Plano de choque
O apelidado "Plano de Choque para Oftalmologia" link vem pôr a nu a incapacidade de sucessivas administrações e de sucessivos Ministérios para desregularem a situação vigente nos Hospitais, onde os médicos, gozando de indulgência e impunidade, controlam com mão férrea a "torneira" das primeiras consultas, controlando a actividade cirúrgica programada e adicional realizada em SIGIC, mantendo os preços sobreaquecidos no mercado privado. Foi necessária a pressão exterior criada pelos Autarcas, que sem necessidade de “dar cavaco” à OM, decidiram começar a levar ou anunciar que levavam os seus munícipes a Cuba para lá serem tratados, demonstrando que num mundo globalizado era possível desregular o mercado controlado pelos médicos se deles não se dependesse ou se tivesse “medo”. E o mais engraçado disto tudo é que a “ideia” partiu de um Autarca do “reino dos Algarves” eleito nas listas do PSD. Mas como tudo isto se passava bem longe da capital do Império, poucos deram atenção ao assunto, a não ser através das ‘enes’tusiasmadas reportagens televisivas, não dando atenção ao facto de em Faro à administração ter sido possível pela primeira vez contratar uma equipa externa ao Hospital para recuperar “dentro do Hospital” a lista de espera cirúrgica fazendo depender a sua actividade cirúrgica da realização de primeiras consultas, mais de 100 cirurgias/100 primeiras consultas por mês realizadas desde Novembro de 2007 ou à criação de um CRI para Oftalmologia em Santa Maria.
Passados meses, acabada a telenovela das urgências, mudado o Ministro, acabado o relatório da “Comissão Esperancinha”, a agenda foi de novo tomada pela Oftalmologia, com mais umas reportagens e uns artigos nos jornais, com a vinda de um Oftalmologista espanhol a um Hospital dos arrabaldes da capital, com o anúncio do Moita Flores que também iria enviar “idosos carenciados” a Cuba, o cerco começou a apertar a capital. Foi ver o mal-estar e a “indignação” da OM e dos oftalmologistas a crescer, link, investigações sobre o médico cubano a praticar em Vila Real, idas a Belém, a SPO e a OM a clamarem contra os autarcas e contra os atrasados dos oftalmologistas cubanos e a pedirem mais e mais convencionada, agora também para as consultas. Criado o momento de crise, decidiu o Governo e bem aproveitar esta oportunidade para "oferecer" a possibilidade de recuperar as listas de espera de consulta e cirurgia a preço de SIGIC, aos Hospitais do SNS que decidiram criar Centros de Elevado Desempenho, mas fazê-lo depender da realização de 2,5 primeiras consultas por cada cirurgia de catarata realizada e a aumentarem 10%, 20%, 30% a produção programada conforme estejam acima, na média ou abaixo da média nacional, foi vê-los a correr para as 30.000 cirurgias, a oferecerem os seus préstimos às zonas mais carenciadas.
O mote está dado queiram agora as administrações hospitalares e os médicos finalmente entender que são possíveis mecanismos de contratualização interna que permitam tornar o SNS mais eficiente, eficaz e efectivo, permitindo aos profissionais remunerações dignas e socialmente aceitáveis.
Avicena
Etiquetas: Avicena
4 Comments:
Absolutamente de acordo com a análise do Avicena...
Mais...os senhores doutores vão estar sob um atento e apertado escrutínio e medidas drásticas, que se não me engano estarão já equacionadas, poderão ser implementadas se a oferta de boa vontade do governo não for devidamente tida em conta
Carago:
Quando se bramem os médicos com essas medidas "drásticas" (?) ou lhes acenam com o chicote, corre-se o risco de transformar HH’s em museus (mortos), em conventos abandonados ou espantalhos imperiais do tipo da Domus Aurea romana.
A pior coisa que se pode arranjar para atirar ao ar, nestas circunstâncias de crise, são ameaças de existirem planos B, digo, de represálias.
Os médicos não são credores de uma oferta de "boa vontade do governo", são parte, importantíssima, da solução do problema gerado pelo crescimento desmesurado de uma lista de espera gigantesca para operar as cataratas.
Há uma única certeza: - ela existe!
Agora, porquê ou como se chegou aí, pode ser discutível e controverso. E esta análise não está, nem suficientemente, nem consensualmente, escalpelizada.
As cataratas são um problema que entrou na agenda sanitária e conquistou foros de prima donna no ambiente mediático, não pela sua importância nosológica, mas por motivos que, algum dia, vão vir ao de cima.
Mas o que dizer, por exemplo, do avião diário (ou quase diário) que saí do País, com doentes oncológicos, em espera terapêutica (por diversas razões), com destino a Navarra?
Que não tiveram ainda o beneplácito mediático dos autarcas algarvios?
