O Palácio de CC
art work, fases da lua
Provocado pelo Post Empresarialização dos HHs, de 09.12.2007, fui reler, volvidos quatro anos, o que sobre este tema escreveu o Prof. Correia de Campos.link Confesso que nessa leitura, além do interesse de avivar a lição do Professor, me moveu também (era inevitável) verificar em que medida ela se poderia ver traduzida na acção de CC, MS. Não encontrei grandes surpresas: já sabia que Correia de Campos é um prestigiado economista na área da saúde, com formação persistentemente prosseguida há longos anos (digamos que foi uma opção profissional constante para a vida que até agora teve), com reconhecido traquejo na análise e na apresentação das suas ideias. Por outro lado, embora não me arrogue de aptidões ou sequer de mediana sensibilidade política, consigo perceber que é mais fácil e mais sustentável o discurso quando se está na oposição, do que repeti-lo e pô-lo em prática quando se têm responsabilidades de governação. Por isso, admiro os que as assumem e procuro valorar os obstáculos que têm de vencer para traduzir em actos as ideias que, em abstracto, defendem. Mas tudo isso não tira que também aqui seja pertinente a citação que o É-Pá faz de Fernando Pessoa, vestido de Bernardo Soares: “Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?". Pois é! Coerência total, talvez seja inatingível, que o sonho também tem o seu lugar e tem menos peias, mas ela não pode faltar, pelo menos nos pontos fundamentais: os necessários e suficientes para que o palácio esteja ali.
A grande questão – que se sobrepõe a questiúnculas que podem coexistir concomitantemente mas sempre menores ou circunstanciais: CC sim, CC não, etc. – está em saber como vai a construção do palácio. Porque esta era, e devia ser, a ambição de CC: um SNS em que, sem relevar opções ideológicas, todos nos sentíssemos bem; promotor de opções de vida saudáveis; com uma lógica funcional ou de distribuição de áreas racional e facilitadora do acesso para todos; com condições de qualidade e segurança em cada uma das áreas chamadas a intervir; com um quadro de efectivos motivado e dimensionado para atingir os objectivos nucleares acabados de referir; com custos de manutenção que, embora elevados, fossem compatíveis connosco (financeiramente sustentável, sem obrigar a encerrar ou alienar áreas da construção).
Como se pode ver o texto referido (e não só este) contém muita coisa que nos leva a pensar que o Prof. Correia de Campos dispunha de um bom estudo prévio ou plano de massas para encarar a construção. À sua análise nem falta consensualidade (alguma, porque a total nunca existe). Mas as coisas pioram quando se passa à fase de anteprojecto e de projecto de execução e, sobretudo, ao planeamento dos trabalhos. Documentemos com apenas dois exemplos, porque quero ser breve, mas haveria muitos outros que poderiam ser aqui trazidos.
Provocado pelo Post Empresarialização dos HHs, de 09.12.2007, fui reler, volvidos quatro anos, o que sobre este tema escreveu o Prof. Correia de Campos.link Confesso que nessa leitura, além do interesse de avivar a lição do Professor, me moveu também (era inevitável) verificar em que medida ela se poderia ver traduzida na acção de CC, MS. Não encontrei grandes surpresas: já sabia que Correia de Campos é um prestigiado economista na área da saúde, com formação persistentemente prosseguida há longos anos (digamos que foi uma opção profissional constante para a vida que até agora teve), com reconhecido traquejo na análise e na apresentação das suas ideias. Por outro lado, embora não me arrogue de aptidões ou sequer de mediana sensibilidade política, consigo perceber que é mais fácil e mais sustentável o discurso quando se está na oposição, do que repeti-lo e pô-lo em prática quando se têm responsabilidades de governação. Por isso, admiro os que as assumem e procuro valorar os obstáculos que têm de vencer para traduzir em actos as ideias que, em abstracto, defendem. Mas tudo isso não tira que também aqui seja pertinente a citação que o É-Pá faz de Fernando Pessoa, vestido de Bernardo Soares: “Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?". Pois é! Coerência total, talvez seja inatingível, que o sonho também tem o seu lugar e tem menos peias, mas ela não pode faltar, pelo menos nos pontos fundamentais: os necessários e suficientes para que o palácio esteja ali.
