação de uma lista secreta de SPAs a encerrar.

Toda a gente sabe que o plano de encerrar os SAPs já é antigo e que nada tem a ver com a recente proposta de encerramento das urgências.
Tem razão CC, quando refere : «O Serviço de Atendimento Permanente (SAP) nunca foi, nem poderia ser, um dispositivo de uma rede de urgências, apesar de muitos, erroneamente, assim o designarem. (...) Os 79 SAP a funcionarem ainda em regime de 24 horas diárias estão dotados de apenas um médico e um enfermeiro, sem formação especializada para situações urgentes ou emergentes, e um funcionário administrativo. Sem meios de diagnóstico químico ou radiológico e desligados da rede de transporte de doentes, limitam-se a realizar, fora de horas, as consultas que deveriam ser prestadas pelo médico de família no horário regular. Durante a noite, conferem uma ilusão de segurança que tem sido causa de muitos contratempos. (...) Devido à carência de médicos de família (cerca de 700 mil Portugueses não os têm), os períodos nocturnos dos SAP passaram a ser assegurados pelos próprios médicos do centro de saúde, retirando-lhes a possibilidade de prestar assistência na manhã seguinte.
Daqui resultou uma perversão organizativa. De dia faltam médicos, por estarem de serviço à noite. Só que de noite quase não há doentes, sobretudo no interior do país.»
link

Idêntica opinião têm os nvestigadores do OPSS link: «A implantação dos SAP, pelo número esmagador de unidades criadas (de 1983 a 2004, criaram-se 248 SAP no território continental sem contar com os do distrito de Lisboa)— o mesmo tendo acontecido aliás com a abertura inopinada de extensões de saúde — foi, em ambos os casos, feita à revelia duma identificação prévia de necessidades em saúde e dum planeamento integrado da rede de serviços de saúde.
Os motivos centrais para esta evolução decorrem do facto de os profissionais serem compelidos a fazer semanalmente atendimento durante 12 horas, como mínimo nestes SAP, que são retiradas ao período de acesso à consulta personalizada dos cidadãos inscritos nas suas listas. E, quantas vezes ao longo do ano, mas muito principalmente em férias, esses períodos se alargam a 24 ou mesmo 36 horas/semana, transformando-os de médicos de família em verdadeiros profissionais de serviço aos SAP.
Ao conjunto das questões já sumariadas somam-se os avultados custos decorrentes dos pagamentos relativos a trabalho extraordinário efectuado. Em 2004, estima-se em 78 milhões de euros — mais de 15,5 milhões de contos — esses custos para trabalho extraordinário.»
Poderá estar aqui (corte do trabalho extraordinário), mais uma das razões para tanto incitamento da oposição à contestação da reorganização da rede de cuidados.

15 Comments:

Blogger e-pá! said...

Acho um raciocínio enviesado correlacionar o trabalho extraordinário dispendido pelos médicos nos SAP's e a contestação, liderada essencialmente pelos orgãos autárquicos, do encerramento dos mesmos.
As causas são outras. Não basta dizer que os SAP's tinham o seu encerramento programado há muito. Era preciso explicar, previamente, porquê, como e para quê.
E a coincidência do anúncio dos SAP's com a re-estruturação das urgências, além de infeliz no tempo, veio acrescentar, às populações, um sentimento de insegurança que se mostrou alheio à real incapacidade (dos SAP's) em resolver problemas urgentes ou de emergência. Tanto mais que não existe no terrenos uma rede movél pré-hospitalar e os SUB só existem (ainda) no papel.
Houve, portanto, erros de calendarização, deficit informativo e precipitação.
Estas situações são como é óbvio "aproveitadas" pelas oposições que, no caso vertente, apanharam a boleia do poder autárquico, rapidamente mobilizado.
Assacar ou imputar responsabilidades desta situação a eventuais benesses económicas relativas ao pagamento de horas extraordinárias a médicos, enfermeiros, etc., é confundir a árvore com a floresta.
O problema não é corporativo, nem colide com a justeza da proposta de reorganização das urgências apresentada.
Foi um problema de inépcia política que tem sido difícil de ultrapassar e, já teve, custos - é preciso não camuflar.
Se continuarmos a centrar a atenção das populações sobre questões absolutamente marginais, se tentarmos desviar a questão para a poupança de horas extraordinárias, mais custos vai ter.
A solução não é a diabolização dos trabalhadores da saúde (médicos, enfernneiros, etc.) que, tão somente, serviam o esquema organizativo montado.
Em vez de andarmos à procura "bodes expiatórios" (pau para toda a obra) será mais acertado achar soluções políticas adequadas, informar e educar.
Quando a informação não "passa" há sempre lugar para secretismos (as tais listas secretas...)
E depois, haverá sempre "espaço" para a TVI (como se cita no post) promover os "seus inacreditáveis trabalhos sobre a Saúde..."

