sexta-feira, abril 25

Cantar a Liberdade

Mesmo num País vulnerável a todos os interesses, legítimos e Ilegítimos, claros ou obscuros, na véspera - nesta especial véspera - encontro (vou remexer no baú das minhas recordações) a "minha" decisão certa - cantar a Liberdade."

Viemos com o peso do passado e da semente
esperar tantos anos torna tudo mais urgente
e a sede de uma espera só se ataca na torrente
e a sede de uma espera só se ataca na torrente

Vivemos tantos anos a falar pela calada
só se pode querer tudo quanto não se teve nada
só se quer a vida cheia quem teve vida parada
só se quer a vida cheia quem teve vida parada

Só há liberdade a sério quando houver
a paz o pão
habitação
saúde educação
só há liberdade a sério quando houver
liberdade de mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir."
(Sérgio Godinho)
VIVA O 25 DE ABRIL! E A LIBERDADE DE MUDAR E DECIDIR!
e-pá!

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10 Comments:

Blogger Clara said...

Portugal Ressuscitado
José Carlos Ary dos Santos

Depois da fome, da guerra
da prisão e da tortura
vi abrir-se a minha terra
como um cravo de ternura.

Vi nas ruas da cidade
o coração do meu povo
gaivota da liberdade
voando num Tejo novo.

Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido

Vi nas bocas vi nos olhos
nos braços nas mãos acesas
cravos vermelhos aos molhos
rosas livres portuguesas.

Vi as portas da prisão
abertas de par em par
vi passar a procissão
do meu país a cantar.

Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido

Nunca mais nos curvaremos
às armas da repressão
somos a força que temos
a pulsar no coração.

Enquanto nos mantivermos
todos juntos lado a lado
somos a glória de sermos
Portugal ressuscitado.

Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido.

1:21 da manhã  
Blogger PhysiaTriste said...

25 de Abril: O antes, o momento e o Portugal de sempre, pela pena de Sophia:

O Velho Abutre

O velho abutre é sábio e alisa as suas penas
A podridão lhe agrada e seus discursos
Têm o dom de tornar as almas mais pequenas


25 DE ABRIL

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo


Camões e a tença

Irás ao paço.
Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada.
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce.

Em tua perdição se conjuraram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou ser mais que a outra gente.

E aqueles que invocaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto.

Irás ao paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência.
Este país te mata lentamente.

4:16 da tarde  
Blogger Carago said...

Sou da geração que terminava o ensino secundário quando aconteceu o 25 de Abril...lembro-me que nesse ano tinha sidomultado pela PSP em 25tostões por não "circular" e estar pespegado em frente ao portão de entrada do liceu feminino a poucos metros do meu que era só para rapazotes...lembro-me de ter chegado da viagem de fim de curso ao Algarve com um processo disciplinar por ter ocultado uma fuga do maralhal, de madrugada, para o Bairro Alto , eu que era da Comissão de Finalistas...limpo que foi pela Revolução dos Cravos...lembro-me depois algures em Março de 75 das rajadas de metralhadora a zunir, acocorado debaixo dos cavalos (desaparecidos já)da fonte da praça D. João I... lembro-me de, a certa altura em 75, empunhar uma pistola e gritar que o primeiro a querer derrubar o portão da casa dos meus pais em nome do poder popular seria o primeiro a levar com um balazio no meio dos cornos ...lembro-me do modo como fui desacreditando dos homens e das palavras..mas aqui estou hoje escrevendo isto e se o estou é porque houve um 25 de Abril...e quanto me custa ler hoje que o nosso Presidente da República se mostrou "impressionado" com a ignorância de muitos jovens sobre o 25 de Abril e o seu significado e denunciou uma "notória insatisfação" dos portugueses com o funcionamento da democracia.

7:35 da tarde  
Blogger naoseiquenome usar said...

"Só há liberdade a sério quando houvera paz o pão habitação saúde educação (...)" - isto equivale, Tout-court a dizer que LIBERDADE haverá nunca!
Não passa de mais um mero conceito histórico-filosófico utópico.
A nossa liberdade hoje é uma liberdade cheia de grilhetas e que corresponde ao que em pouco tempo, no tempo do "25 de Abril"
aconteceu e se traduziu no facto de antes do 25 de Abril os maus serem fascistas, sendo que, em 25 de Novembro seguinte, os fascistas passaram a ser os comunistas de Abril...

