Avaliação CA HH epe
Dias depois da tomada de posse da nova ministra da Saúde, um responsável do Ministério anunciava que estavam a trabalhar na criação de uma grelha para avaliação dos conselhos de administração dos hospitais EPE. Nada nos poderia dar mais satisfação: é mais que tempo, e mais que necessário, que pessoas a quem foram confiados milhões e milhões de euros dos cofres do Estado possam ser correctamente avaliadas pelo destino que deram a todo esse dinheiro. link
De imediato, alguns presidentes de conselhos de administração vieram clamar, à laia de aviso, que não era fácil serem avaliados, até porque estavam dependentes dos profissionais que têm a trabalhar nos «seus» hospitais. E isso é verdade, essa dependência é um facto, e é positivo que pelo menos alguns deles a reconheçam, embora não se saiba que influência tal facto tem na sua actuação administradora. Mas a verdade, também, é que um responsável tem de assumir as suas responsabilidades e não esconder-se atrás dos seus subordinados, imputando-lhes a culpa de um eventual fracasso (ao mesmo tempo que, se calhar, fica sozinho com os louros quando as coisas correm bem). Napoleão Bonaparte ganhou muitas batalhas à custa dos seus soldados, os quais no entanto ficaram globalmente na história apenas por serem os seus soldados. E quando foi vencido em Waterloo, mais uma vez foi ele quem perdeu, não os seus soldados, apesar de historicamente se saber que essa derrota se ficou a dever em grande parte à não execução cabal e atempada de um plano de batalha confiado ao comandante de um dos seus regimentos. Mas foi ele quem foi derrotado, e destronado, e preso, e que morreu no exílio. Não o seu exército, que apenas perdeu o chefe. (...)
De imediato, alguns presidentes de conselhos de administração vieram clamar, à laia de aviso, que não era fácil serem avaliados, até porque estavam dependentes dos profissionais que têm a trabalhar nos «seus» hospitais. E isso é verdade, essa dependência é um facto, e é positivo que pelo menos alguns deles a reconheçam, embora não se saiba que influência tal facto tem na sua actuação administradora. Mas a verdade, também, é que um responsável tem de assumir as suas responsabilidades e não esconder-se atrás dos seus subordinados, imputando-lhes a culpa de um eventual fracasso (ao mesmo tempo que, se calhar, fica sozinho com os louros quando as coisas correm bem). Napoleão Bonaparte ganhou muitas batalhas à custa dos seus soldados, os quais no entanto ficaram globalmente na história apenas por serem os seus soldados. E quando foi vencido em Waterloo, mais uma vez foi ele quem perdeu, não os seus soldados, apesar de historicamente se saber que essa derrota se ficou a dever em grande parte à não execução cabal e atempada de um plano de batalha confiado ao comandante de um dos seus regimentos. Mas foi ele quem foi derrotado, e destronado, e preso, e que morreu no exílio. Não o seu exército, que apenas perdeu o chefe. (...)
Em suma, e para concluir, é fundamental avaliar a actividade dos conselhos de administração dos hospitais EPE, e rapidamente. Essa avaliação não é fácil, porque é complexa e deve ser feita sob múltiplos aspectos, para além do económico-financeiro. Há hospitais com as contas eventualmente certas -- outros nem isso -- e destruídos por dentro, e o Ministério da Saúde, que empatou lá o dinheiro que é de todos nós, não sabe. É altura de querer saber. Há aspectos muito mais importantes do que o económico-financeiro, porque as consequências dos erros aí cometidos levarão muito mais tempo a ser corrigidas e terão muito maior impacte negativo no País, para além de no próprio hospital. Mesmo no campo financeiro, porque ao fim e ao cabo gastou-se dinheiro para se cometerem os erros.
Mas entenda-se é que a dificuldade de avaliar a actividade dos responsáveis não reside nos profissionais que trabalham no hospital. Esses, pelo contrário, deveriam ser ouvidos: para saber o que pensam e que futuro antevêem para a instituição, e se estão contentes e a trabalhar a par com o seu conselho de administração ou, pelo contrário, apenas esperando, senão desejando e pedindo a Deus, que ele seja substituído. Este deveria ser outro factor na grelha de avaliação.
Carlos M. Costa Almeida , presidente da APMCH
Mas entenda-se é que a dificuldade de avaliar a actividade dos responsáveis não reside nos profissionais que trabalham no hospital. Esses, pelo contrário, deveriam ser ouvidos: para saber o que pensam e que futuro antevêem para a instituição, e se estão contentes e a trabalhar a par com o seu conselho de administração ou, pelo contrário, apenas esperando, senão desejando e pedindo a Deus, que ele seja substituído. Este deveria ser outro factor na grelha de avaliação.
