domingo, maio 18

Plano de Oftalmologia



Caro tonitosa
O comportamento de LFV que relata, tal como muitos outros, é deplorável. Espero porém que não pretenda que a mesma sirva de contraponto à notícia recente sobre o jantar de deputados com Pinto da Costa. É que a minha intenção ao trazê-la para este espaço não foi dar voz ao mundo do futebol mas tão só criticar o sub mundo da política que dele se alimenta e com ele se confunde.

Mas não foi este o motivo que me leva a invocar o seu nome, a razão é para lhe dizer que concordo consigo quando se insurge com a forma como o MS vem tratando o problema das listas de espera, neste caso de Oftalmologia
link , subscrevendo a sua afirmação:

“Recuperar o atraso nas cirurgias é certamente urgente e necessário; fazê-lo injectando euros nos hospitais sem garantir(?) a produtividade normal dos trabalhadores envolvidos (os de baixa produção) é premiar os prevaricadores e talvez mesmo, estimular a incumprimento dos deveres profissionais!
E todos sabemos como são encaminhados para os hospitais particulares muitos doentes que são observados (em primeira consulta) nos hospitais públicos e centros de saúde”

A verdade é que a falta de coragem do poder político em separar sectores, permitindo que ao longo de anos se tivesse cerzido uma intrincada teia de interesses entre público e privado, é responsável pela dificuldade em encontrar soluções raciocinais para este problema. Senão veja-se, imaginemos que a opção do MS era entregar as 30.000 cirurgias oftalmológicas aos privados, então não se continuaria em muitos casos a premiar os prevaricadores (os trabalhadores de baixa produção como diz) uma vez que trabalham a maioria das vezes nos dois lados? Mal por mal, a solução adoptada parece-me a melhor pois pelo menos algum desse dinheiro será reinjectado no Serviço Público.
Como bem diz “é esta promiscuidade que "envenena" a coexistência do público com o privado, não a existência do privado em si mesma”. Há pois que por cobro aos conflitos de interesses separando sectores e criando regras de contratualização interna no SNS que “impeçam que se possam garantir empregos independentemente dos "resultados", porque pagos pelo OE”, continuando a citá-lo. Se assim não for o SNS tem os dias contados pois os melhores irão saindo, ficando apenas os que ao longo de anos têm vivido à sombra de um sistema público burocratizado e ineficiente. Os privados sabem-no e como o bom "predador" aguardam pela exaustão da presa. É por isso que quando surge algum Ministro com ideias novas, que vão no sentido da revitalização do SNS, logo se levantam as vozes do dono atacando quaisquer veleidades que possam contrariar os seus inconfessáveis interesses.
Tá visto

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8 Comments:

Blogger falarverdade said...

Concordo inteiramente com a sua reflexão. Vale a pena persistir na necessidade de clarificar as relações entre os sectores.

11:58 da tarde  
Blogger Clara said...

Concordo com a medida da ministra.

É necessário voltar a centrar a política de saúde no SNS. Travar o movimento de lançar para fora, para o sector privado os doentes, os médicos, enfermeiros, os técnicos, o financiamento.
Ana Jorge está a demonstrar que não é uma solução de recurso, de transicção, mas sim de um projecto novo, de uma nova política de saúde em defesa do SNS e dos doentes.

11:46 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Anteprojecto de legislação para o sector das convenções
link