A grande questão – que se sobrepõe a questiúnculas que podem coexistir concomitantemente mas sempre menores ou circunstanciais: CC sim, CC não, etc. – está em saber como vai a construção do palácio. Porque esta era, e devia ser, a ambição de CC: um SNS em que, sem relevar opções ideológicas, todos nos sentíssemos bem; promotor de opções de vida saudáveis; com uma lógica funcional ou de distribuição de áreas racional e facilitadora do acesso para todos; com condições de qualidade e segurança em cada uma das áreas chamadas a intervir; com um quadro de efectivos motivado e dimensionado para atingir os objectivos nucleares acabados de referir; com custos de manutenção que, embora elevados, fossem compatíveis connosco (financeiramente sustentável, sem obrigar a encerrar ou alienar áreas da construção).
Como se pode ver o texto referido (e não só este) contém muita coisa que nos leva a pensar que o Prof. Correia de Campos dispunha de um bom estudo prévio ou plano de massas para encarar a construção. À sua análise nem falta consensualidade (alguma, porque a total nunca existe). Mas as coisas pioram quando se passa à fase de anteprojecto e de projecto de execução e, sobretudo, ao planeamento dos trabalhos. Documentemos com apenas dois exemplos, porque quero ser breve, mas haveria muitos outros que poderiam ser aqui trazidos.
a) A prioridade da área dos CSP e a integração dos cuidados de Saúde
Estão claramente subjacentes nas afirmações do Professor. “A referência vertical no sistema é ainda pouco praticada, levando à compartimentação excessiva entre serviços: são raros os doentes admitidos no hospital a partir de uma carta do clínico geral e são também poucos ainda os doentes que saem do hospital com um documento de alta dirigido ao respectivo médico de família”. Limita-se a referir um índice claramente indicador (relevem a redundância) de uma realidade indiscutível e que se impunha alterar: a insuficiente relevância que o sistema atribui aos CSP e a descontinuidade que havia e há na prestação de cuidados de saúde. Com poucas palavras o Professor disse tudo.
CC, MS, tinha tudo para eleger esta como área prioritária da sua intervenção até porque é uma área fortemente condicionante, ou, melhor, determinante da arquitectura de todo o sistema, quer pensemos em satisfação global dos utentes, quer em promoção e em educação para a saúde, quer na equidade a respeitar na repartição dos recursos, quer na facilidade do acesso necessário a outras áreas, quer mesmo na sustentabilidade económico-financeira do sistema. E, de facto, consta da sua estratégia, mas como?
CC, MS, tinha tudo para eleger esta como área prioritária da sua intervenção até porque é uma área fortemente condicionante, ou, melhor, determinante da arquitectura de todo o sistema, quer pensemos em satisfação global dos utentes, quer em promoção e em educação para a saúde, quer na equidade a respeitar na repartição dos recursos, quer na facilidade do acesso necessário a outras áreas, quer mesmo na sustentabilidade económico-financeira do sistema. E, de facto, consta da sua estratégia, mas como?
- Para a necessidade de estimular a opção pela Clínica Geral, não se vislumbra qualquer contributo da política de fixação do número de vagas em cada ano oferecidas à saída do Internato Geral, tal como se a Clínica Geral tivesse procura bastante ou em excesso;
- As USF são o rosto visível desta estratégia com a qual se pretende a valorização dos CSP. Mas:
- São lançadas como opção facultativa, embora recomendada, com base na adesão voluntária dos Clínicos Gerais, como se houvesse todo o tempo do mundo para esperar por elas;
- Com promessa de incentivos remuneratórios, que seriam – e vieram a ser, embora com atraso em relação ao que seria conveniente – previstos na lei, segundo critérios anunciados mas, tanto quanto sei, ainda não regulamentados e, portanto, ainda não concretamente conhecidos, pelo que, não motivadores;
- Sem iniciativas consistentes para mostrar à população o papel insubstituível dos CSP, promovendo a sua imagem e a sua aceitação;
- Tudo como se faltassem os recursos para ir com outro ritmo. Recursos que afinal, no Orçamento para 2008, se considera existirem, por centenas de Milhões de Euros, para afectar a iniciativas que não são comparáveis, em importância, em resultados esperáveis e em oportunidade.