2:00 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Encerra alguma "curiosidade" a forma como este post começa: "a TVI em articulação com alguma oposição...".
Quase se poderia aqui escrever: o Saúde SA em articulação com o Ministério da Saúde colocou mais um post...".
Assim, não. ~Pode parecer que há uma tendência para postar textos em defesa de CC.
A TVI, se teve acesso a uma lista secreta, mais não fez do que prestar um serviço às populações, divulgando-a.
E porque não fazê-lo? Tem o MS medo de informar as populações? Não é seu dever fazê-lo?
Quanto ao assunto em si, é dever de qualquer governo promover medidas de política de saúde que assegurem às populações a prestação de um serviço de qualidade, em condições de igualdade de acessibilidade e em tempo oportuno. E deve fazê-lo procurando uma distribuição equilibrada de recursos e a sua afectação com a máxima eficiência.
Isto justifica e exige uma adequada reavaliação da situação actual mas as decisões não podem (não devem) ser norteadas pela procura obcessiva de redução de despesas do SNS, a qualquer preço. E é isso que tem transparecido. E aos olhos das populações é isso que este encerramento dos SAP encerra.
O objectivo terá que ser sempre o de melhores serviços aos cidadãos e o encerramentos dos SAP's, sem alternativas (melhores), não é solução.
Para aqueles que, como muitos de nós, comentadores do Saúde SA, vivem nos grandes centros ou têm fácil acesso a serviços alternativos, será sempre fácil apoiar o encerramento de serviços de saúde, mas para as populações abandonadas (cada vez mais abandonadas) do interior do País, os custos sociológicos de tais decisões serão sempre elevados.
Como costuma dizer-se: piri-piri no "rabo" dos outros...para nós é manteiga!
Respeito por isso as reacções dos meus concidadãos que protestam contra o encerramenbto de serviços de saúde.
Aplaudo os que saem à rua para se manifestarem.
Como se verificou no caso de Chaves (e outros)o Governo cede quando pressionado!
Força, força...

12:47 da tarde  
Blogger xavier said...

Para mim,o que interessa analisar nesta história da lista secreta dos SAP, é se esta integrou ou não o trabalho da Comissão responsável pelo plano de requalificação das urgências e se integrou, porque foi omitida.

Mas antes um pequena nota introdutória sobre as habituais farpas venenosas do tonitosa.

«Encerra alguma "curiosidade" a forma como este post começa: "a TVI em articulação com alguma oposição...".»
O Tonitosa não imagina a dificuldade, a coragem que foi necessária para escrever este parágrafo. Não por causa do autor do trabalho da TVI, que eu não aprecio particularmente.

«Pode parecer que há uma tendência para postar textos em defesa de CC. »
E, pergunto eu, porque não?
Como já postei muitos posts a deitar abaixo, entendo que também tenho o direito de postar textos a botar acima. Principalmente quando me cheira a jogo sujo, a incitamento cobarde ao desacato popular.
E depois do que tenho visto ultimamente, não sabe as ganas que tenho de botar acima.
Porque para botar abaixo no SaudeSA, já há que chegue.

