sexta-feira, maio 2

Avaliação (2)


Vejo que hoje é um dia de grande tristeza para si. Também de grande felicidade, pelo sentido do dever cumprido e uma vida profissional repleta de êxitos, como refere.
Nestas alturas, nada melhor para refazer forças do que um bom combate . Ora aí vai…
O seu comentário link ao post “Avaliação” link merece os seguintes reparos.
Diz que «o modelo de avaliação dos Conselhos de Administração (CA) põe 3 problemas» (mesmo sem o ver...):
«1º Até que ponto se sobrepõe ao "peso" dos accionistas (i.e. o Estado)». Ora a avaliação dos gestores é precisamente um dos poderes do accionista, representado pelo MS e MF, que fará um contrato de gestão com os gestores, como já foi legislado e publicado.

«2º Em que medida o Estado ... abdicar .. do uso de justificações do tipo da conveniência política (partidária)». Se o Estado quisesse muito não se punha a publicar legislação e a assinar contratos com objectivos e outros elementos quantitativos que só o tolhem nessa «conveniência».

«3º Se esse processo não abre caminho à execução de despedimentos sumários com invocação de "justa causa"». Duas pequenas notas:
a) As leis sobre a gestão hospitalar já prevêem a cessação da comissão do CA, simplesmente por não cumprir os objectivos («despedimento sumário e com justa causa?»);
b) Quem já leu a legislação sobre os contratos de gestão nas empresas públicas, que se aplica no HH EPE, percebe que se trata de um contrato que tem «consequências» (como a pessoa citada no artigo afirma) para a gestão de topo. Será o que a motivará a melhores resultados, bem como aos restantes gestores e trabalhadores que dele dependem. Melhores resultados é precisamente que pretendem, os clientes, o Estado e os contribuintes.

Quanto a «...ter sobejas razões para questionar a metodologia ...» sem a conhecer de todo, só demonstra "facilidade de afirmar", quanto a responsabilidade e ponderação estamos conversados.

Finalmente faz uma afirmação curiosa: «É significativo que o texto do anúncio de arranque ...» (só na Tempo Medicina já vi 2 artigos, o Secretário de Estado já se referiu a ela várias vezes nos jornais) «...não se refira a problemas ou questões éticas». Ora pelo que sei foi referido a um dos 3 CA dos hospitais em teste que irá haver um código de conduta para os gestores e chefias do hospital e que todos serão objecto de avaliação em 2009, não apenas o CA.

Sugiro ao e-pá! que troque o «lançamento» da suposição e o «cavalgar» a imaginação e recorra a um daqueles CA para saber o mínimo sobre o processo e a «metodologia» que tanta curiosidade e «problemas» lhe despertam.
e, um abraço.

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17 Comments:

Blogger e-pá! said...

Caro Xavier:

O SÁBADO É UMA ILUSÃO!

A insinuação que eu poderia estar a a colocar problemas ao modelo de avaliação dos CA dos HH's, mesmo antes de os ler, não colhe porque referia-me, genericamente, aos contratos de gestão pública e ao que conheço (provavelmente pouco) das leia sobre gestão hospitalar.

Todo este emaranhado é obra de um econonomista da Saúde - que, por exemplo, não se apressou a definir o que é um acto médico - e no fundo, significa o articulado legal para não se repetirem cenas iguais ou parecidas As veirficada no tempo do Ministro Luís Filipe Pereira, mas os tempos são outros, os ministros são outros. De comum só o Secretário de Estado.

Pelo que, aí vai, uma contraproposta em troca.

Sobre o futuro dos conselhos de Administração Hospitalares, por exemplo, no que se refere aos modelos de avaliação, consulte em vez dos CA, ou das ARS, alguém do Comissão Política Distrital partidária (de qualquer partido representado noa AR), e melhor seria, alguém que, simultâneamente, pertença à Comisão Parlamentar de Saúde.

