Bastonário OM
Faz todo o sentido» que o ministro da Saúde seja médico
Tempo de Medicina (TM) - A OM e o Ministério da Saúde estavam, nos últimos tempos, em rota de colisão. Espera que a Ordem tenha uma relação melhor com a nova ministra?
Tempo de Medicina (TM) - A OM e o Ministério da Saúde estavam, nos últimos tempos, em rota de colisão. Espera que a Ordem tenha uma relação melhor com a nova ministra?
Pedro Nunes (PN) - Conheço bem a dr.ª Ana Jorge, e há muitos anos. Tenho muito respeito por ela, há coisas em que pensamos igual e outras em que temos ideias diferentes. Antevejo portanto que, pelo menos em termos de relações pessoais, as coisas vão ser muito fáceis.
TM — Mais fáceis do que com Correia de Campos?
PN — Também nunca tive uma relação pessoal má com o professor Correia de Campos, simplesmente ele não quis ouvir a Ordem e, como tal, ela teve de se fazer ouvir publicamente. Além disso, cometeu um conjunto de erros, nomeadamente no que diz respeito ao abandono das populações do Interior, que levantou um justo clamor da parte das pessoas, não podendo a OM deixar de estar ao lado delas.
Não tenho a mais pequena dúvida de que também haverá questões em que não estaremos de acordo com a dr.ª Ana Jorge, mas conto com um diálogo franco e frutuoso. Aliás, devo sublinhar que estou de acordo com o primeiro-ministro no aspecto referente à necessidade de restabelecer a confiança dos portugueses no Serviço Nacional de Saúde [SNS], e nisso os médicos têm uma palavra a dizer. Por outro lado, é de saudar que novamente, ao fim de tantos anos, o responsável pelo Ministério da Saúde seja médico, o que faz todo o sentido.
TM — Esta equipa ministerial tem, de resto, também um secretário de Estado que é médico (Manuel Pizarro). Isso oferece especiais garantias à classe?
Não tenho a mais pequena dúvida de que também haverá questões em que não estaremos de acordo com a dr.ª Ana Jorge, mas conto com um diálogo franco e frutuoso. Aliás, devo sublinhar que estou de acordo com o primeiro-ministro no aspecto referente à necessidade de restabelecer a confiança dos portugueses no Serviço Nacional de Saúde [SNS], e nisso os médicos têm uma palavra a dizer. Por outro lado, é de saudar que novamente, ao fim de tantos anos, o responsável pelo Ministério da Saúde seja médico, o que faz todo o sentido.
TM — Esta equipa ministerial tem, de resto, também um secretário de Estado que é médico (Manuel Pizarro). Isso oferece especiais garantias à classe?
PN — Não oferece especiais garantias, é o normal. Está na altura de terminar definitivamente com a ideia de que os médicos são os inimigos do SNS. Nenhum governo que não perceba que os médicos são os primeiros interessados em que o SNS funcione consegue alguma vez singrar.
Agora que se fala tanto de corporativismos, acho que os médicos não são corporativistas. Estes dividem-se entre os que estão à esquerda, à direita, os que defendem o SNS e os que preferem formas mais liberais, mas não têm um corporativismo no sentido da defesa do interesse só deles. E não quero agora criticar o professor Correia de Campos, mas fica-se com a ideia de que alguns governantes, e também alguns indivíduos, nomeadamente de áreas conexas com a Medicina, habituados a administrar e a ser preponderantes no sistema de Saúde, têm um preconceito corporativo contra os médicos. Este preconceito dá origem a medidas tão estúpidas como o «pontómetro», que até uma economista como a professora Manuela Arcanjo veio demonstrar não fazer qualquer sentido. No entanto, foi uma medida aplaudida por uma série de gente só porque poderia arreliar os clínicos. É este preconceito corporativo contra os médicos que tem sido característico dos governos nos últimos tempos e que os impede de tomarem boas medidas.
Portanto, posso não estar de acordo com decisões que a dr.ª Ana Jorge tome, mas não parto do princípio de que ela as toma por estar contra os médicos. E acredito que, como em muitos aspectos a Ordem tem uma posição semelhante à dela — nomeadamente em termos da necessidade de defesa do SNS e de que este seja a estrutura básica do sistema —, as medias tomadas serão de aplaudir. Por isso é que digo que tenho uma certa esperança no futuro.
Agora que se fala tanto de corporativismos, acho que os médicos não são corporativistas. Estes dividem-se entre os que estão à esquerda, à direita, os que defendem o SNS e os que preferem formas mais liberais, mas não têm um corporativismo no sentido da defesa do interesse só deles. E não quero agora criticar o professor Correia de Campos, mas fica-se com a ideia de que alguns governantes, e também alguns indivíduos, nomeadamente de áreas conexas com a Medicina, habituados a administrar e a ser preponderantes no sistema de Saúde, têm um preconceito corporativo contra os médicos. Este preconceito dá origem a medidas tão estúpidas como o «pontómetro», que até uma economista como a professora Manuela Arcanjo veio demonstrar não fazer qualquer sentido. No entanto, foi uma medida aplaudida por uma série de gente só porque poderia arreliar os clínicos. É este preconceito corporativo contra os médicos que tem sido característico dos governos nos últimos tempos e que os impede de tomarem boas medidas.
Portanto, posso não estar de acordo com decisões que a dr.ª Ana Jorge tome, mas não parto do princípio de que ela as toma por estar contra os médicos. E acredito que, como em muitos aspectos a Ordem tem uma posição semelhante à dela — nomeadamente em termos da necessidade de defesa do SNS e de que este seja a estrutura básica do sistema —, as medias tomadas serão de aplaudir. Por isso é que digo que tenho uma certa esperança no futuro.
TM — Acredita que Ana Jorge recuará em algumas das medidas do anterior ministro que a OM contestou, como o «ponto», o encerramento dos SAP, etc.?
PN — Não vou falar sobre isso porque ainda não conversei formalmente com a dr.ª Ana Jorge. Dir-lhe-ei naturalmente o que a OM pensa sobre todas essas matérias, na total compreensão das dificuldades políticas e valorizando o que é importante. Mais relevante que o «ponto» é que os médicos sejam considerados elementos determinantes do sistema. Claro que gostava que o «ponto» fosse eliminado, mas é mais importante definir qual é efectivamente a actividade da Entidade Reguladora da Saúde, e em que medida essa actividade pode ou não parasitar os médicos, no sentido económico de viver à custa deles sem contribuir em nada para a qualidade da Saúde.
TEMPO MEDICINA 1.º CADERNO 11.02.08
TEMPO MEDICINA 1.º CADERNO 11.02.08
Etiquetas: Entrevistas
1 Comments:
A colocação de pontómetros é efectivamente uma medida estúpida, ou melhor, estúpida mas necessária atendendo aos níveis de incumprimento no SNS, a começar pelos clínicos.
Avaliar os serviços de saúde pela produção(quantidade/qualidade) e saber daí retirar consequências, seria o desejável. Porém, a incipiência da parametrização dos actos médicos e a pouca credibilidade da contabilidade analítica dos serviços públicos, fazem com que o anacronismo dos pontómetros seja um mal necessário, bem revelador do atraso do País.
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