Espanholas
Heróis justamente remunerados
Para quem joga no Euromilhões e nunca lhe sai, como eu, foi uma surpresa ver na capa da Visão: “Eduardo Barroso ganhou 277 000 euros em prémios no ano passado”. link Tanta sorte deixou-me curiosa:
Trata-se de incentivos, isto é, justa contrapartida por muita produção com muita qualidade? ou
Seguindo o aforismo das empresas - a sorte é preparação e oportunidade - dever-se-á à oportunidade (cargo vago) e à ocupação de posições, como na estratégia?
Conhecendo a sua competência como cirurgião afasto de imediato que a sorte do colega resulte de qualquer ligação familiar ou filiação partidária. Vejamos então que actividade, em quantidade e qualidade, justifica tais prémios.
Dr. Barroso (trabalhador): Esclarece-nos a Visão que estando em exclusividade foi apenas dez vezes ao bloco em 2007 (menos de uma por mês), o que seria preocupante porque insuficiente para manter a mão. Ainda bem que, logo a seguir, ficamos a saber que o caro colega vai, ainda, ao hospital da CVP fazer o “mínimo dos mínimos”.
Tenho para mim que não é concebível que seja premiada actividade tão reduzida muito menos com aquela série de gordos jackpots, seria uma afronta a todos os médicos que muito fazem, nas mais diversas áreas, e nada recebem para além do magro vencimento. Ainda que recebesse por integrar a equipa de cirurgia 10 vezes, o valor máximo não ultrapassaria os 20 mil euros. Ficam 257 mil euros por explicar.
Sr. Director de Serviço (gerente): um director deve ter prémios por atingir os objectivos a que foi desafiado, pelo modo como exerceu e pelo que conseguiu, através dos seus trabalhadores - estes são directa e pesadamente incentivados, pelo que não se justifica fazê-lo de igual modo ao chefe. O incentivo deste seria um prémio pela sua gestão e não se vê porque deva ser maior que o dos colegas (DS) com resultados igualmente bons, seja qual for a área – oncologia, infecciologia, ortopedia, etc. Não consta que os demais tenham recebido e se recebessem seria de valor reduzido, no máximo 20 mil euros. Ficam 237 mil euros por explicar.
Como DS, verificada a falta de justiça do prémio atribuído ao Dr. Barroso (trabalhador), esperava-se que sugerisse a sua correcção, para benefício dos colegas e do hospital, e propusesse ao CA um novo modelo de incentivos. Ter encontrado determinadas regras ou organização não serve como desculpa, esperando-se de um DS propostas de alteração sempre que necessário e as condições e o volume de transplantes são agora muito diferentes.
Sua Exª Alta Autoridade (governante): parece que os incentivos para transplantes foram determinados há longos anos em realidade muito diferente da actual. Se os montantes distribuídos pelos intervenientes são exagerados, em todos os hospitais, então o problema será de financiamento ou cálculo de custos. Diz-me um administrador que os hospitais se esquecem de incluir no custo dos transplantes as despesas (avultadas) em medicamentos, em consultas e em análises que os doentes fazem ao longo da sobrevida, que queremos seja longa e de qualidade.
Se é o financiamento que é muito elevado face aos custos dos hospitais então a AA link devia sugerir a sua correcção, para benefício dos doentes doutras áreas, muitos que aguardam anos por solução, arriscando-se a morrer da doença ou que a operação seja tarde demais e ceguem, por exemplo.
Não se justificam aqui quaisquer “grandes prémios”, até porque o diagnóstico ainda está a ser realizado.
Dito isto só posso concluir que o caro colega foi abençoado com muita sorte e durante muito tempo.
Assim, não lhe querendo mal algum, peço apenas ao altíssimo que não se esqueça desta humilde serva bem como dos muitos médicos que tanto se esforçam em prol dos doentes que, apesar da gravidade, não precisam de transplantes.
Mas tudo com regra e medida, porque queremos que o SNS tenha muitos “heróis” justamente premiados e poucas espanholas, tudo durante longos anos cheios de sucessos para os doentes.
Aos mais versados nisto de incentivos, ou prémios?, pedia que nos esclarecessem sobre a bondade do modelo de incentivos a transplantes.