b) O regime de trabalho dos profissionais
Sobre o regime de trabalho, o Professor afirma: “A flexibilidade com que se tolera a prática privada a profissionais do sector público, mesmo em funções de chefia superior ou intermédia, gera conflitos de interesses que quase sempre se saldam em perdas de produtividade no hospital público e em alguns casos em redução da qualidade dos cuidados prestados” e faz a seguinte citação, naturalmente por concordar com ela: «Confrontados com a necessidade de manterem os seus consultórios particulares em pleno funcionamento, assiste-se a uma tendência progressiva para a diminuição do período de trabalho no hospital, especialmente dos elementos mais seniores, que geralmente têm uma clínica particular mais florescente» (Antunes, 2000).
Reconheço que este é um tema recorrente nas minhas intervenções no Saudesa. Apenas acrescentarei que CC, MS, já não parece tão convencido da necessidade da exclusividade e que não a exigir aos profissionais das USF é não só deixar perder uma oportunidade de suprimir aquilo que, afinal, o Prof. CC acreditava que estava mal no hospital público (era dele que se ocupava), mas também aceitar um sério risco de o reproduzir nas USF. Se isto acontecer, o que ficará delas, em termos de resultados? E o que diremos em termos de equidade do SNS?
Soluções adequadas, na área dos CSP e na área do estatuto dos trabalhadores da saúde, servidas por forte determinação são, parece-me, as pedras basilares e condicionantes de todo o edifício do SNS. Soluções que não podem tardar, sob pena de o palácio não sair dos caboucos e se esgotar o tempo em que poderia ter sido construído.
Aidenós
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4 Comments:
O resultado líquido dos hospitais com gestão empresarial melhorou durante este ano, mas os prejuízos ainda continuam elevados e piores do que o previsto pelo Governo.
DD, 14.12.07
Caro Aidenos:
O post sugere-me um balanço do trabalho realizado, na hora da despedida...
De facto, o edifício do SNS é uma estrutura muito complexa.
Mas o local não está ermo. Existe um palácio lá no sítio, com mais de 30 anos. Resta saber como é, e como está, esse palácio.
Se um palacete à antiga portuguesa, ou melhor, com a tradição da fidalgia rural portuguesa, autosustentável com o trablaho das leiras que o envolvem, se um ostentatório (14.500 m2) e pesado complexo de cimento, do tipo da nova sede da CGD, com custos de manutenção faraónicos.
Uma longa questão que será, sempre, influenciada pela visão e sensibilidade do observador.
Interessante e estimulante é o avaliar onde, neste fantasmagórico palácio, se mexeu.
Nos alicerces - i.e, nos CPS - com certeza e como se pode constatar com timidez e parcimónia. Qualquer dono de obra sabe que os alicerces necessitam de intervenções sólidas e decididas. Portanto, ao intervir electivamente criaram-se muitos pontos de fragilidade, por enquanto ocultos (soterrados), mas que o tempo se encarregará de expôr.
No corpo do edifício - cuidados secundários, hospitalares - a inovação não passou da gestão e introduziu-se o conceito do tipo propriedade honrizontal. Por enquanto arrendou-se, mas poderá ser posto à venda, brevemente.
As paredes começam a apresentar frestas, pedem "reforma", mas o importante é arrendar (EPE's), para não pesar no orçamento do proprietário.
Entretanto, nos jardins enceta-se obras anexiais, de empreitada (PPP's), com concessões longas e não controladas.