Espero que não deixe de cavalgar a imaginação e, em troca, monte a galope, ao dorso de uma efémera ilusão.

"O sábado é uma ilusão" disse, com ironia e grande sabedoria da vida, Nelson Rodrigues, jornalista, escritor e dramaturgo brasileiro, contemporâneo (1912-1980).
Levou uma vida de "dandy" (recorda-se do termo?) e o tempo veio dar-lhe razão (tardia).

12:07 da tarde  
Blogger Clara said...

Dedicado ao é-pá! no primeiro dia da sua nova vida.
Todos nós aqui gostamos muito de si e da forma como consegue aliar inteligência e sensibilidade.

Viver é uma ilusão

Acredite, Senhor Redator, porque não tenho precisão nenhuma de mentir: viver é uma ilusão. Aprendi lendo uma crônica de Rubem Braga, uma daquelas mais antigas e muito mais verdadeiras. É a história de um jardineiro que trabalhava a semana inteira sem nada exigir, sem folga e sem férias, menos nas noites de sábado. Era hora de vestir a melhor roupa e sair. Um dia a patroa pergunta por que era sempre no mesmo dia. E ele, feliz: porque o sábado é uma ilusão.

Ora, foi a ilusão o que fez aquele menino de nove anos salvar uma criança do incêndio no barraco da cidadezinha de Palmeira, em Santa Catarina, a duzentos quilômetros de Florianópolis. Quando os bombeiros chegaram já encontraram a menina Andrielli nos braços da mãe, sã e salva. Ela dormia enquanto a mãe lavava roupa no fundo do quintal e só percebeu quando a casa de madeira já estava em chamas. E então correu, às pressas, para chamar os soldados do fogo.

Foi quando Riquelme - esse é o seu nome - de 5 anos, entrou na casa, entre chamas e tufos de fumaça, e de lá saiu com Andrielle que ainda dormia. Quando perguntaram como foi possível aquele milagre que ele tão humildemente nem percebera, ele apenas disse: 'Fui lá, pulei dentro do quarto, e tirei a menina'. E como sentiu que pareceu inacreditável ao bombeiro, exibiu a camiseta vermelha e azul que vestia e disse com toda pureza: 'Sou o filho do homem-aranha'.

É isso o que falta ao homem moderno, esse que depois de perigosamente desvendar todos os mistérios da vida, caiu numa realidade terrível. O homem moderno não tem ilusões. E a vida, Senhor Redator, não pode ser vivida sem ilusões. Digo sempre, embora ninguém acredite: a realidade é burra. E é. Porque é incapaz de permitir um dedo além do limite do real. É tanto que Santo Agostinho, o doutor da Igreja, desconfiava um pouco de que a lógica é uma deformação.

E o gesto de Riquelme, convenhamos, nasceu da quebra absoluta da lógica. Foi a força da ilusão. Lógico seria não perder a noção da realidade. E ele perdeu. Pensou mesmo ser o filho do homem-aranha com aquela camiseta de teias negras riscadas sobre um fundo vermelho e azul. E, por acreditar na ilusão, pulou dentro da casa e salvou a amenina de um ano e dez meses que até dormia entre chamas. Foi a ilusão. Unicamente a ilusão que impulsionou Riquelme. Nada mais

Porque só os homens cheios de ilusão são descobridores. Mesmo os ricos de ciência e de saber, como Pasteur e Fleming. Um acreditou na existência dos microorganismos quando vê-los parecia uma ilusão. O outro que era possível vencê-los com a penicilina cultivada no mofo. Por isso um dia vi um toureiro rezando diante do busto de Fleming nos jardins da monumental Plaza de Todos de Madrid. Agradecia, na ilusão de que jamais morreria da infecção de uma chifrada.

Vicente Serejo jornal de hoje

1:11 da tarde  
Blogger Carago said...