Para lá da intriga política, o que me interessa nesta história é o seguinte:
Os SAP são uma perversão dos cuidados de Saúde primários e há muito que deviam ter sido encerrados . O levantamento e plano de encerramento dos SAPs é antigo (Relatório OPSS).
A comissão responsável pelo proposta de requalificação das urgências afirmou sempre que o seu estudo não tinha abordado o problema dos SAPs por não serem urgências. A decisão de encerramento dos SAPs é anterior à conclusão do trabalho da Comissão.

Temos apresentado aqui na SaudeSA alguns trabalhos que concluem que a organização da rede de cuidados é um caos e que a sua reorganização é vital para o controlo da despesa do SNS.

Concordo ter havido erros de calendarizarão, deficit informação e inabilidade na condução do processo (é-pá) (as populações ainda crêem que o encerramento do SAP significa o encerramento do Centro de Saúde).
Acredito, no entanto, não ter havido manigâncias, e ocultação de listas, como a oposição PSD e o trabalho da TVI deixaram entender.

Como sempre, no lugar de discutirmos de forma positiva a melhor forma de organização do SNS, preferimos jogar no boicote, no populismo barato dentro da lógica “já que não é para mim, não é para ninguém.

É com tristeza que vejo o tonitosa alinhado com o mais fácil, com o populismo barato.
Deixo-lhe, por isso, este naco de prosa escrito por alguém insuspeito de prmover as políticas de CC:
(...)Agora o Governo, confrontado com a necessidade de racionalizar e pôr ordem no país, vê-se a braços com rebeliões (umas patuscas outras autênticas), e legiões engrossadas por demagogia e sentimentalismo localista levantando estandartes de bairrismo apelam ao bom senso do poder: Deixem-se de reformas e que tudo fique como está! Um dos quadros em que isso é mais notório é na Saúde. A Beira Interior é um bom retrato dessa situação. Não faltava a ausência de um pensamento regional, as hesitações do Governo estão a cavar a sepultura dos estudos técnicos de excelência tão apregoados. O Centro Hospitalar da Beira Interior, que já deveria estar constituído, é uma quimera como os moinhos do Quixote. A desinformação campeia. O Governo deixa andar. Ou muito me engano, ou tudo ficará na mesma. Para gáudio dos bairristas e louvor do nacional porreirismo.
FernandoPaulouro Neves, Jornal do Fundão

5:02 da tarde  
Blogger saudepe said...

Inteiramente de acordo com o Xavier a quem envio um grande abraço.

12:00 da manhã  
Blogger Clara said...

O miserável trabalho da TVI é baseado na miserável campanha de oposição do PSD.
A senhora AH Ana Manso, à falta de argumentos, foi uma das que tratou de lançar atoardas e suspeições sobre o trabalho competente e honesto da Comissão.
Um abraço para o Xavier.

12:05 da manhã  
Blogger coscuvilheiro said...

Completamente de acordo com o post do Xavier.
Um abraço

2:40 da manhã  
Blogger helena said...

Um abraço para o Xavier.

2:45 da manhã  
Blogger ricardo said...

O Ministério da Saúde desmentiu ontem, em comunicado, a existência de qualquer relatório secreto relativo ao encerramento de Serviços de Atendimento Permanente (SAP). Não nega, contudo, o fecho daquelas unidades de saúde no período nocturno, o que já levou o PSD a pedir um inquérito parlamentar para exigir explicações.
CM 27.03.07

9:05 da manhã  
Blogger helena said...

O comentário do Tonitosa é vergonhoso.

9:07 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Eu sei que cada vez mais os comentários que criticam a política do Governo para a Saúde são incómodos para muita gente.
Mas, Dra. Helena, ilustre comentadora, vai ter que aguentar!
A não ser que neste blog sejam silenciadas as vozes discordantes dessa política.