9:19 da tarde  
Blogger saudepe said...

O 25 de Abril é uma oportunidade para uma reflexão social e política pessoal.
Talvez pela proximidade do "acontecimento" da visita do PR à Madeira, a minha reflexão deste ano incidiu fundamentalmente sobre o papel importante do PR na nossa sociedade.
E o que tem feito Cavaco Silva para tornar melhor a nossa sociedade de forma a fazer despoletar os sentimentos nacionais mais genuinos?
NADA.
Neste 25 de Abril o PR apareceu com um estudo sobre os jovens. Mais um.

A resposta do PC não podia ser mais oportuna e certeira.

«O actual Presidente da República foi primeiro-ministro durante 10 anos, que políticas fez em termos de levar a que os jovens percebessem o que foi o 25 de Abril e o seu carácter transformador?»

O desempenho de Cavaco Silva tem sido a todos os títulos lamentável, a ficar para a história como o pior PR pós 25 de Abril.

9:47 da tarde  
Blogger xavier said...

Dedicado ao e-pá!
Este poema de JS parece ter sido inspirador do controlo pontométrico dos Hospitais do SNS.


Ouvindo Beethoven
de José Saramago

Venham leis e homens de balanças,
mandamentos d’aquém e além mundo.

Venham ordens, decretos e vinganças,
desça em nós o juiz até ao fundo.

Nos cruzamentos todos da cidade
a luz vermelha brilhe inquisidora,
risquem no chão os dentes da vaidade
e mandem que os lavemos a vassoura.

A quantas mãos existam peçam dedos
para sujar nas fichas dos arquivos.

Não respeitem mistérios nem segredos
que é natural os homens serem esquivos.

Ponham livros de ponto em toda a parte,
relógios a marcar a hora exacta.

Não aceitem nem queiram outra arte
que a proeza do registo, o verso acta.

Mas quando nos julgarem bem seguros,
cercados de bastões e fortalezas,
hão-de ruir em estrondo os altos muros
e chegará o dia das surpresas

[cantado por Manuel Freire, em 1977]

9:58 da tarde  
Blogger naoseiquenome usar said...

... já nada surpreende.
... e há medidas inevitáveis.
O significado da liberdade é este mesmo - o da nossa liberdade não colidir com o da liberdade do outro - que se estende à liberdade do outro enquanto pessoa colectiva , pública ou não - que, no caso, se repercute, positiva ou negativamente, em todos nós, cidadãos, que, por sorte do destino, também somos, doente.

11:47 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Caro Xavier:

É isso mesmo:

"Mas quando nos julgarem bem seguros,
cercados de bastões e fortalezas,
hão-de ruir em estrondo os altos muros
e chegará o dia das surpresas"

A massiva debandada de médicos dos Hospitais e Serviços do SNS - não só por causa dos pontómetros - vão fazer ruir os muros atrás dos quais se escondem os burocratas e amanuenses e o processo vai desenbocar, sem dúvida, no dia das surpresas, para os reverentes serventuários do sistema.
Chegará o dia em que um doente angustiado, percorrerá desvairado o Hospital à cata de uma impressão biométrica que tenha por detrás uma mão capaz de o ajudar.
Só encontrará o registo...

Caro Xavier:
A maneira como sorridente, displiscente, arrogante e manhosa como Sócrates - na campanha para as últimas Legislativas - anunciou a reforma da Administração só podia enganar tolos.
É dificil definir se estas medidas reformistas são hilariantes, são repugnantes ou ambas.
Qualquer um de nós sabia que chegaria o dia em que pagaríamos o descontrolo de custos do guterrismo, crescidas das asneiras de Barroso & Santana.
Seria muito duro.
Sócrates optou por começar pelas medidas
emblemáticas, espectaculares - mas pouco eficazes.
Elas definem - erroneamente - a vontade férrea em mudar, venha o que vier, aconteça o que acontecer.
Em democracia, este método começa por funcionar (revela uma falsa autoridade) mas esboroasse nas contradiçoes da cidadania e na cadência cíclica do exercício do poder.