Pedro Nunes,, bastonário da Ordem dos Médicos (OM), no VII Fórum Saúde do Diário Económico, deu o mote, começando logo por defender «um modelo de convenção que corresponde àquilo que o presidente da ERS projectou, mas não o elogio que ele fez ao documento». E isto porque a OM entende que «a liberdade de acesso e a concorrência radicam efectivamente» na possibilidade de ser prestador quem o queira, desde que «tenha para isso as condições técnicas e as instalações adequadas, e aceite as condições de preço que o Estado propõe». Ou seja, clarificou Pedro Nunes, «defendemos o acesso livre para os prestadores» nestas condições. Portanto, acrescentou, «não percebemos porque é que o Estado restringe a operadores legalmente instalados a possibilidade de prestarem os seus serviços», o que é «uma discriminação».
O bastonário disse ainda que «o que está em causa ao aceitar a escolha, por leilão, por parte do Estado, de quem vai prestar serviços» é «um exercício de poder, ou poderes, e não a procura de uma prestação universal em benefício efectivo dos cidadãos» e da sua saúde.
Uma outra vertente do projecto é a que possibilita aos hospitais concorrerem em paridade com os outros operadores, o que Pedro Nunes considera errado, pois, entre outras razões, pode criar situações de incompatibilidade entre prescritor e prestador.
Já na fase de debate, Germano de Sousa, presidente da Associação Nacional de Laboratórios Clínicos (ANL), secundou as opiniões de Pedro Nunes, insurgindo-se contra o projecto em causa. Na sua opinião, e tal como dias antes avançara em conversa com o «TM», aquele projecto é «perfeitamente inaceitável», estando a ANL contra os preconizados concursos, porque «quem ganhar fica dono e senhor em todo o País» do mercado e mais tarde o Estado «vai ficar politicamente refém desse player». O antigo bastonário considerou mesmo que esta é uma medida de «liberalismo selvagem, completamente inaceitável, mais a mais vinda de um governo que emana de um partido socialista».
Referindo-se depois ao facto de os hospitais também entrarem no mercado dos meios complementares de diagnóstico, de que foi pioneira a ULS de Matosinhos, o que levou os laboratórios com convenções a interpor uma acção judicial, Germano de Sousa garantiu que os operadores privados irão até às últimas consequências, mesmo «a Bruxelas», uma vez que um acórdão do Supremo Tribunal Administrativo veio dar razão àquela ULS.

Saturar capacidades
Para além de Pedro Nunes, participaram nesta primeira mesa António Marques, responsável da Comissão Técnica de Apoio à Requalificação das Urgências, Adalberto Campos Fernandes, presidente do CA do Centro Hospitalar de Lisboa Norte, Luís Ribeiro, presidente do CA da ULS do Norte Alentejano, e Joaquim Pinheiro, director clínico da ULS de Matosinhos.
Apenas António Marques passou ao lado do assunto das convenções, preferindo falar do trabalho da comissão a que presidiu, mas ressalvando que estava ali a título pessoal.
Já Adalberto Campos Fernandes não fugiu à questão, sublinhando que «a rede hospitalar tem capacidade instalada» e deve «esgotar essa capacidade», não havendo razão para que as unidades de meios auxiliares de diagnóstico de que dispõem só trabalhem parcialmente. Mas para isso, é necessário «autoridade e organização», palavras também muito ouvidas neste Fórum. No entender do médico e gestor, o projecto de legislação para o sector é necessário e deve receber aperfeiçoamentos, pois actualmente existe uma «confusão total». No entanto, considera que em caso de concurso, «o hospital não deve competir em causa própria».
Luís Ribeiro disse «seguir o caminho das pedras» já trilhado pela ULS de Matosinhos, uma vez que a ULS do Norte Alentejano, que dirige, tem apenas um ano. No entanto, o percurso é feito em moldes diferentes, apostando na articulação com os cuidados primários, cujos «colegas são uma tropa extraordinária».
Um pouco na linha do que já dissera Adalberto Campos Fernandes, o director clínico da ULS de Matosinhos, Joaquim Pinheiro, sustentou que «o SNS deve saturar a sua capacidade instalada e só depois recorrer às convenções». Quanto ao sucesso reconhecido daquela unidade, disse que «o segredo é a integração».
Tempo de Meicina 19.05.08

Comentário:
A VOZ do DONO
Adalberto Campos Fernandes, certíssimo. Sempre impecável, desde que Ana Jorge é ministra. Não ousar sair fora da burra, ou seja, já não há nada para os privados, como no tempo do camarada Correia de Campos.

3:29 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Caro Tá visto:

Claro que quem trabalha (ou trabalhou) no SNS, concorda com esta medida de contratualização interna, promovida pela Ministra.
Mas há aqui um problema de fundo que vai transitar para o futuro.
Este é um plano para resolver uma solução pontual, que mexe com a nossa concepção de Serviço universal e como foi dito de uma maneira infeliz - "o brio dos médicos"...

Os médicos não trabalham por brio (quando muito com brio), nem exercem por vocação.
Os médicos devem cumprir as responsabilidades técnicas e o desempenho com conheimento e qualidade e são técnicos que escolheram a profissão por discernimento e motivos nobres e outros (muitos) venais, fora de qualquer contexto de chamamento vocacional e revelador de misericórdia ou caritativo. Não estamos na Idade Média.
Devem (têm de) ser técnicos diferenciados, eficientes e competentes.