Bjs da
Cândida Bordoada
Nota: A Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) vai averiguar a forma como estão a ser processados os pagamentos de incentivos à realização de transplantes de órgãos link
Para quem joga no Euromilhões e nunca lhe sai, como eu, foi uma surpresa ver na capa da Visão: “Eduardo Barroso ganhou 277 000 euros em prémios no ano passado”. link Tanta sorte deixou-me curiosa:
Trata-se de incentivos, isto é, justa contrapartida por muita produção com muita qualidade? ou
Seguindo o aforismo das empresas - a sorte é preparação e oportunidade - dever-se-á à oportunidade (cargo vago) e à ocupação de posições, como na estratégia?
Conhecendo a sua competência como cirurgião afasto de imediato que a sorte do colega resulte de qualquer ligação familiar ou filiação partidária. Vejamos então que actividade, em quantidade e qualidade, justifica tais prémios.
Dr. Barroso (trabalhador): Esclarece-nos a Visão que estando em exclusividade foi apenas dez vezes ao bloco em 2007 (menos de uma por mês), o que seria preocupante porque insuficiente para manter a mão. Ainda bem que, logo a seguir, ficamos a saber que o caro colega vai, ainda, ao hospital da CVP fazer o “mínimo dos mínimos”.
Tenho para mim que não é concebível que seja premiada actividade tão reduzida muito menos com aquela série de gordos jackpots, seria uma afronta a todos os médicos que muito fazem, nas mais diversas áreas, e nada recebem para além do magro vencimento. Ainda que recebesse por integrar a equipa de cirurgia 10 vezes, o valor máximo não ultrapassaria os 20 mil euros. Ficam 257 mil euros por explicar.
Sr. Director de Serviço (gerente): um director deve ter prémios por atingir os objectivos a que foi desafiado, pelo modo como exerceu e pelo que conseguiu, através dos seus trabalhadores - estes são directa e pesadamente incentivados, pelo que não se justifica fazê-lo de igual modo ao chefe. O incentivo deste seria um prémio pela sua gestão e não se vê porque deva ser maior que o dos colegas (DS) com resultados igualmente bons, seja qual for a área – oncologia, infecciologia, ortopedia, etc. Não consta que os demais tenham recebido e se recebessem seria de valor reduzido, no máximo 20 mil euros. Ficam 237 mil euros por explicar.
Como DS, verificada a falta de justiça do prémio atribuído ao Dr. Barroso (trabalhador), esperava-se que sugerisse a sua correcção, para benefício dos colegas e do hospital, e propusesse ao CA um novo modelo de incentivos. Ter encontrado determinadas regras ou organização não serve como desculpa, esperando-se de um DS propostas de alteração sempre que necessário e as condições e o volume de transplantes são agora muito diferentes.
Sua Exª Alta Autoridade (governante): parece que os incentivos para transplantes foram determinados há longos anos em realidade muito diferente da actual. Se os montantes distribuídos pelos intervenientes são exagerados, em todos os hospitais, então o problema será de financiamento ou cálculo de custos. Diz-me um administrador que os hospitais se esquecem de incluir no custo dos transplantes as despesas (avultadas) em medicamentos, em consultas e em análises que os doentes fazem ao longo da sobrevida, que queremos seja longa e de qualidade.
Se é o financiamento que é muito elevado face aos custos dos hospitais então a AA link devia sugerir a sua correcção, para benefício dos doentes doutras áreas, muitos que aguardam anos por solução, arriscando-se a morrer da doença ou que a operação seja tarde demais e ceguem, por exemplo.
Não se justificam aqui quaisquer “grandes prémios”, até porque o diagnóstico ainda está a ser realizado.
Dito isto só posso concluir que o caro colega foi abençoado com muita sorte e durante muito tempo.
Assim, não lhe querendo mal algum, peço apenas ao altíssimo que não se esqueça desta humilde serva bem como dos muitos médicos que tanto se esforçam em prol dos doentes que, apesar da gravidade, não precisam de transplantes.
Mas tudo com regra e medida, porque queremos que o SNS tenha muitos “heróis” justamente premiados e poucas espanholas, tudo durante longos anos cheios de sucessos para os doentes.
Aos mais versados nisto de incentivos, ou prémios?, pedia que nos esclarecessem sobre a bondade do modelo de incentivos a transplantes.
Bjs da
Cândida Bordoada
Nota: A Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) vai averiguar a forma como estão a ser processados os pagamentos de incentivos à realização de transplantes de órgãos link
Etiquetas: Estranhos casos
15 Comments:
Bem, se isto é verdade: ter ido dez vezes ao bloco...
E se a exclusividade ainda dá uma idas ao Hospital da CVP...