Este meu comentário é um não comentário...é antes um grande obrigado a um colega comentador do Saude SA e a um colega médico...não tenho o pazer de o conhecer e a sua identidade são apenas suposições...mas que pena que É-Pá tenha sentido necessidade de aproveitar as condições (cada vez menores e roubadas)para a aposentação...é assim esta sociedade em que se deperdiçam os contributos activos...mas não deixe pf de nos brindar com as suas intervenções, a nós que por cá ainda vamos estando e vamos defendendo um SNS equalitário e de qualidade...em que a técnica e o humanismo não se deixem sobrepojar pelo dinheiro e pelo lucro...
Mais uma vez meu obrigado e até sempre!

1:42 da tarde  
Blogger Joaopedro said...

Um colega da saudesa muito especial como referiu a Clara.
Esta vida é uma ilusão. Quem assim não entender nunca chega a perceber patavina disto.
A mim ainda me faltam um par de anos valentes para a libertação.
Um grande abraço.

2:08 da tarde  
Blogger tonitosa said...

E-Pá...
Na verdade esta coisa "pá" de escrever, "pá", às vezes torna-se mais difícil.
É que, pressinto uma certa angústia na partida para a reforma do colega "e-pá" depois de toda uma vida, como se infere do seu comentário, dedicada à causa pública. E sente-se que começou nos tempos em que ser funcionário público era uma nobre missão.
Mas, na verdade cada vez mais nos interrogamos se vale a pena continuar a trabalhar num "MUNDO CÃO" onde os oportunistas e incompetentes são os que dirigem os Serviços e o País.
E vai mesmo morrendo a esperança?!
Não me alongo neste comentário.
Hoje, dia 1º de Maio, quero apenas deixar registado o meu apreço pelas intervenções do "e-pá" neste blogue, baseadas sempre no conhecimento (certamente de experiência-feito e não só), na defesa das suas posições sobre as matérias e, sobretudo, com elevada nobreza de princípios.
Aqui fica pois o meu abraço e o apelo (talvez desnecessário) para que continue a enriquecer-nos com as suas intervenções.
Mas acima de tudo que possa gozar a sua "reforma" com saúde e que possa, ainda por muitos anos, prestar os seus serviços à sociedade, agora certamente liberto das "grilhetas" do pontómetro que tanto abomina.

2:33 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Sobre o modelo de avaliação dos CA deixo apenas uma pergunta:
Alguém (dos ilustres colegas comentadores) conhece alguma empresa (pública ou privada) que tenha adoptado um sistema tão surrealista para avaliar os seus gestores?
Eu não conheço!...
Um tal modelo só pode ter saído da cabeça de iluminados.
Será por coisas como esta que o nosso PM, Sócrates, acha que o Estado não tem capacidade para exercer as funções de Regulador/Controlador nas PPP?!

2:39 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Um grande abraço para o e-pá!

3:50 da tarde  
Blogger ochoa said...

Caro e-pá,

Agora é que vai ser o bem bom.
Quando chegar a minha vez, vou ser pescador.
Vou fazer como o Quincas Berro d´Água e desaparecer da civilização.
Um abraço

3:54 da tarde  
Blogger Hospitaisepe said...

Quando a ilusão é demais...

O caro Tonitosa como é habitual limita-se lançar as bocas do costume, mesmo que não perceba nada do assunto.
Aconselho-lhe a leitura da recente Resolução do Conselho de Ministros nº 70/2008 de 22 de Abril de 2008, publicada no DR 79 - Série I .

Um abraço para o e-pá!

8:19 da tarde  
Blogger helena said...

O Tonitosa venerava o Ranking dos Hospitais SA. Quando havia um ligeiro atraso na saída da lista mensal nem dormia. Achava aquela trapalhada de juntar na mesma lista de avaliação o HH de Barcelos e o Hospital de São João o supra sumo da batata.
Agora, sem conhecer o modelo proposto para os Hospitais EPE, vem para aqui espirrar o fel do costume.