O fluxo normal de doentes com problemas oftalmológicos terá tendência em reproduzir este problema, nomeadamente em relação às cataratas, já que a esperança de vida se manterá mais ou menos estável (poderá haver uma discreta descida correlacionável com o aumento da incidência da diabetes).
É preciso ter em conta que as cataratas são situações degenerativas do cristalino comum cada vez mais precoces (a partir dos 40 anos).
Portanto, daqui a 1 ano, ou daqui a 2 anos, se não fizermos nada a situação será tendencialmente reprodutiva.
Vamos juntar mais 28 milhões de euros para tentar resolver o problema, ou vamos investir na prevenção deste problema arranjando soluções duradouras e consistentes. O problema de dar, ao carenciado, peixe para matar momentaneamente a fome ou uma cana de pesca e ensiná-lo a pescar...

Não aceito que a solução única e radical seja por os oftalmologistas a trabalhar mais, nem que essa questão tenha a exclusiva responsabilidade pela origem deste problema.
Quando as causas não estão totalmente descortinadas toca a atirar para cima do médico...
Parece-me estarmos perante uma situação crónica e progressiva em que o nº. de oftalmologistas disponíveis não basta.

É necessário tomar opções prévias sobre esta matéria a fim de evitar um novo acúmulo de > 100.000 doentes com a mesma patologia...

As intervenção das cataratas são técnicamente expeditas embora exijam alta diferenciação, nomeadamente em biometria e cirurgia ocular.
Constam essencialmente no implante, após facoemulseficação, de uma lente intra-ocular artificial colocada na posição original da lente natural removida.

Vamos precisar de um investimento básico em material consumível (1 ou 2 por doente) de lentes intra-oculares da ordem de 150.000 lentes ao preço unitário de cerca de 300€, i. e., 45 a 50.000.000 €. É necessário que se saiba que muitos Serviços (Hospitais) têm dívidas em atraso para os fornrcedores, muito longa (> 1 ano), que podem comprometer todo este projecto, por descontinuidade de fornecimento das lentes intra-oculares. É que sem "laranjas" não há circo.

A visão é restaurada com boa percepção periférica e de profundidade, com ampliação e distorção mínimas. As complicações são à volta dos 20 % , facilmente resolúveis e permitem um rápido regresso à actividade normal.

Não sabemos, não temos o levantamento, do conjunto das condições de produção em cada serviço, essencial para um planeamento minimamente aceitável a partir de uma estimativa média de afluxo que continuará a crescer já que os índices de exposição solar acompanham o desenvolvimento económico.

Senão, daqui a 2 anos, morre Fidel e continuam as excursões a Cuba…

Ou, então, como somos um País com uma Fundação especialmente dedicada à investigação (Fundação Champalimaud), esperemos que Leonor Beleza decida colocar-nos ao lado da Índia na investigação de soluções mais expeditas, fáceis e menos onerosas, para as “nossas” cataratas.

4:50 da tarde  
Blogger Tá visto said...

Para os Dr. Pedro Nunes e Germano de Sousa, o facto dos hospitais poderem concorrer em paridade com os outros operadores pode criar situações de incompatibilidade entre prescritor e prestador. Pois muito bem, se estão tão preocupados com os princípios éticos que devem nortear o exercício profissional, porque se opões às situações de incompatibilidade que podem resultar de a mesma pessoa poder exercer lugares de direcção no público e no privado? E vem o Dr. Germano de Sousa, que tem interesses e desempenha cargos aos mais diversos níveis dos cuidados de saúde, dar lições sobre incompatibilidades e falar em nome de princípios socialistas. Haja seriedade e respeito pela inteligência dos outros, o oportunismo tem limites.
É evidente que o SNS tem de optimizar recursos e só recorrer aos privados quando esgotada a sua capacidade de resposta. Estes senhores, que tanto gostam de falar no bom uso dos dinheiros públicos, em nada os preocupa que vultuosos investimentos pagos por todos nós estejam subaproveitados por falta de autoridade e organização como bem disse Adalberto Campos Ferreira. Se tivesse o jeito e a arte de Rafael Bordalo Pinheiro fazia-lhes um desenho.

7:33 da tarde  
Blogger Unknown said...