Então as coisas começam a complicar-se.
Porquê só agora isto aparece a ser notícia?
Prémios ou incentivos, seja lá o que fôr, pelo que não se fez nem faz, é obsceno. Mas tudo teve a benção do altíssimo. E as entidades fiscalizadoras não podem estar em todo o lado, muito menos a administrar, em vez de ou em sobreposição com a tarefa de avaliar. A avaliação servirá para vincar e alertar o altíssimo - e os pagadores, que somos todos nós - , de que tais prémios ou incentivos, devidos a troco de nada, senão da manutenção de um status quo só possível num país de vaidades, são obscenos.
Alguém terá recebido a criança nos braços.
Farto de assobiar para o ar e
incapaz de lidar com a situação,terá facilitado a informação para os órgãos de comuicação social.
Desta forma, com bombardeamento pesado conseguiu solução para o caso.
O pai da criança, ou seja, o CA que terá autorizado de início esta gorda distribuição de prémios terá sido presidido por Canas Mendes.
Como é possivel acontecerem casos destes nas nossas barbas. E tudo legal. O verdadeiro artista é assim que as faz.
AlertP1 e os prémios da transplantação. A ministra à partida com dois casos graves de moralização do sistema para resolver.
A Reforma da reforma já começou:
"O presidente do INEM, Luís Manuel Cunha Ribeiro, foi demitido este domingo pela minstra da Saúde, Ana Jorge, que convocou para amanhã uma reunião dos directores regionais do serviço" (SOL)
Alguém vai pagar as favas. Porquê, se afinal tudo estava a correr tão bem?
Se em Novembro foram pagos a EB 30 mil euros...
Quem autorizou o pagamento? Foi Canas Mendes?
Ou terá antes sido a "evolução na continuidade?!"
"O Reino Unido está a promover o sexo como uma alternativa ao ginásio enquanto arma na luta contra a obesidade e como panaceia para problemas cardíacos, problemas ósseos e até para as rugas" (SOL)
"A campanha foi lançada no site do Serviço Nacional de Saúde (SNS) do Reino Unido e incentiva os cidadãos a terem mais sexo.
A ideia é levar os britânicos a ter mais actividade física, sobretudo aqueles que não têm tempo de ir ao ginásio ou de correr no parque. Para esses, a solução está em casa, debaixo dos lençóis, diz o SNS."
Ora aqui está uma forma de poupar dinheiro ao SNS.
Ontem ouvi:
"valorizar um pequeno grupo enquanto todos os outros se sentem desmotivados pelo facto desse pequeno grupo se distinguir pela remuneração não é o melhor caminho para fazer progredir o SNS".
Tarde de mais, para ser oportuno, caro Dr.Pedro Nunes.
Declarações de circunstância, não vale!
É que o esquema reina no Curry Cabral desde o Dr. Pena. São muitos anos (dezoito!)- desde 1990? Ninguém acredita que a OM não tivesse conhecimento. Estes incentivos eram, no meio médico, um segredo de polichinelo.
Não eram?
Aliás a Saúde, tem alguns "buracos negros" que só as mudanças das equipas ministeriais tornam visíveis...
Depois deste, vem aí o affaire "Alert", não é?
Espantoso o modelo, descrito pelo Dr. Eduardo Barroso:
"No Curry Cabral, a distribuição dos incentivos faz-se por hierarquia e antiguidade (65% do que é atribuídos aos cirurgiões é fixo. O restante é dado pela participação nas operações)."
Exactamente os mesmos critérios que foram definidos pelo actual Governo para as progressões e retribuições da função pública (na festiva reforma da Administração Pública). Não foram?
Depois a versatilidade - devo dizer flexibilidade? - que permite ganhar incentivos enquanto se fazem umas carocas minímas no HCV. Ou estando a dormir...
Ou a jantar no Gambrinus depois de uma boa peleja em Alvalade...
Mas o esquema que envolve 70 pessoas e segundo o Dr. Eduardo Barroso: "é mais equitativo e menos dispendioso que outros."
E rematou:" o pagamento por se estar de prevenção ou por horas extra não fica mais barato".
Acabou, ao tentar esconder o óbvio - como responsável pela ASST - por "comprar" uma guerra com as equipas cirurgicas de outros Hospitais onde se transplanta...
Enquanto aguarda respostas a um suposto inquérito sobre incentivos...