O grande desafio do sistema de avaliação proposto para os conselhos de administração dos hospitais EPE é a grande importância dada ao processos de mudança, uma vez que a «mudança dos sistemas de gestão» é uma das premissas em que assenta a avaliação daqueles órgãos.

Mas o que muita malta não quer, tal como os professores, é ser avaliado. E, assim, isto nunca mais passa da cepa torta.

10:51 da tarde  
Blogger xavier said...

Caro e-pá. Manter a discussão com tais argumentos...
Então ser economista é desadequado para fazer um trabalho destes?
Teria de ser médico?...

Tonitosa: argumentos zero. Apenas desabafos. As saudades do tempo do LFP são muitas. O ranking SA também me divertia. Toca-me certa nostalgia quando penso nesses tempos naives.
Isto hoje é tudo mais à séria. A exigir muito trabalho e preparação.

12:07 da manhã  
Blogger Tá visto said...

Meu caro “e-pá”,


Início este apontamento reforçando a ideia final da sua intervenção - Deseja-se que continue a colaborar na saudesa. É de facto muito importante ouvir a opinião de um colega com a sua experiência e vivência profissional em Saúde. Tão mais importante quando se pressente que o SNS está na curva mais apertada do seu atribulado percurso, necessitando, por isso mesmo, do contributo de vozes esclarecidas como vem demonstrando ser a sua.
Divide-nos o pontómetro, um instrumento que, estou certo, muitos de nós não teriam necessitado para cumprir com zelo e competência o trabalho diário. Mas, enfim, esse é um pormenor despiciendo no muito que nos une deste lado da barricada.
Reforça a importância do contributo de “e-pá” neste espaço outros saberes ou, uma outra sabedoria, que connosco vai partilhando. Em tempos de clausura tecnocrática nunca é de mais citar as palavras de Abel Salazar: Um médico que só sabe de Medicina nem de Medicina sabe. E esta “reprimenda” não lhe assenta seguramente.

Um abraço do Ta visto

10:18 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Bom, vamos então à "guerra".
Hospitaisepe: basta-me repetir a pergunta: conhece algum caso de empresas onde um sistema tão surrealista tenha sido adoptado?
Diz-me: leia a RCM 70/2008 de 22 de Abril...
Ora, é exactamente isso que está em causa. Uma RCM feita por iluminados. Processo idêntico que tenha sido adoptado, conhece algum?
Ah, dirá o ilustre colega: mas agora vão ter que adoptar o modelo.
Que modelo, pergunto eu? Acha normal, e necessário, que uma RCM (remetendo para vários DL e outras disposições legais) dê lugar a um sistema (modelo) de avaliação de desempenho dos CA's dos Hospitais onde uma das componentes tem a ver com "a forma de actuação do CA" sendo "dentro deste item que os administradores
vão ser avaliados no que toca a «reuniões, produtividade, tipo de intervenções e soluções apresentadas».
E mais ainda, um modelo em que os gestores vão ser "escrutinados no que respeita ao desenvolvimento dos «gestores da área intermédia e da
área operacional» e ainda na forma como «colaboraram com o Serviço Nacional de Saúde (SNS) para a
melhoria do desempenho global da Saúde»?
Acha que um modelo destes está isento de uma apreciação subjectiva? E cbe perguntar: quem avalia quem?
Voltando à RCM: não acha que a mesma contém meras banalidades que apenas servem para "masturbação" intelectual dos seus autores?!
Não acha que os indicadores económicos e financeiros que define são óbvios e obrigatoriamente constantes de qualquer Relatórios e Contas de Gestão (veja o do IPOFG Porto de 2007, por exemplo).
A Helena devia endar ansiosa por dar umas bicadas a este humilde comentador. Teve a sua oportunidade, mas falhou mais uma vez!
Quanto a misturar Barcelos com S. João, a conclusão é sua. Mas, deixe-me dizer-lhe: não confunda as coisas: avaliação de desempenho dos CA (e dos hospitais) é uma coisa; "ranking" dos HH é outra (para mim) bem diferente. E só por igorância se podem confundir uma coisa e outra. E enquanto as confundirmos, na verdade, não passaremso da "cepa torta".
Caro Xavier, se quiser, aproveite o que acima refiro. E não vale a pena vir com essa coisa de "argumentos zero".
Argumentos, meu caro amigo, tenho muitos e provavelmente de valor igual ao dos seus, ainda que de sentido diferente.
O sistema de valiação anunciado não passará de uma panaceia. Servirá para todos os gostos: para demitir quem não estiver nas boas graças e para manter nos cargos quem tiver a "protecção divina". por mais "avaliações" ou "rankings" que se façam.
Os Governos (Ministros e não só) dificilmente abdicarão desse poder discricionário de nomear os "altos dirigentes" do sector público (empresarial ou outro).
Tudo o resto não passa de fogo de artifício.