O pessoal que se movimentava neste labirintico edifício, desorientou-se. Ninguém lhes explicou o plano de obras. As motivações desapareceram.
Uns desertaram, outros deixaram-se andar por lá, outros, ainda, continuam a "dobrar a mola".
O edifício começa a meter água. A ruína ameaça. Impiedosamente.
Segue-se: o restauro ou a demolição.
Esta a grande opção política (pública - não palaciana).
Ninguém se entende.
O TC diz que as contas estão baralhadas e que os HHs EPE têm piores resultados (2006) a ACSS vem dizer que os HHs EPE são "os maiores" que desataram a ter lucros de enfiada.
Hospitais públicos com mais 5000% de prejuízo
As contas são negativas, mas dentro do traçado
Os prejuízos dos hospitais de estatuto público administrativo (SPA) aumentaram 5000% no terceiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2006. De acordo com o relatório da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), a que o DN teve acesso, os prejuízos ascenderam a 54,8 milhões de euros contra 1,1 milhões de euros no período homólogo. No entanto, falham apenas ligeiramente em relação aos compromissos do Governo, fixados em 52,9 milhões.
Os dados do levantamento referem-se apenas aos dez maiores hospitais que se mantiveram na administração pública e são explicados tanto com uma queda dos proveitos como por um aumento ligeiro dos custos. De acordo com a ACSS, a queda dos proveitos foi de 7,1%, para 382 milhões de euros, e estiveram também abaixo do estipulado no Orçamento de Estado - que calculava um aumento de 8,6%.
Também os custos se agravaram 1,9%, para 397 milhões de euros em termos trimestrais, 7,6% abaixo da meta traçada no orçamento referido. Manuel Teixeira, presidente da ACSS, considera haver uma "trajectória de evolução dos custos, ainda que contida no total", destacando os consumos, que cresceram 6,2% quando o máximo previsto era de 4%.
Positiva é a contenção dos gastos associados ao fornecimentro de serviços externos, que ficou abaixo do orçamentado em 16,6%. Também os custos com pessoal ficaram 4% abaixo dos cálculos da tutela, apesar de subirem 2,1%, para 331,9 milhões.
As boas notícias são relativas aos números das consultas, que aumentaram 4,7%. (para 1,081 milhões), e sobretudo para as consultas de primeira vez, que aumentaram 7%.
Resultados melhores nos EPE
Os hospitais com gestão empresarial (os EPE) tiveram uma evolução bem mais favorável, com prejuízos de 127,6 milhões de euros. Nos meses de Julho, Agosto e Setembro, os 35 hospitais dentro deste regime - é caso do IPO do Porto ou do Hospital do Barreiro - conseguiram atingir um terço das despesas dos registados em Setembro de 2006, período em que os resultados líquidos negativos ascenderam a 341,3 milhões de euros. O número de hospitais de gestão empresarial com resultados líquidos positivos mais do que duplicou (de quatro para nove) neste período, embora apenas mais um tenha conseguido esse resultado em relação ao último semestre.
O sucesso deve-se, aqui, ao sucesso da contenção de custos, que ficou bem abaixo da fasquia traçada. Os gastos subiram apenas 0,4%, para 2843 milhões de euros dos 2950 milhões traçados. Os proveitos, apesar de terem crescido 8,9%, ficaram 4,2% abaixo do esperado.
No âmbito das despesas com produtos farmacêuticos, houve algum deslize em relação ao previsto.Um terço dos hospitais-empresa não conseguiram reduzir a factura com medicamentos, um dos objectivos definidos pela tutela. O relatório da Administração Central do Sistema de Saúde ressalta que 66% das unidades cumpriram a meta fixada, ou seja, as despesas não aumentarem mais de 4%. Doze hospitais conseguiram mesmo reduzir as despesas em relação ao ano anterior.
DN 14.12.07
Desempenho económico-financeiros
dos hospitais EPE e 10 maiores hospitais SPA 3º Trimestre de 2007
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