Assim, os cirurgiões dos HUC garantem que: "nunca receberam um cêntimo pelos transplantes realizados, apesar de ser nesta instituição que estão as equipas campeãs nacionais de transplantes renais e de coração."
A situação não será bem assim... Haverá pagamentos em horas extraordinárias e alguns departamentos serão CRI's com distribuição de proventos no fim do ano...
Mas esta situação mostra como grandes "caçadas" às horas extraordinárias, deixam de fora
chorudas recompensas, i.e., incentivos. É muito dinheiro, mas são poucos.
Pergunta: no estado actual da arte médica justificam-se incentivos por técnicas cirúrgicas (ou outras)especiais?
A passagem dos HH's a EPE salvaguardou a formação e a constituição de equipas multidisciplinares de transplantes?
Julgo que não!
Pelo que, muito embora, eu me entretenha a comentar os pecadilhos éticos dos actuais incentivos, de futuro, o mercado poderá tornar tudo muito mais caro.
Mas isso é o mercado.
É que o fim das carreiras médicas, subrepticiamente, arquitectado desde a gestão de LFP e que mereceu continuidade na administração CC, não vai sair barato. Pelo menos nos próximos anos. Mais uma vez o mercado o dirá.
Agora, a comparação deste caso com as "espanholas" provoca o meu sorriso (parecido com aquele do Dr. Barroso ao receber o cheque de 30.000 €...). E a recordação dos velhos tempos do marialvismo lisboeta...
As "espanholas" eram as guapissimas muchachas da burguesia lisboeta e provinciana, após a Guerra.
"Ter por conta", nos anos 50, uma espanhola no Cabaret Fontória, à Praça da Alegria, era quase tão proibitivo como sustentar uma equipa de transplantes no Curry - seria isso?
Ou como descobrir, nos bons velhos tempos, uma mina de volfrâmio.
A minha incredulidade é só uma: perante situações destas existem pessoas que, ainda, consideram disfrutar de condições de liderança de um grupo?
Ou ... aquele dito natalício sobre telecomunicações:
"o que tu queres sei eu!"
«Já disse à administração do hospital que, a manter-se este volume de transplantes, temos que diminuir os tectos dos prémios. São, de facto, exagerados.» Por sua iniciativa, já mandou reduzir em três pontos a percentagem de que usufrui. Confrontado com estas afirmações, Manuel Delgado mostrou-se surpreendido:«Está-me a dar uma novidade».
Um trabalho jornalistico mortífero.
EB estava a pedí-las.
Porque perguntar não ofende, eu pergunto:
1. Correia de Campos desconhecia a situação nos transplantes?
2. Correia de Campos desconhecia o que se passou com a aquisição do ALERT?
Pois é: TODOS BONS RAPAZES!
Afinal aquela coisa dos profissionais USFs fazerem e ganharem pipas de horas extra que não eram/são (autorizadas) feitas pelos não USFs, ou aquela outra dos médicos em exclusividade - sim em exclusividade - ganharem pipas em clínica privada dentro dos Hospitais não valem um "tustu" furado.
Por falar em furado, como é que o Sr Director Geral diz que blá blá blá pilulas para todas/todos os ciclos e depressa, se o governo decretou (já há tempos) um crescimento zero da despesa (todas as rubricas)???
Ou muito me engano, ou anda muita gente a fazer perguntas "ao vento que passa"...
Mas o inverno ainda não chegou ao fim e ainda iremos ter dias de tempestade!
E (talvez) muitas surpresas.
Estes incentivos [pagos aos hospitais e distribuídos pelos médicos que fazem transplantes] permitem que eu me dedique ao Serviço Nacional de Saúde com um salário semelhante ao que é praticado no privado. Porque no hospital já ganho bem, deixei a minha actividade privada. Não posso viver sem eles [transplantes] e não tenho vergonha de o fazer
Eduardo Barroso,
Diário de Notícias, 04.02.08
Admito que somos privilegiados. Mas os transplantes são económicos. Os dois últimos meses de vida de doente hepático custam o dobro .
Põe-se o problema de os meus colegas que não fazem transplantes não terem os mesmos incentivos. Temos de coexistir no mesmo serviço e isso é complicado. Mas a questão moral não é por recebermos muito, é por eles receberem pouco
Eduardo Barroso, DN 04.02.08
Dr. Eduardo Barroso disse hoje, 13.02.08, na CP de Saúde da AR, não ser um mercenário...
Vai, por uma questão de equilíbrio retributivo, conceder-nos a prerrogativa de não sermos uns otários!
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