O apelidado "Plano de Choque para Oftalmologia" vem pôr a nu a incapacidade de sucessivas administrações e de sucessivos Ministérios para desregularem a situação vigente nos Hospitais, onde os médicos, gozando de indulgência e impunidade, controlam com mão férrea a "torneira" das primeiras consultas, controlando a actividade cirúrgica programada e adicional realizada em SICIG, mantendo os preços sobreaquecidos no mercado privado. Foi necessária a pressão exterior criada pelos Autarcas, que sem necessidade de “dar cavaco” à OM, decidiram começar a levar ou anunciar que levavam os seus munícipes a Cuba para lá serem tratados, demonstrando que num mundo globalizado era possível desregular o mercado controlado pelos médicos se deles não se dependesse ou se tivesse “medo”. E o mais engraçado disto tudo é que a “ideia” partiu de um Autarca do “reino dos Algarves” eleito nas listas do PSD. Mas como tudo isto se passava bem longe da capital do Império, poucos deram atenção ao assunto, a não ser através das ‘enes’tusiasmadas reportagens televisivas, não dando atenção ao facto de em Faro à administração ter sido possível pela primeira vez contratar uma equipa externa ao Hospital para recuperar “dentro do Hospital” a lista de espera cirúrgica fazendo depender a sua actividade cirúrgica da realização de primeiras consultas, mais de 100 cirurgias/100 primeiras consultas por mês realizadas desde Novembro de 2007 ou à criação de um CRI para Oftalmologia em Santa Maria. Passados meses, acabada a telenovela das urgências, mudado o Ministro, acabado o relatório da “Comissão Esperancinha”, a agenda foi de novo tomada pela Oftalmologia, com mais umas reportagens e uns artigos nos jornais, com a vinda de um Oftalmologista espanhol a um Hospital dos arrabaldes da capital, com o anúncio do Moita Flores que também iria enviar “idosos carenciados” a Cuba, o cerco começou a apertar a capital. Foi ver o mal-estar e a “indignação” da OM e dos oftalmologistas a crescer, http://jn.sapo.pt/2008/04/22/pais/doentes_rumam_a_cuba_ordem_indignada.html, investigações sobre médico cubano a praticar em Vila Real, http://www.correiomanha.pt/noticia.aspx?contentid=00276009-3333-3333-3333-000000276009&channelid=00000010-0000-0000-0000-000000000010, idas a Belém, a SPO e a OM a clamarem contra os autarcas e contra os atrasados dos oftalmologistas cubanos e a pedirem mais e mais convencionada, agora também para as consultas. Criado o momento de crise, decidiu o Governo e bem aproveitar esta oportunidade para "oferecer" a possibilidade de recuperar as listas de espera de consulta e cirurgia a preço de SIGIC, aos Hospitais do SNS que decidiram criar Centros de Elevado Desempenho, mas fazê-lo depender da realização de 2,5 primeiras consultas por cada cirurgia de catarata realizada e a aumentarem 10%, 20%, 30% a produção programada conforme estejam acima, na média ou abaixo da média nacional, foi vê-los a correr para as 30.000 cirurgias, a oferecerem os seus préstimos às zonas mais carenciadas. O mote está dado queiram agora as administrações hospitalares e os médicos finalmente entender que são possíveis mecanismos de contratualização interna que permitam tornar o SNS mais eficiente, eficaz e efectivo, permitindo aos profissionais remunerações dignas e socialmente aceitáveis.

9:18 da tarde  
Blogger O bem, o mal e... said...

Não é possível continuara agravar a actual situação...entre 1.500 euros e 30.000 não há política que justifique os salários pagos.
Premiar as áreas que têm listas de espera com incentivos só pode continuar a agravar o desconforto existente.
A avaliação dos Conselhos de Administração é cada vez mais premente. Eles têm sido coniventes com os poderes instalados das especialidades cirúrgicas, das técnicas e da medicina mediática das urgências, esquecendo o mundo das doenças crónicas e das rotinas que representam mais de 90% da actual prática médica!Porquê tanta autoridade para umas coisas e tão pouca para outras.
Porque não começar a pedir contas também aos Directores de Serviço? Serão inocentes neste processo? Já por várias vezes se tentou que pelo eles tivessem que optar...

9:48 da tarde  
Blogger O bem, o mal e... said...

Não é possível continuara agravar o leque de salários pagos...entre 1.500 euros e 30.000 não há política que o justifique.
Premiar as áreas que têm listas de espera com incentivos só pode agora agravar o desconforto existente. A avaliação dos Conselhos de Administração é cada vez mais premente. Eles têm sido coniventes com os poderes instalados das especialidades cirúrgicas, das técnicas e da medicina mediática das urgências, esquecendo o mundo das doenças crónicas e das rotinas que representam mais de 90% da actual prática médica!

9:49 da tarde  

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