Carlos M. Costa Almeida , presidente da APMCH
TEMPO MEDICINA on line, 06.05.08
Etiquetas: HH avaliação
2 Comments:
O artigo do Dr. Costa Almeida no Tempo de Medicina, sobre avaliação dos CA dos HH epe, leva-me a pensar que podereremos estar a falar ou a interpretar 2 coisas distintas.
1.) Ou trata-se um instrumento administrativo criado por CC (a actual Ministra não tem nada a ver com a questão) para reforçar os poderes dos CA e eventualmente distribuir incentivos;
2.) Ou andamos todos "enganados" com CC que não tolerou que nos CA os directores clínicos dos HH (integram os CA) fossem eleitos pelos seus pares, porque "perturbavam" a origem do poder (eleitoral - do governo)
Quem desrespeita, como ele o fez, a autoridade do Tribunal de Contas, dizendo que apesar das recomendações sobre as contas dos HH EPE e SPA, continuaria a fazer como até aqui, não estará interessado num verdadeiro screening do trabalho hospitalar - seja no topo seja na base.
A avaliação - cujos moldes ainda desconhecemos na totalidade - acabará por servir a consolidação dos CA dos HH, blindando-os, por detrás de métodos, regras e normas.
Nos HH's não existem - institucionalmente - estruturas de audição dos trabalhadores e dos utentes, pelo que ... haverá muito trabalho a fazer antes do processo de avaliação dos CA dos HH epe's...
ADENDA:
Já estou a ouvir o reboliço de que não é a mesma coisa...e poderá, na verdade, não ser!
Mas vai ser muito difícil explicá-lo aos utentes do SNS.
Começam a ser entediante (para ser comedido na linguagem) tantas comissões, entidades, tribunais, sejam de avaliação, reguladoras, de revisão de contas, arbitrais, etc., com altos dispendios para o erário público e com consequências práticas, nulas, enviesadas ou, pior, contraditórias.
Vejamos, então:
ARRANCA SISTEMA PARA CLASSIFICCAR 60 HOSPITAIS
O objectivo da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) é que daqui a algum tempo os cidadãos tenham acesso a uma lista de todos estabelecimentos de saúde com a respectiva classificação em relação à qualidade e segurança dos cuidados prestados. Foi ontem anunciado no Parlamento que o sistema deverá avançar este ano com 20 hospitais públicos, 20 privados e 20 do sector social.
Já no ano passado a ERS anunciara a intenção de criar o Sistema Nacional de Avaliação em Saúde (Sinas), mas só no final do mês passado foi aberto o concurso público internacional para a selecção do parceiro que o vai pôr no terreno.
Ontem, na audição na comissão parlamentar de Saúde, Eurico Castro Alves, vogal do conselho directivo da ERS, revelou que ainda este ano pretendem avançar com um projecto experimental. Sobre a data final de alargamento a todas as unidades de saúde, respondeu apenas: "Nos Estados Unidos demorou 16 anos".
O responsável da ERS declarou que "a oferta privada está a crescer e que anda mais ou menos ao deusdará em relação a critérios de qualidade e segurança". O presidente da ERS, Álvaro Santos Almeida, estimou ontem "em 30 a 40 por cento" os cuidados de saúde feitos por privados.
O sistema de avaliação foi ontem contestado por ser visto como algo semelhante aos rankings das escolas. O deputado comunista Bernardino Soares disse que vai ter os mesmos resultados que na educação, em que os resultados reflectem a possibilidade de as escolas privadas poderem seleccionar alunos.
"Os privados serão sempre os primeiros", porque, contrariamente aos hospitais públicos, não funcionam "com uma política de porta aberta, o hospital privado escolhe as suas competências". E criticou: "Pretendem avaliar igualmente o que não o é".
Também o parlamentar do Bloco de Esquerda João Semedo alertou para os mesmos perigos. "Tal como noutros rankings [das escolas], existe o risco de o sistema de avaliação se transformar numa campanha de promoção dos grandes hospitais privados em detrimento dos públicos."
Castro Alves respondeu que a máquina de avaliação, que custará 750 mil euros, fará ajustamentos destas diferenças afirmando que os indicadores serão tornados públicos e negociados com os operadores.
jp, 07.05.2008, Catarina Gomes
Como explicar isto aos utentes?
O que é que os HH's EPE's têm a ver com os seus CA's e vice-versa?
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