Boas notícias
É claro que as "boas notícias" nunca são notícia, mesmo aqui no Saúde SA.
Os programas de recuperação de listas de espera cirúrgicas existem desde 1995, o SIGIC desde 2004, mas até aqui nunca se tinha resolvido o problema da melhoria de acesso às primeiras consultas.
O que sabemos do que está publicado, relatórios da IGAS, do TC e dos INS é que mais de metade das consultas da especialidade se fazem no privado, sem que as várias administrações, os vários administradores, alguns aqui comentadores, conseguissem alterar o quer que fosse. Isto é, a porta das primeiras consultas permaneceu fechada, com performances muito abaixo da capacidade instalada. Foi necessário vir alguém de fora do sistema para o desregular pela primeira vez a favor dos cidadãos e a favor do SNS. Com algum "populismo" à mistura. Mas se não fosse esta entidade a colocar pressão sobre os oftalmologistas, tudo continuaria como sempre. Ou seja, dispúnhamos de um mecanismo de recuperação, o SIGIC, mas os interessados continuariam a empurrar os doentes para o sector privado onde se cobram valores entre 1.500 a 2.000 euros por catarata, dependendo da região e do "artista".
Foi necessário ao que sei, no caso de Faro, que alguém se enchesse de brios em defesa dos seus conterrâneos (esteve fora muitos anos), propondo ao Hospital Faro, a recuperação da lista de espera com os recursos do Hospital, a preços de SIGIC, mas com uma pequena "nuance" negociada em boa-hora pelo CA daquele Hospital: a obrigação da equipa de efectuar por cada cirurgia uma primeira consulta, ou seja, em números redondos, 100 cirurgias + 100 consultas por mês.
A pressão subsequente com mais idas a Cuba, com a vinda do Oftalmologista espanhol ao Barreiro e a chegada do acordo com os cubanos às portas de Lisboa, permitiu criar condições para o PIO, e para a aceitação por parte dos oftalmologistas de realizarem 2,5 primeiras consultas por cada cirurgia.
No entanto, há quem diga que estas não são boas notícias, que se premeia o infractor. É pena que continuemos a discutir patranhas do Governo, práticas internacionais, a falência do sistema (mas alguma vez foi diferente? Então o nosso sistema não foi sempre misto de financiamento e prestação, alguma vez as consultas da especialidade foram feitas na sua maioria no sistema público?), em vez de nos concentrarmo-nos nesta oportunidade e mantermos a pressão sobre o governo, as administrações e os médicos e exigirmos os mesmos objectivos, por exemplo, para a Ortopedia, e, sobretudo, não nos esquecermos das pessoas, no caso dos muitos milhares que passaram a ver. Esses não querem saber das patranhas do Governo, das boas práticas internacionais ou da falência do sistema, sabem que foram operados num Hospital público e serão aliados para a defesa do SNS. Que os princípios não nos ceguem!
Avicena
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