Começou-se pelo saneamento moral e a partir daí, por arrastamento, viria o económico e o financeiro.

Começou-se mal. O saneamento moral de que o pontómetro é um pequeno e ínfimo instrumento, poderia (deveria) ser aceite sem polémicas. Isto é, a assiduidade é um dever do funcionário.
Mas antes que se conseguisse implementar esse controlo, começou a ruir o edifício do agente público, com as suas pequenas regalias, bloqueamento das esoecificidades retributivas (aumentos anuauis), de regime de trabalho (progressão nas carreiras) e o rigor hierárquico.
Sócrates destruíu, em poucos meses, uma ideia quase centenária - "os direitos adquiridos".
Certo que os direitos adquiridos não podiam ser eternos, nem exclusivos para a FP, enquanto o País lançava centenas de milhares de trabalhadores no desemprego.
Mas muitos julgavam que o Estado os protegeria, porque eram indispensáveis para o funcionamento da máquina estatal. Eram a "guarda pretoriana" do poder civil.

A diminuição das despesas (indispensável para o equilíbrio orçamental) começa na administração pela área social, i.e., da pior maneira.
Médicos, professores, juizes, etc., começam a ser atacados por uma urbe de investidores e empreendedores que, dentro do conceito neliberalismo que veneram, acham que nada deve ser dado a ninguém, muito menos aos FP. Para esses porrada, por são improdutivos, pouco eificientes e gastadores...
Aliás, consideram os FP "gigolos" do Estado.

Os médicos há algum tempo iniciaram a sua debandada, muito embora defendam que os números são reduzidos. Ultimamente, a Ministra tem mostrado algum realismo.

Haverá sempre quem ponha o dedo.
Os critérios de recrutamento em Portugal não são muito exigentes e dependem muito do enquadramento político-partidário.
Resta saber qual os préstimos desse acto, para o doente e para o Hospital ou se quisermos ser mais vastos para o SNS.
O objectivo de diminuir 75.000 fincionáris públicos até ao final da legislatura, vai seguir um acminho ínvio.
Centenas de professores, m´dicos e ouro funcionários públicos têm pedido reformas antecipadas, com severas penalizações para se libertarem da senda persucutória em curso.

Como se diz no verso:
"Não aceitem nem queiram outra arte
que a proeza do registo, o verso acta."

No fundo, Caro Xavier, a ministra , vai ter de escolher entre Sallieri e Mozart.
Os administrativos indicarão Sallieri, mas muita gente preferirá Mozart.
Não é?

Ou, então, Xavier:
"O inferno são os outros."
Jean Paul Sartre

11:24 da manhã  
Blogger Tá visto said...

Quando me pediram para dar a minha impressão digital para validação do controlo biométrico, tive a tentação de dar o dedo que mais se coadunava com o gesto da repulsa.
Um mês depois, ouvi o desabafo de um colega dizendo que estava a perder 5000 euros por mês pelas alterações à vida privada a que o pontómetro tinha obrigado.
Pensei então, aquele gesto de repulsa a que estive tentado não deveria dirigir-se à “repressão” da máquina administrativa do Estado mas à venalidade humana que a ela tinha obrigado.
A Liberdade é um bem precioso, mas a sua plenitude exige um sentido de responsabilidade que hoje ainda não temos. Lamentavelmente.

Exortemos pois a liberdade em abstracto que Pessoa tão bem traduz:
Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa

7:01 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Caro Tá visto:

"Um mês depois, ouvi o desabafo de um colega dizendo que estava a perder 5000 euros por mês pelas alterações à vida privada a que o pontómetro tinha obrigado."....

Esse colega a continuar nesse Hospital biometrizado, deve, no mínimo, pertencer ao Conselho de Administração (vencimento + mordomias + comissão de serviço, etc.) ou, padecendo de crise aguda de sadomasoquismo transformou-se num penoso otário, ou finalmente, é, como sugere o poeta:
"É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca..."

Mas não vamos começar a contar histórias para adormecer, mesmo ouvindo Beethoven...

9:06 da tarde  

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