Mas virá o tempo. Neste ano pré-eleitoral vão saltar para a ribalta deste imenso palco político, todas as listas de espera reais ou virtuais. Chafurdar é o mote.
Não vão existir médicos suficientes para representarem o "papel" de tantos bodes expiatórios que, pelo andar da carruagem, vão ser necessários.
Vai ser necessário atrelar outros responsáveis à carroça. Portanto, o melhor é ficar em guarda.
Deixe-me dizer-lhe com toda a franqueza:
Carago, não precisamos de gestores deste calibre! Cujo trabalho é ameaçar que:
“os senhores doutores vão estar sob um atento e apertado escrutínio”.
O verdadeiro escrutínio será daqui a 1 ano nas urnas. Não é?
Mas para que não fique só pela maledicência posso afirmar-lhe que subscrevo a parte final do post de Avicena:
"O mote está dado queiram agora as administrações hospitalares e os médicos finalmente entender que são possíveis mecanismos de contratualização interna que permitam tornar o SNS mais eficiente, eficaz e efectivo, permitindo aos profissionais remunerações dignas e socialmente aceitáveis."
Caro Carago:
Gostarei de ver, ficamos à espera … mas está de boa saúde a “mãe de todos os vícios”.
Não me surpreenderia que, mais uma vez, déssemos prova da nossa capacidade de negar a evidência, ou de recusar as medidas que ela impõe, (o que é a mesma coisa) e, no mesmo tempo, nos insurgíssemos contra as consequências que a realidade evidente não pode deixar de produzir!
O que quero dizer? Que as listas de espera por cirurgia, e muito concretamente por cirurgia de cataratas, são a resultante directa da promiscuidade de exercício permitida aos mesmos profissionais no sector público e no privado. Essa acumulação e as suas consequências são conhecidas por todos, designadamente pelos que têm assumido a responsabilidade pelo MS. LFP referiu na televisão o escândalo de blocos que, em média, faziam 1 operação por dia. CC, ao tempo ainda não ministro, até escreveu sobre os malefícios dessa promiscuidade; depois, já ministro, publicou qualquer coisa (despacho, portaria ou decreto lei) proibindo a acumulação aos responsáveis dos serviços hospitalares. Era insuficiente, mas ainda alguém se recorda, ou caiu pura e simplesmente no esquecimento, tal como aconteceu com disposição paralela do velho Estatuto Hospitalar?
Nos últimos dias, aqui no Saudesa, foi repetido que temos uma medicina privada mais cara não que a de Cuba, mas sim que a da média da EU. O Avicena fala em preços sobreaquecidos no mercado privado. É claro que os proventos que possibilita aos médicos geram um efeito de insatisfação com as remunerações do sector público e a insatisfação é irmã gémea da sub produtividade. Por isso estamos entre os que, na EU, mais afectam à saúde mas os resultados não ficam entre os melhores.
Como vou acreditar que, não tendo havido a determinação necessária na primeira metade da legislatura, a vai haver agora que o mandato pinga para o fim? Será que quem beneficia com esta situação perdeu capacidade de a gerir e deixar matar a galinha dos ovos de ouro?
Se persistem as causas, como vão desaparecer as consequências?
Oxalá, mas quero ver.
O Post do Avicena é muito bom
O estranho caso da não-troca de seringas
Meio ano depois de ter sido iniciado o Programa Específico de Troca de Seringas (PETS) nas prisões, os meios de Comunicação Social vêm revelar que, afinal, nenhum recluso aderiu ao projecto. E a verdade é que ninguém aparece a contestar a informação divulgada pelo Sindicato do Corpo da Guarda Prisional (SCGP). Estranho, muito estranho, e, como tal, motivo de perplexidade. Sobretudo se tivermos em conta que este SCGP é precisamente o organismo que, desde o início, se opõe à intenção da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais.
Agora, o SCGP vem exigir que o falhado programa seja cancelado e as verbas que lhe estavam destinadas sejam encaminhadas para acabar com a droga nas prisões. A intenção não poderia ser mais elevada. Mas, nesta questão, talvez não ficasse mal deixar o lirismo de lado. Pensar que é possível eliminar todas as substâncias ilícitas das prisões é uma utopia pouco adequada ao nosso tempo: de poucos recursos e amplas obrigações éticas e morais.
Perante a inevitável circulação de droga entre os presos — muitos deles toxicodependentes — e da implicação daquela nas altas taxas de VIH/sida que estes apresentam, ficar de braços cruzados não pode ser a solução. Exigir o fim do PETS também não. Talvez o único caminho seja o do esclarecimento dos presos. E dos guardas. Para que o direito à troca de seringas, exercido por quem vive em liberdade, possa ser efectivo também atrás das grades.
Andreia Vieira
TEMPO MEDICINA 2008.05.19
Enviar um comentário
<< Home