3:28 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Caro Xavier:

Há muita pressa neste processo. Esvaziam-se as dificuldades, não vá o processo empeçar em algum escolho.

Segundo o coordenador da Comissão de Estudo para a Avaliação dos Conselhos de Administração dos Hospitais EPE, António Dias Alves: “o componente que terá maior importância relativa na avaliação final é o que se refere aos «resultados obtidos pelo hospital», e «terá um peso de 53%».

Pareceu-me que a determinação dos “resultados obtidos” pelos HH’s (EPE’s) seria um assunto problemático, para não roçarmos o ridículo, dos velhos tempos do ministro Luís Filipe Pereira (o célebre e glosado caso do “Hospital de Barcelos”).

No comentário que teci em 30.04.08 sobre a metodologia de avaliação chamava a atenção para a complexidade de determinação de factores como: metodologia de determinação valores como: "qualidade clínica, actividade e eficiência".
O mais fácil por ser o mais experimentado é a determinação do grau de satisfação dos doentes.
E a complexidade advém em primeiro lugar das diferentes metodologias de registo de actos (não os vou caracterizar). Há HH’s que, o mesmo acto clínico, gera 3 espécies de registo diferentes e obviamente 3 recolhas de dados distintas.

Mas, por exemplo: a qualidade clínica.
Não vamos começar pela história do GDH’s (diagnosis related group), em muitos hospitais, sem um a correcta utilização de severity of illness (indicadores de gravidade). Utiliza-se, ou pode-se utilizar, uma hipervalorizaçãp deste indicador – ele rende e inflaciona resultados, e não há meios de controlar a ocorrência de facto anómalos.
Por outro lado há a questão dos custos. Isto é, a intercorrência de frequentes indicadores de gravidade, sem ser acompanhada por um disparar inflacionista dos custos, sem trazer um aumento da demora média de internamento, deve acender a “luz vermelha”.
Estes processos escapam aos métodos de controlo e despiste habituais: case-study, case –mix, etc.
Os processos de avaliação trouxeram benesses como por exemplo a padronização de procedimentos, o estadiamento das complicações, o estudo de trajectórias e inclusive os “health tracers situations”.
Todavia estou convicto que os bons indicadores de avaliação dos resultados, logo da qualidade clínica e terapêutica, faltam.
Eles demorarão a chegar. Serão o resultado de estudos prospectivos(não retrospectivos) do tipo caso/controle, confrontados com os custos / benefícios.

Por vezes, tenho a sensação de não me fazer entender. O modelo que se pretende incrementar é de certo modo decalcado do NHS. Há outros, como por exemplo, o Joint Comission on Acreditation of Hospitals" (JCHA).
Todos eles gravitam à volta do médico e de um outro facto mais importante: da preservação da relação médico-doente. Os resultados dependem, também, de uma complexa conjugação, difícil de estudar, imossíveis de quantificar: a integridade do médico e a confiança do doente.
Quando falo que este processo de avaliação dos CA doa HH’s EPE’s é um caminhar coxo para um objectivo sério, todos começam a gritar : “lá vem ele, que é médico, contestar”!