10:20 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Xavier,
Desculpe que lhe diga: acho que não é correcta a forma como começou este post "Listas Secretas".
Quer em relação à TVI quer em relação a uma certa oposição.
Tanto mais que a matéria tratada é importante para as populações independentemente das opções políticas de cada um. Se assim não fôsse teríamos certamente os autarcas e outro líderes de opinião do PS a apoiar sem reservas o encerramneto de Serviços de Saúde (SAP's e não só) e não é isso que se verifica.
E como se constata, as listas exitiam e não foram dadas a conhecer por quem o devia ter feito.
Quanto a apoiar CC, faça-o como e quando quiser.
Eu fá-lo-ei se e quando estiver de acordo com as medidas tomadas.
Mas certamente não pretende retirar o direito a que outros pensem de forma diferente e possam emitir opinião.
Em Democracia, por enquanto, ainda me parece que é assim.
Quanto a "alinhar com o populismo barato" deixe-me dizer-lhe, também, que esse é apenas o seu ponto de vista. Sou e serei sempre a favor dos mais fracos; dos que pouco têm e a quem tudo querem tirar em nome de um tal "interesse nacional". Como se as populações do interior, do Portugal que muitos desconhecem, não devam ser cidadãos titulares de direitos mas apenas de obrigações.
E não é verdade que o Governo vem cedendo a pressões, como em Chaves?
Pois bem, se os estudos são tão bons e correctos, porque cede o Governo?

10:39 da manhã  
Blogger Como? said...

Mas quem é quem aqui?
Agora até o "Xavier" comenta o "Tonitosa", dizendo que "tem razão o "Xavier"?!

Quantos são?

3:09 da tarde  
Blogger xavier said...

O Governo cede porque a política é a arte do possível e quando a arte falha os estudos por mais bem feitos...vão à viola.
Até aqui tudo bem!
A desonestidade do PSD está na invenção de um plano secreto de encerramento de SAPs.

O plano de encerramento dos SAPs não tem nada de secreto, é uma medida prioritária destinada a corrigir uma perversão desenvolvida em função de interesses dos profissionais de saúde e dos poderes locais.
Penso ser correcto considerar como um dos elementos importantes deste puzzle as horas extraordinárias no valor de muitos milhões.

O incitamento à populaça para sair à rua em reacção à implementação de uma medida necessária e justa, além de ridículo, é estranho no Tonitosa que deve conhecer bem a perversão dos SAP em relação aos CSP e a grave ineficiência que provocam no funcionamento desta rede de cuidados.

3:19 da tarde  
Blogger xavier said...

Como já devem ter reparado iniciámos hoje um novo sistema de triagem de comentários terroristas.

Em relação aos habituais comentadores da SaudeSA a mesma liberdade responsável.
Serão publicados todos os comentários, sem excepção, e sem cortes, desde que o seu conteúdo não seja difamatório.

Apenas o incómodo de alguma demora na publicação dos comentários.

Vamos publicar uma lista dos comentadores residentes.

Vou pôr à votação um conjunto de critérios de selecção de comentários.

Darei conta das censuras que efectuar e das respectivas justificações.

E pôr à votação o Melhor Comentário (trimestral).
Temos livros para distribuir aos melhores.

Agradeço que façam chegar as vossas críticas e sugestões ao mail da SaudeSA

8:08 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Xavier,
Esta triagem não me parece a forma adequada de "censurar" os comentários terroristas.
Na verdade acabamos por ficar na dúvida sobre se determinado comentário passou ou não (ainda que possamos antever a sua decisão) e vemo-nos ne necessidade de andarmos a "espreitar" os posts para vermos quando "lá chegou determinado comentário".
Isto acaba por ser uma espécie de SIMPLEX ao contrário!
E não me parece correcta a selecção de comentários de acordo com determinados critérios; sejam eles quais forem.
Depois também me parece fazer pouco sentido a "eleição" do melhor. Acho que há comentários melhores ou piores (mais elaborados ou não) mas não estamos aqui (eu não estou) a concorrer a nenhum prémio.
Com sinceridade lhe digo: a seguir por tal caminho o Saúde SA poderá deixar de ser um espaço no qual apetece participar.
Um abraço.

11:58 da tarde  

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