Estamos, neste torrão à beira mar plantado, a tentar definir processos importantes que vão influenciar a caracterização do sistema de saúde, apesar de todas as dificuldades económicas e metodológicas.
De um lado, os Hospitais entidades jurídicas e económicas. Do outro doentes. No meio os trabalhadores de saúde, donde se excluem – desde já – os gestores.
Quando as coisas estiverem a correr mal existirão médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e terapêutica.
Quando a situação ainda está pior , próxima da catástrofe, aparecem os primeiros ditames, envergonhados, que os médicos são indispensáveis aos sistemas de saúde.
Se indispensáveis, porque marginalizados?
Os médicos já não deveriam ter perfeitamente definido o que é o “acto médico”?

Ou os administradores andarão a avaliar procedimentos, resultados se quisermos, produzidos por médicos, mas que podem extravasar a “ars medica” e algures por aí veremos uns indivíduos de bata branca determinar o cash nexus, por exemplo, de um internamento.
Caro Xavier:
O SNS sofrerá, enquanto existir, do “espírito de lebre”. Isto é, o corredor rápido que parte na vanguarda e deixa tudo para trás… mas tem curto fôlego. Mas, enquanto galopou, deixou tudo e todos para trás.
Todos sabemos que a avaliação de serviços clínicos funcionais, de que os Estados Unidos foram pioneiros, inicialmente voltados e exclusivamente centrados para o trabalho médico, numa avaliação por pares e num contexto predominantemente qualitativo e subjectivo, redundou num fracasso.
Foi um processo progressivamente abandonado porque pouco estruturado e de resultados contestados.
Hoje, em Portugal forma-se um clã, que vai promover a avaliação da gestão e administração, de costas para os médicos.
Começa a fazer-se uma profunda fissura na Saúde, isto é, no SNS.
Entre os seus trabalhadores e necessariamente com reflexos no sistema, nomeadamente nas estruturas dirigentes intermédias.

4:27 da tarde  
Blogger xavier said...

A reacção desconcertante a esta matéria faz com que eu ache oportuno relembrar o seguinte.

Os resultados das empresas públicas em geral (hospitais EPE, incluídos), são desde sempre, objecto de frequentes e contundentes críticas, associadas às práticas de gestão ineficiente dos recursos, ao processo de selecção e qualidade e desempenho dos gestores públicos.

Esta preocupação levou recentemente o governo a obrigar as empresas públicas a definir objectivos financeiros alinhados com as melhores práticas de empresas congéneres a nível europeu, assim como a aferir o seu cumprimento (Resolução do Conselho de Ministros nº 70/2008 de 22 de Abril de 2008).

É consensual a necessidade de implementar uma gestão por objectivos, devidamente quantificados e publicitados de forma a permitir uma melhor responsabilização e, posteriormente, uma avaliação menos subjectiva dos resultados .
A fixação de objectivos permitirá uma adequada afectação de recursos e avaliar a relação de eficiência/equidade desejada.
Este processo, contribuirá para clarificar as responsabilidades e tornar a avaliação da gestão menos aleatória.

O modelo de avaliação dos conselhos de administração(CA) dos hospitais EPE proposto, resultante da análise de três componentes: resultados da actividade
do hospital, cumprimento de objectivos programados e actuação dos administradores, irá constituir um poderoso instrumento de clarificação das responsabilidades, tornando o processo de selecção dos gestores hospitalares mais transparente, susceptível portanto de introduzir melhor qualidade em todo o processo de gestão dos HHs.
Não se compreende portanto a critica negativista, pouco esclarecida, do pessoal da saudesa.
Parece que a implementação de sistemas de avaliação tem o condão de suscitar reacções desta natureza (e não só entre os professores.)

Declaração de interesses. De todos os AH, muitos dos quais foram meus professores (Vasco Reis, CC, Francisco Ramos, Carlos Costa, Augusto Mantas, MD) o colega AH mais brilhante que eu conheço é, sem dúvida, o Dr. António Dias Alves, que faz o favor de ser meu amigo.

1:42 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Curiosa esta discussão sobre a avaliação. Vejamos as alternativas:
a) não avaliar - resultaria a acusação de falta de responsabilização (calculo que alguns comentadores usariam termos como "regabofe")
b) avaliar, mas sem anunciar a metodologia - resultaria a acusação de partidarite, amiguismo, corrupção, protecção de uns sabe-se lá porque razões.
c) avaliar, com anúncio da metodologia - acusação de sistema complicado, etc... (ver os comentários anteriores).

Ou seja, querendo-se há sempre um motivo para estar contra.

Dentro deste contexto, estou com o Xavier, não se percebem as criticas. Ao mesmo com o sistema apresentado tenta-se dar alguma objectividade.

Nas empresas privadas, a vida é mais simples: a equipa de gestão dá retorno ao accionista? se sim, muito bem; se não, muda.

O sistema é de facto mais simples, e aqui também poderia ser aplicado - basta definir retorno para o Estado, algo como ganhos em saúde por euro gasto. Mas calculo que logo venham dizer que a realidade é mais complicada e multidimensional do que apenas este indicador...

Mas a verdadeira prova será feita com a aplicação da avaliação.

6:58 da manhã  
Blogger e-pá! said...

Caro Xavier:

O problema não é só a avliação dos membros dos CA dos HH's EPE's

O grande problema é a necessidade de uma grande equidade interna na Adiminstração Pública ou se quiser chamar-lhe, a necessidade de promover a autoregulação e autoavaliação (importantes).

Os funcionários públicos vão ser regulados por novo sistema da avaliação de desempenho na Administração Pública (SIADAP), que prevê a avaliação dos serviços, dirigentes e trabalhadores, publicado em Diário da República (DR), DEz 20007.

Os membros do CA dos HH's EPE's (logo, públicos),nomeados em bases que não estão completamente explícitas mas onde a discricionaridade da tutela sobressai, estão a "saltar da carruagem".
Pugnam por um sistema de avaliação só para eles, interno, mas com importantes reflexos na administração pública. Não deixa de ser um sistema privilégiado dependente das respectivas ARS's. Um "tribunal de gestores e administradores hospitalares".
Por princícpio os actos públicos fazem-se de porta aberta...

Embora invoquem a eficiência, não podem esperar muita compreensão para uma soluçãdo excepcional de avaliação no interior do SNS, com substanciais diferenças com os restantes trabalahdores. Na verdade, para além destes aspectos formais, há os políticos. E ninguém me convence que a "confiança política" associada ou não à urgente conveniência de serviço, não vão continuar a imperar.

Caro Xavier:
o problema é de agenda no interior do SNS:
Em termos de problemas de pessoal e de avaliações existem outras prioridades mais prementes
Em termos "economomicistas" (a tal palavra maldita) talvez não.

Não acho necessidade de qualquer declaração de interessses, estamos a discutir coisas públicas. Estamos a discutir a antecipação de CC para os AH's. Podemos estar a discutir regimes de excepção.

Nota: sei que esta avaliação se pratica no NHS e nos EUA, por métodos diferentes. Tal facto não acrescenta, nem retira qualquer peso à argumentação para um País em fase pré-inicial de Reforma da Administração Pública.

Nota Final: Entretanto, queria ter tempo de explorar se existe um modelo canadiano.

Tudo o que possa contribuir para melhorar a eficiência do SNS, deve ser encarado com uma mais valia. Mas, temos o direito e o dever de discutir, sem ser considerados uns "empata"... ou uns incompetentes.
Essa é a actual tendência da Administração pública.
Considerar os cidadãos incompetentes para discutir determinados assuntos (muito técnicos, muito específicos).
A democracia a ser enfiada no cano de esgoto...

9:52 da manhã  

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